A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, afirmou nesta quinta-feira, 4, existir um “crescente risco” de que o mundo possa se dividir em blocos econômicos rivais. Ela mencionou o problema durante uma palestra, no Fórum Econômico de Bruxelas, e alertou para o fato de que isso poderia pesar ainda mais na economia global.

Georgieva diz que a potencial fragmentação “seria ruim para todos, inclusive para as pessoas na Europa”. Para a autoridade, este risco é crescente, em um contexto de crescimento global fraco para os padrões históricos, no curto e no médio prazos. “Nós projetamos que o crescimento global ficará em cerca de 3% ao longo dos próximos cinco anos, nossa projeção de médio prazo mais baixa desde 1990”, recorda.

Segundo Georgieva, o aperto monetário em andamento para conter a inflação pesa no crescimento “e expõe algumas vulnerabilidades financeiras”. Sobre a União Europeia, ela vê nos países do bloco os mesmo desafios da maioria das economias avançadas: “desaceleração no crescimento e inflação ainda elevada”.

Ao mesmo tempo, a diretora-gerente do FMI elogia a “resiliência” da Europa, ao lembrar que projeções recentes eram bem piores, no contexto da guerra da Rússia na Ucrânia. Georgieva ainda diz que o sistema bancário europeu entrou no ciclo de aperto da política monetária com “colchões sólidos”, mas acrescenta que não se pode ser complacente, defendendo que se enfrentem desafios de longo prazo, na demografia, na produtividade e na inclusão.

Georgieva defende um esforço para aumentar a produtividade e as oportunidades para todos, com investimento em pessoal, tecnologia e inovação. Também destaca a importância de que empresas que crescem rápido na UE tenham acesso a capital suficiente. “Acelerar o plano da União de Mercados de Capital da Comissão Europeia ajudaria a lidar com essas barreiras”, diz, comentando que muitas vezes o bloco há bolsões de capital fragmentados em linhas nacionais.

A diretora-gerente do FMI ainda elogia avanços da Europa para reduzir emissões de gás, mas acrescenta que cumprir as metas de redução de gases estufa pela UE pode ser uma tarefa difícil, diante das dificuldades e do fato de que são necessários anos para construir estruturas de captação de energia eólica ou solar.

Georgieva ainda faz um alerta para os problemas em cadeias de produção, com a pandemia e a guerra na Ucrânia. O fato de que nações buscam reforçar cadeias com aliados (“friend-shoring”) acaba por levar a uma tendência de um mundo mais fragmentado, “com custos econômicos reais”.

Pesquisa do FMI aponta que a fragmentação no comércio poderia custar até 7% do PIB global no longo prazo, quase o equivalente ao PIB anual de Alemanha e Japão, alerta Georgieva. Se um desacoplamento tecnológico for acrescido a isso, alguns países podem ter perda de até 12% do PIB, reforça ela em seu discurso.