Aves nativas: algumas espécies brasileiras mostram grande aptidão para o treinamento

A vida do falcoeiro Gustavo Trainini não é moleza. Todos os dias ele trabalha cinco horas por dia com as suas aves, alguns falcões brasileiros submetidos a um divertido treinamento. Com um instinto muito apurado, esses animais podem se tornar grandes companheiros dos seres humanos e até mesmo ajudar na lida da fazenda.

Ainda sem uma regulamentação para a atividade no Brasil, a falcoaria dá seus primeiros passos, ou melhor, voos. Até pouco tempo atrás, o Ibama não enxergava a modalidade com bons olhos, embora a venda desses pássaros seja permitida, desde que oriundos de criatórios oficiais.

Um falcão custa em média R$ 3 mil e sua manutenção dependerá da construção de um viveiro adequado, que dependerá do local e da disposição financeira de seu novo dono. Até mesmo o treinamento é rápido e em três meses os primeiros voos livres já podem ser verificados.

O difícil, mesmo, é ter tempo para treinar o bicho, conforme explica Trainini. Não é à toa que são necessárias quase cinco horas diárias de contato. O braço do dono faz as vezes de “galho” e é para este lugar que o pássaro voltará após os seus voos.

Atualmente, a falcoaria possuiu três pilares bem definidos no Brasil. O primeiro acontece em aeroportos em que os falcões fazem o controle de outros tipos de aves, que podem causar acidentes aéreos.

Gustavo Trainini fez do hobby um negócio e agora ele montou uma empresa que treina falcões para o controle de aves em aeroportos

“Quando soltamos o animal, ele caça outras aves que entendem existir predadores na região”, explica. Para cada ave capturada, outras 100 são espantadas. “Em pouco tempo não há mais pássaros na região”, diz. O mesmo trabalho é feito em fazendas, no controle de pombos em silos e armazéns.

“Os pombos são considerados ratos de asas e trazem muitos problemas. Com a ajuda dos falcões é possível manter os níveis de infestação sob controle e sem ter de matar nenhum animal”, comenta Trainini.

Com o tempo e treinamento, esses pequenos guerreiros alados aprendem a caçar e a trazer sua caça aos donos. “Nosso trabalho é conduzi- los para locais apropriados, como outros criatórios”, justifica. Como esporte, a falcoaria ainda é proibida e apenas simulações acontecem.

Desde 2002, o Ibama analisa um projeto que visa regulamentar a atividade, conforme explica Guilherme Queiroz, presidente da Associação Brasileira de Falcoeiros e Preservação de Aves de Rapina. Ele é um dos precursores da atividade no País – na Europa ela já tem mais de três mil anos.

No cinema, alguns filmes fizeram história pelas belas cenas envolvendo homens e pássaros. Um deles é “O feitiço de Áquila”, longametragem que lançou ao estrelato a atriz americana Michelle Pfeiffer. No País, surgem algumas associações regionais. Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul já possuem as suas.

“Aqui no Brasil temos algumas espécies diferentes das da Europa e dos Estados Unidos e que podem até ser mais bem adaptadas à falcoaria”, explica Queiroz. Segundo ele, qualquer um pode ter um falcão. “Mas, se vai conseguir fazer com que ele voe, isso é uma outra história”, brinca.

A prática também pode virar negócio, conforme explica Trainini. Para unir o útil ao agradável, ele abriu uma empresa especializada no treinamento dessas aves e tem divulgado o trabalho de controle em aeroportos. “É uma forma de fazer o que eu gosto e ainda ganhar dinheiro com isso”, afirma.

Como ele conseguiu viver até agora? O falcoeiro é atleta profissional e integrou a equipe brasileira de arco e flecha nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. Se conseguir fazer com que a falcoaria emplaque no Brasil, será sem dúvida um tiro na mosca

R$ 3 mil é o preço médio de um falcão totalmente legalizado pelo ibama

A falcoaria moderna

Em maio do ano passado, o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre (RS), apresentou um projeto à Infraero para a utilização de 11 falcões no controle de aves nas imediações.

Segundo a responsável pelo projeto, Lia Segaglio de Figueiredo, o uso de falcões “faz parte de ações imprescindíveis no sentido de prevenir incidentes relacionados às aves que podem se chocar contra aviões”.

O método da falcoaria é utilizado em outros países americanos, como Argentina, Uruguai, Peru, México, Estados Unidos e Canadá. Na Europa, o método é aplicado desde a década de 1960. No Brasil, espera-se uma resposta breve por parte do Ibama, responsável por regulamentar o esporte. “A atividade é totalmente preservacionista e já provamos isso”, explica Trainini.