Com criatividade, empresários e acadêmicos se transformam em inventores e criam soluções lucrativas e práticas para os mais diferentes segmentos do agronegócio

 

Eles não usam jalecos brancos nem vivem enfurnados em laboratórios, rodeados de fórmulas com nomes estranhos. Em comum com os personagens das histórias em quadrinhos, eles têm a vontade de criar soluções que facilitem o dia a dia de quem trabalha no campo. Em busca desses “professores Pardais”, muitas empresas organizam concursos e premiações, a fim de incentivar o desenvolvimento de novas tecnologias. Quem aposta há 28 anos na iniciativa é a Gerdau, que só neste ano avaliou 515 projetos na América do Sul e escolheu cinco deles como vencedores do Prêmio Gerdau Melhores da Terra 2010. “Queremos incentivar a evolução tecnológica e a preservação ambiental”, declarou Cláudio Gerdau Johannpeter, diretor-geral de operações da Gerdau, durante a premiação. “Hoje é a cadeia do agronegócio que mais investe em pesquisa e biotecnologia”, explicou Luiz Fernando Coelho de Souza, coordenador da comissão julgadora.

Uma das inovações apresentadas na premiação deste ano foi a máquina de limpeza e desinfecção de ovos férteis, com capacidade para 200 mil ovos por dia, da catarinense Fornari Indústria. “Vimos que havia uma necessidade de mercado e apostamos”, afirmou Luciane Fornari, gerente da empresa, que já vendeu cerca de 50 unidades, inclusive para a Europa e os Estados Unidos. A máquina funciona à base de água e cloro. O custo varia entre R$ 38 mil e R$ 45 mil, dependendo da região. Segundo ela, a tecnologia é inédita no mercado e permite adaptações para a limpeza de frutas e verduras. As adaptações chamaram a atenção da rede varejista, tanto que o grupo Pão de Açúcar está negociando com a empresa a venda de um equipamento para limpeza de hortaliças. “É nisso que apostamos, em soluções inteligentes que melhorem a produção”, disse Souza, da Gerdau. Quando o assunto é criatividade, João Lamas tem experiência. Desde 1992, ele vem estudando componentes até chegar ao Tarran 3000, equipamento que faz pulverização terrestre do arroz com alta precisão. “A pesquisa resultou em uma série de 18 itens para a máquina”, revelou.

Os projetos chamam a atenção de grandes empresas, como o Pão de Açúcar, interessado na nova máquina da fornari

 

Com criatividade, empresários e acadêmicos se transformam em inventores e criam soluções lucrativas e práticas para os mais diferentes segmentos do agronegócio

Em total sinergia, dois outros projetos oferecem soluções para as lavouras de café. Entre eles a carreta adubadora NPK 2000, lançada pela Jacto no início deste ano por R$ 50 mil. Segundo Robson Cardoso Zófoli, diretor comercial global da empresa, o equipamento oferece rápido retorno ao produtor graças à redução de custos que proporciona ao economizar adubo. “Ela vem para otimizar o trabalho nos cafezais”, destaca. Outro projeto para a lavoura do café vem da Universidade Federal de Uberlândia (MG) e auxilia na aplicação de defensivos. Acoplada ao pulverizador, a peça possibilita aplicação com menor custo e mais segurança aos funcionários. “Ideal para o pequeno e o grande agricultor”, avaliou João Paulo Cunha, um dos responsáveis pelo projeto.

Em Itu (SP), o consultor de imóveis Eduardo Coelho criou uma solução simples e barata para otimizar o uso da roda d’água e evitar desperdício em sua propriedade rural. Trata-se de um sistema que direciona a bica e a faz liberar água ou contê-la com o uso de pesos, feitos com dois baldes, um cheio de pedras e outro que se enche de água. “Não gastamos mais que R$ 30 reais para criar o aparato”, contou o inventor, que revela ter sido procurado por mais de mil produtores após ser um dos vencedores do Concurso Inventor Rural, realizado durante a Agrifam deste ano. E, por falar em água, um grupo da Universidade Federal do Ceará desenvolveu um software para pivô de irrigação que monitora a umidade da terra e indica a quantidade ideal de água.

“Proporciona redução de custos e maior rendimento das plantações”, argumentou Tadeu Cruz, engenheiro agrônomo e pesquisador. São essas pequenas ideias que geram grandes frutos para o setor. Souza comemora a diversidade de projetos: “Isso é a prova de que a academia e o mercado podem sim interagir e gerar bons frutos para o agronegócio.”