O consumidor que chega à seção de ovos do supermercado se depara com mais opções do que escolher entre os brancos ou vermelhos. São oferecidas também opções de ovos orgânicos, caipiras, ‘galinhas felizes’ ou ‘cage-free/livre de gaiolas’.

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Mas afinal, ‘orgânicos’ são a mesma coisa que ‘caipira’? ‘Caipira’ significa ‘galinhas felizes’? Quais os critérios para essas classificações?

A principal diferença está na alimentação das galinhas. No tipo orgânico, as aves são alimentadas com ração a base de matérias-primas orgânicas e o espaçamento de piquete – um tipo de cercado na criação de aves – é maior quando comparado com o caipira. Ou seja, as galinhas são criadas mais ‘soltas’, não confinadas, mas o principal critério é a alimentação. Não basta a criação da galinha livre.

A classificação como orgânico é definida até mesmo por normas técnicas, com legislação e instruções normativas do Ministério da Agricultura e Pecuária – Mapa, e exige certificação: as aves precisam ser criadas segundo regras de produção orgânica, com alimentação exclusivamente de insumos orgânicos, sem agrotóxicos, sem ingredientes proibidos, têm restrições quanto a medicamentos e aditivos, normas de bem-estar específicas e rastreabilidade. A produção passa por auditoria por certificadora credenciada.

No caso dos orgânicos, medicamentos de uso convencional são restritos e os tratamentos só são permitidos em situações específicas. Também existe preferência por práticas de prevenção (manejo, nutrição) e pela utilização, quando autorizado, de fitoterápicos e insumos permitidos pela regulamentação. A propriedade passa por auditorias de certificadoras credenciadas pelo Mapa, há exigência de registros (origem das matrizes, alimentação, tratamentos, venda) e controle de rastreabilidade.

Já o ovo caipira (também chamado de colonial) é produzido em um sistema em que as aves são de linhagens rústicas, com acesso à ambiente externo, maior liberdade de movimento e dieta que inclui ração e outros itens da propriedade.

Não existe uma norma nacional que padronize “caipira” como é feito para orgânicos. Muitas vezes o termo está ligado ao manejo e à percepção do consumidor, não só à composição da ração, explica a professora da Faculdade Una com especialização em nutrição de galinhas poedeiras, Brenda Carla Luquetti.

Quais são as diferenças para o consumidor?

Por vezes há mudanças na casca e na gema. Elas são afetadas por vários fatores como a genética da ave, idade, nutrição (pigmentos como xantofilas e carotenoides), manejo e condições ambientais. Em alguns casos, ovos orgânicos ou de sistema de livre-pasto apresentam gemas mais alaranjadas quando a dieta inclui forragem ou ingredientes ricos em pigmentos naturais, mas isso não é regra.

Quanto à firmeza da casca, está mais relacionada ao consumo de cálcio, vitamina D, genética e idade, então nem sempre o ovo orgânico tem casca mais forte. Então, as gemas mais alaranjadas e casca mais firme podem ocorrer em sistemas orgânicos devido à dieta e genética, mas não têm uma relação direta.

Mas o que realmente muda é o preço, ovos orgânicos e ovos de sistemas alternativos (caipira, cage-free ou galinhas criadas livres de gaiolas) costumam ter preço superior ao ovo convencional de granja industrial por várias razões: custo mais alto da ração orgânica, menor densidade de aves, custos com certificação, menor produtividade por ave em alguns sistemas e logística.

No Brasil o diferencial de preço pode variar bastante segundo região, escala de produção e canal de vendas. Podem-se encontrar preços 50% a 200% superiores ao ovo convencional, dependendo do produto (orgânico com selo pode estar na faixa mais alta).

Vídeo: por que galinhas põe ovos de tamanhos diferentes? 

Consumo de ovos no Brasil

Em 2025 o consumo de ovos no Brasil deve atingir um volume recorde. De acordo com projeções da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o brasileiro deverá consumir em média 288 unidades de ovos, 7% a mais do que no ano passado.

Especialistas atribuem esse crescimento a novos hábitos da população, que tem preferido alimentos mais saudáveis, e com isso, não só os ovos ganham mercado como os ovos orgânicos.

Estimativas da Allied Market Research apontam que o setor deve movimentar aproximadamente US$ 10 bilhões até 2030. André Carvalho, diretor de Marketing e Inovação da Mantiqueira Brasil, uma das maiores produtoras de ovos do país, explicou em entrevista à Dinheiro Rural que nos últimos anos o perfil do consumidor mudou significativamente.

“Hoje ele está mais consciente, exigente e conectado a valores relacionados à sustentabilidade, saúde, qualidade de vida e bem-estar animal. Esse movimento tem impulsionado a demanda por produtos que atendam a esses critérios, estimulando as empresas a inovarem, ampliarem sua oferta e reforçarem práticas responsáveis em toda a cadeia produtiva”, aponta Carvalho.

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Frango (Crédito: Freepik) (Crédito:Divulgação)

*Estagiário sob supervisão