tradição: há séculos o queijo é feito de forma artesanal por pastores da região central de Portugal

Em meio à cadeia montanhosa no centro de Portugal estão localizadas 16 pequenas cidades, onde a produção rural e o pastoreio de ruminantes são as principais atividades dos moradores. Chamada de Serra da Estrela, a área abriga a montanha mais alta do país, com 1.993 metros de altitude. Todos os anos, turistas de várias partes do mundo se dispõem a conhecer a região repleta de hospitalidade, ar puro e uma calma capaz de tranquilizar o mais agitado dos urbanoides. Mas o que mais encanta esses viajantes é o queijo Serra da Estrela.

Considerado requintado e cobiçado por amantes da alta gastronomia mundial, o queijo produzido de forma artesanal vem conquistando paladares exigentes há séculos. Até Gil Vicente, dramaturgo português que teria vivido entre 1465 e 1536, rendeu homenagens às maravilhas que o sabor do queijo proporcionava. Em verso de sua tragicomédia pastoril batizada com o nome do lugar ele escreve: “Quinhentos queijos recentes/ todos feitos à candea.” Na história, a produção do Serra da Estrela seria enviada como presente ao rei de Portugal, dom João III, pelo nascimento de sua filha.

 

De lá para cá, a maneira de produzir a iguaria continua a mesma. O queijo é feito com leite de ovelhas bordaleiras, uma raça tipicamente portuguesa. A matéria-prima dá ao produto final um paladar encorpado, marcante e saboroso.

O toque definitivo está no coalho do leite, que é feito com a flor do cardo, uma planta característica da região. Ao todo, são necessários 60 dias para que ele “cure” e esteja pronto para o consumo. Para quem quiser experimentar a iguaria no Brasil, um aviso: o preço é salgado, quase proibitivo. O Serra da Estrela só é vendido em embalagens de 900 gramas, que custam entre R$ 400 e R$ 500. “O preço se justifica porque é um produto artesanal, com pouca produção e extremamente delicado”, diz Luciano Caridade, diretor comercial da AllFood, uma das importadoras locais do produto. Um similar, conhecido como Serrinha, pode ser encontrado por um valor até 70% mais baixo, já que além de ser vendido em embalagens de 500 gramas, não tem o selo de Denominação de Origem Protegida (DOP) que o Serra da Estrela possui. A AllFood importa da conceituada Casa Matias, que fica na região de Carragosela – Concelho de Seia. Além disso, por ser artesanal, o Ministério da Agricultura brasileiro autoriza a entrada desse produto vindo de pouquíssimas propriedades que atendem às normas de produção. E a disponibilidade está restrita a algumas delicatesses e restaurantes especializados em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

 

 

Um desses restaurantes é O Pote do Rei, no bairro de Pinheiros, na zona oeste da capital paulista. A proprietária, Mônica Freitas, é filha de pai português e desde pequena ouvia histórias sobre as maravilhas do Serra da Estrela. Assim, durante os 30 anos em que viveu em Portugal, pôde degustar o queijo e se apaixonou por ele. “Ele é único, não existe nada igual”, conta. A paixão foi tamanha que Mônica decidiu incluir o produto no cardápio de seu restaurante. Uma porção que varia entre 60 e 75 gramas custa, em média, R$ 60. Mônica alerta que o produto precisa ser manuseado com delicadeza e servido em temperatura ambiente, acompanhado de torradas leves e um bom vinho do Porto. “É a combinação perfeita, a melhor maneira de apreciar o sabor do queijo”, diz.

 

para poucos:

Mônica Freitas trouxe o sabor do Serra da Estrela para o seu restaurante em São Paulo

Outro lugar onde é possível degustá-lo é no Caseus, no bairro paulistano de Higienópolis. O local é dividido entre um requintado restaurante e uma loja repleta de queijos e vinhos selecionados, que figuram no hall dos mais cobiçados do mundo. Ali, o Serra da Estrela está entre os destaques da seleção. Segundo seu proprietário, Luciano Furquim, a intenção é levar um pouco mais de cultura gastronômica aos clientes e apresentá-los a produtos de primeira qualidade. No local, o Serra da Estrela é servido ao natural, em pedra de ardósia francesa, geralmente inteiro, para quatro pessoas. Em média, sai a R$ 90 por cliente. A casca, mais rígida que o miolo, pode receber uma porção de risoto e presentear os amantes da boa mesa com um prato saboroso. Ao fechar os olhos e sentir o aroma indefectível do prato, é quase possível transportar- se para as geladas montanhas cravadas no interior de Portugal.

 

Para se deliciar por aqui

Encontre um pedacinho de Portugal em cantinhos brasileiros especializados

Antiquarius

Rua Aristides Espíndola, 19 – Leblon, Rio de Janeiro (21) 2294-1049 www.antiquarius. com.br

Royal Empório

Rua Ouro Fino, 452 – lojas 4 e 5, Mercado Distrital do Cruzeiro, Belo Horizonte (31) 3223-3477

Caseus

Rua Alagoas, 475 – Higienópolis, São Paulo (11) 3897-5000 www.caseus.com. br

O Pote do Rei

Rua Joaquim Antunes, 224 – Pinheiros, São Paulo (11) 3068-9888 www.opotedorei. com.br

Armazém Pessoa

Avenida das Américas, 7.777 – loja 321 (Rio Design Barra) – Barra da Tijuca, Rio de Janeiro (21) 3411-0397