18/02/2013 - 11:50
Aos olhos de muitos consumidores brasileiros, a carne vermelha, de aparência suculenta mostrada por Alessandro Simonetti, dono do açougue Il Fiorentino, em Roma, na Itália, seria, sem sombra de dúvida, de bovino. Não fosse mais magra e mais rica em proteínas, e dizem de sabor adocicado, seria mesmo fácil confundir. Mas, na realidade, trata-se de carne de cavalo. Possivelmente, ao saber disso, o brasileiro se sentiria desconfortável e reagiria com engulhos, já que comer carne de equino no País é tabu. Apesar de a culinária italiana ser muito apreciada no Brasil, esse detalhe cultural, que vai além da pizza e da macarronada, é pouco conhecido por aqui e cada vez mais popular na Europa – na esteira da crise do euro esse nicho de mercado não para de crescer no continente. “A crise tem levado os criadores a se desfazerem de animais com pouco valor comercial, por conta do elevado custo de produção”, afirma Orpheu de Souza Ávila Júnior, presidente da Associação Brasileira de Criadores do Cavalo Lusitano (ABPSL).
No país da bota o consumo de carne de cavalo cresceu 25%, no ano passado, o que provocou o abate de 100 mil animais, número que apenas superou o da Espanha, com 60 mil animais abatidos. A capacidade instalada não dava conta da oferta de equinos: alguns frigoríficos estavam operando até com lista de espera, no ano passado. Já em Portugal, onde esse tipo de carne é menos popular, foram abatidos mais de três mil cavalos, de janeiro a 19 de dezembro de 2012. Embora reduzido, esse número representa um aumento de 188%, se comparado a 2011.
Isso porque os criadores desembolsam por mês, pelo menos 300 euros, para manter cada animal nos estábulos da fazenda.
E, para quem está perguntando onde o Brasil entra nessa história toda, saiba que o País ocupa a oitava posição no ranking dos exportadores mundiais de carne de cavalo, de acordo com o Ministério da Agricultura, e está perdendo participação de mercado com a maior oferta dos países europeus. “Já chegamos próximos à liderança, mas a crise financeira mundial de 2008 foi reduzindo as vendas”, diz Sandra Jorge, diretora do frigorífico Prosperidad, em Araguari (MG), que há mais de 50 anos especializou-se em carne de equino. “Agora, com o aumento dos abates na Europa, as importações estão caindo ainda mais”, afirma Sandra.
Entre 2000 e 2008, ainda de acordo com o ministério, no auge dos embarques nacionais, o Brasil enviava para países como Japão, França, Bélgica, Holanda, Países Baixos, além da Itália quase dez mil toneladas de carne equina, e faturava em torno de US$ 27 milhões. Em 2011, o Brasil vendeu pífias duas mil toneladas, e no ano passado, que sinalizava o início de uma recuperação, 14% a mais. “Com a crise dificilmente manteremos, neste ano, os patamares de exportações de 2011”, diz Sandra. O Prosperidad exportou, no ano passado, 603,2 toneladas de carne equina. Cada quilo para exportação custa em média R$ 25. “Os cavalos abatidos são os aposentados, que normalmente são abandonados”, diz Sandra. “Muitos deles estão nessa situação devido à retração no abate.” Os cavalos atletas não entram no corredor do abate, devido ao uso de medicamentos.