Alvo constante de protestos por parte dos ambientalistas, os Estados Unidos querem deixar a fama de inimigos da natureza para trás. Não que o país vá deixar de ser o maior poluidor global. Afinal, não é de um dia para o outro que se deixa de emitir 16% de todo o carbono gerado no mundo. A novidade é que, após anos de recusa, os norte-americanos devem finalmente assinar o Protocolo de Kyoto e se comprometer a reduzir suas emissões em pelo menos 5% nos próximos anos. A decisão, que depende única e exclusivamente da assinatura do presidente Barack Obama, pode dar ainda mais fôlego ao já promissor mercado de crédito de carbono e gerar receitas trilionárias ao setor.

O processo está bem encaminhado. Obama já criou até um departamento responsável pelas questões climáticas na Casa Branca e vem encarando o novo acordo, que substituirá o Protocolo de Kyoto e passará a valer a partir de 2012, como prioridade. Liderada por Todd Stern, braço direito do presidente dos EUA para “questões verdes”, a comitiva norte-americana esteve reunida com representantes de outros 175 países para discutir as bases do novo acordo. E as perspectivas são as mais otimistas. “Queremos recuperar o tempo perdido. Reconhecemos nossa responsabilidade como maior emissor de gases que provocam o efeito estufa, o que criou um problema que ameaça o mundo todo”, disse Stern durante a reunião.

A ideia de Obama é colocar em prática um projeto de US$ 3,6 trilhões até 2010 para a captação e venda de carbono. Desta forma, empresas poluidoras e emissoras poderiam comprar e vender seus créditos no mercado. O que soa como uma boa notícia para o planeta pode na verdade ser melhor ainda para o Brasil, um dos maiores emissores de créditos de carbono do mundo – atrás apenas da Índia e da China. De acordo com um relatório recente do Banco Mundial, o mercado de carbono no Brasil já atinge os US$ 13 bilhões ao ano, mas ainda tem um potencial enorme de crescimento.

De olho nisso, muitas empresas já vêm se movimentando. A Rhodia, por exemplo, apostou em projetos de redução de óxido nitroso, gás proveniente dos processos químicos de suas indústrias, e vem faturando alto com isso. Apenas no ano passado, a companhia recebeu cerca de US$ 5 bilhões com a venda de 500 milhões de créditos de carbono. Com a abertura do mercado norte-americano, pode faturar ainda mais. “Se os Estados Unidos se comprometerem de fato com as questões climáticas e permitirem que o carbono venha de outros lugares, o Brasil deve se beneficiar”, afirma Flavio Gazani, presidente da Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Carbono.

Segundo Gazani, as empresas do agronegócio também têm muito a ganhar com a adesão dos norte-americanos, uma vez que são responsáveis por 25% das emissões brasileiras, principalmente por meio de seus resíduos, como casca de arroz, bagaço de cana e biogás produzido pela suinocultura e ovinocultura. O setor, no entanto, possui 43% de todos os projetos de desenvolvimento limpo em andamento no País. O mecanismo, conhecido como MDL permite gerar e vender créditos para os países desenvolvidos. Agora, para que tudo dê certo, só falta o “ok” de Obama.