O comércio varejista registrou um desempenho ruim em novembro, e as expectativas para as vendas da Black Friday acabaram frustradas, avaliou Cristiano Santos, gerente da Pesquisa Mensal de Comércio, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O volume vendido recuou 0,6% em novembro ante outubro de 2022. No varejo ampliado, que inclui os segmentos de veículos e material de construção, também houve perda de 0,6%.

“Foi um novembro ruim, lembrando que a Black Friday tem uma expectativa, e essa expectativa não se confirmou”, disse Santos.

Seis das oito atividades que integram o comércio varejista registraram recuos nas vendas em novembro ante outubro de 2022: Combustíveis e lubrificantes (-5,4%), Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-3,4%), Livros, jornais, revistas e papelaria (-2,7%), Tecidos, vestuário e calçados (-0,8%), Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,3%), e Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,2%). Na direção oposta, houve expansão em Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (1,7%) e Móveis e eletrodomésticos (2,2%).

Segundo Santos, a inflação de alimentos reduziu o desempenho de supermercados. O setor de combustíveis também foi afetado pela elevação de preços, mas também houve redução de consumo, a receita nominal encolheu, disse o pesquisador do IBGE.

No comércio varejista ampliado, veículos registraram alta de 0,4%, enquanto Material de construção cresceu 3,0%.

Na comparação entre novembro de 2022 e novembro de 2021, o comércio varejista teve um crescimento de 1,5%, mas o varejo ampliado encolheu 1,4%.

Segundo Santos, os varejistas que aderiram à Black Friday até conseguiram registrar crescimento nas vendas ou reduzir a magnitude das perdas, mas o saldo geral foi negativo ante novembro de 2021 em quatro das sete atividades que costumam aderir à campanha de liquidações.

“A Black Friday não foi tão boa no ano passado (em 2021), esse ano (2022) conseguiu jogar um pouquinho mais para baixo”, resumiu o gerente do IBGE.

Cristiano Santos explicou que o fraco desempenho da Black Friday foi consequência de fatores como inflação, falta de expansão nas concessões de crédito e estabilidade da massa de renda, inclusive de programas assistenciais como o Auxílio Brasil.

“Ele (Auxílio Brasil) teve influência mais pro mês de agosto, principalmente setembro, mas depois teve estabilidade. Então não tem rendimento extra adicional que vá fazer com que cresça (o consumo)”, explicou Santos.

O volume de vendas do varejo chegou a novembro em patamar 2,6% acima do nível de fevereiro de 2020, no pré-pandemia. No varejo ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, as vendas operam 1,6% abaixo do pré-covid.

Apenas os segmentos de artigos farmacêuticos, combustíveis e supermercados estão operando acima do patamar pré-crise sanitária: farmacêuticos operam 22,4% acima do pré-covid; combustíveis e lubrificantes, 12% acima; e supermercados, 4% acima.

Os veículos estão 9,3% aquém do nível de fevereiro de 2020; material de construção, 0,6% aquém; móveis e eletrodomésticos, 11,7% abaixo; vestuário, 24,1% abaixo; equipamentos de informática e comunicação, 12,9% abaixo; outros artigos de uso pessoal e domésticos, 3% abaixo; e livros e papelaria, 37,6% abaixo.

Santos confirmou que o bom desempenho concentrado apenas em atividades essenciais mostra que as famílias estão direcionando renda para consumo de bens essenciais.

“Esse é um componente que é muito forte, essa alocação de recursos em bens essenciais, entre eles farmacêuticos e supermercados, nas famílias de baixa renda. Então acaba também influenciando nessas atividades que estão acima do patamar pré-pandemia”, disse o gerente da pesquisa do IBGE.

Apesar da perda de ritmo, o varejo deve encerrar o ano de 2022 com crescimento, após a alta de 1,4% nas vendas em 2021.

“O número tem essa tendência até novembro”, afirmou Santos.

De janeiro a novembro de 2022, as vendas acumulam crescimento de 1,1% ante janeiro a novembro de 2021.

“(O volume vendido em) Dezembro de 2022 teria que ser 9,2% menor que dezembro de 2021 para que o varejo acumulado terminasse igual a 2021, zerado (0,0%)”, calculou Santos.

O avanço no volume vendido em 2022 ante 2021 foi impulsionado pela queda de preço dos combustíveis, pelos gastos das famílias com itens essenciais e pelo pagamento do Auxílio Brasil, enumerou Santos.