A face mais visível do agronegócio é a de sua produção agrícola e pecuária. No entanto, esse setor essencial para a economia brasileira vai muito além do plantar e do colher. É um cliente preferencial para bancos, seguradoras e instituições de ensino e pesquisa. Uma pesquisa de opinião realizada entre as inscritas no Prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL revelou quem são as instituições financeiras e as entidades mais importantes para o agronegócio, na visão das empresas inscritas. Confira as mais citadas, em percentual das respostas válidas.

 

Organizações de Classe

A votação para a aprovação do Novo Código Florestal arrastou-se no Congresso por 12 anos, até sua aprovação tumultuada no ano passado, passando por inúmeras revisões de texto e até um veto parcial da presidenta Dilma Rousseff. Na defesa dos interesses do agronegócio estava a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), presidenta da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). A atuação dessa psicóloga, primeira mulher a presidir uma entidade superior da agricultura, garantiu à CNA a preferência dos entrevistados sobre qual a associação de classe mais representativa. A CNA comanda as 27 Federações de agricultura em cada estado, além de representar 2.300 sindicatos patronais em todo o Brasil e 1,7 milhões de trabalhadores rurais que aderiram voluntariamente ao sistema CNA.

Finanças

O Banco do Brasil( BB) é sinônimo de crédito rural. Até um passado bem recente, o BB financiava a produção enquanto a maior parte dos bancos privados queria distância dos empresários do setor. Baseada em sua experiência e por décadas de proximidade com o setor, a instituição aparece na liderança isolada da preferência dos empresários do agronegócio (veja quadro na pág. 102). Ao divulgar seus resultados do terceiro trimestre em meados de novembro, o banco informou que a carteira de empréstimos ao agronegócio estava em R$ 130 bilhões. Os desembolsos atingiram R$ 39,4 bilhões no trimestre, um crescimento de 43,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Ao mesmo tempo, o banco estatal mantém a meta de disponibilizar R$ 70 bilhões no plano-safra 2013-2104. Segundo Osmar Dias, vice-presidente de agronegócios e micro e pequenas empresas do BB, o banco detém 66% do mercado. “Isso nos torna não apenas o maior banco a financiar o agronegócio no Brasil, mas também faz do BB o maior banco do mundo em empréstimos ao setor”, afirma Dias.

Nada mau para um negócio que começou com recursos dos depósitos compulsórios destinados obrigatoriamente aos agricultores, com um histórico de pagamento irregular como as safras da lavoura de antigamente. As taxas continuam fixas. Os grandes produtores, com um faturamento anual estimado em mais de R$ 800 mil, pagam 5,5% de juros ao ano, pouco mais da metade da taxa Selic corrente. Os produtores menores pagam ainda menos, 4,5% ao ano. “E estamos lançando linhas ainda mais baratas”, diz o executivo.

Segundo Dias, o BB está colocando na praça linhas de crédito dedicadas a financiar a modernização da produção rural. Uma delas destina-se a financiar a automação na avicultura, na suinocultura e na pecuária leiteira. “Essas atividades são muito  importantes na complementação de renda do pequeno produtor”, afirma Dias. Os juros são de 3,5% ao ano e o prazo é longo, de dez anos, com uma carência de três. Outra das novas linhas em preparação pelo banco destina-se a financiar a expansão da armazenagem de grãos, sempre um gargalo na hora da safra. “Essa linha tem um prazo ainda mais longo, os empréstimos vão até 15 anos”, afirma Dias.

ONGs

Fundada em 1951 por um grupo de cientistas americanos, a Organização Não Governamental The Nature Conservancy opera em mais de 35 países. É uma das maiores e mais tradicionais ONGs dedicadas à defesa do meio ambiente. Em geral, a relação entre ambientalistas e produtores rurais é tensa. No entanto, os entrevistados consideraram a TNC a organização mais bem-conceituada. Qual a receita? “Procuramos chamar todas as partes, produtores rurais, sindicalistas, ambientalistas e governo, reunir todos em uma mesma mesa e discutir os projetos com foco nas convergências, e não nas divergências”, diz o economista João Campari, presidente da TNC do Brasil.

Educação

Localizada em Piracicaba, a 164 quilômetros da capital paulista, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiros, mais conhecida por sua sigla Esalq, é a instituição de ensino mais bem conceituada para as empresas pesquisadas.

Segundo José Vicente Caixeta Filho, diretor da Esalq, o campus já formou mais de 13 mil agrônomos, sem contar as dezenas de milhares de profissionais ligados aos outros seis cursos, que englobam engenharia florestal e de alimentos, gestão ambiental, economia e administração. Caixeta diz que, no início de novembro, o conselho acadêmico aprovou a criação de dois novos cursos, estatística e zootecnia, que deverão começar a ser oferecidos a partir de 2014. “Conversamos com as empresas para saber o que precisávamos ensinar aos profissionais que elas pretendiam contratar”, diz ele. “Finanças, marketing e logística são essenciais para quem quer fazer carreira no setor”, diz.

Seguros

Assim como o Banco do Brasil é sinônimo de crédito rural, a BB Mapfre, jointventure entre o banco e a seguradora espanhola Mapfre é o nome mais lembrado quando o assunto é proteger a produção das incertezas do clima e dos mercados. “Respondemos por 70% do mercado de seguro rural”, diz Luís Carlos Guedes Pinto, ex-ministro da Agricultura no governo Lula e diretor de Seguros Rurais do BB Mapfre.

O uso dos seguros no campo ainda é restrito. Segundo Guedes, a estimativa do Ministério da Agricultura para a atual safra é de uma produção de R$ 285 bilhões. Desse total, os seguros cobrem apenas R$ 12,5 bilhões, pouco mais de 4% do total. Essa timidez deve-se a dois motivos. O primeiro, é o pouco tempo de existência no mercado desse produto. O precursor dessa modalidade, o Proagro, foi estruturado em 1973, mas apenas como um seguro contra a inadimplência para os produtores que contraíam empréstimos rurais. “O seguro como o conhecemos hoje só foi aprovado  em 2003 e começou a ser distribuído em 2006”, diz Guedes.

O segundo motivo é a característica extremamente arriscada desse produto. “Todo segurador sabe que, em média, há 1.200 comunicados referentes a problemas com automóveis todos os dias, mas, no caso da agricultura, uma seca pode quebrar milhares de produtores em dezenas de municípios.” Esse risco mais elevado, o do chamado dano catastrófico, faz com que o seguro rural dependa de recursos estatais. Para estimular os agricultores a usar esse produto, de 40% a 60% do valor do prêmio são pagos pelo Estado.