22/02/2017 - 12:11
E m seus primeiros atos após tomar posse, Donald Trump começou a colocar em prática suas promessas de campanha. Dentre elas, rever os acordos comerciais dos Estados Unidos. Antes de completar uma semana no cargo, Trump retirou os Estados Unidos do Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica ou simplesmente Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês). Segundo ele, o TPP, anunciado em outubro de 2015, afetava a competitividade das exportações americanas. “É bem provável que o TPP nem continue”, diz o embaixador Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e diretor da Faculdade de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo.
A retirada americana significa que os Estados Unidos não são mais obrigados a dar preferência nas negociações comerciais com os demais países-membros, muitos deles concorrentes do Brasil nas exportações do agronegócio. Ruim para os integrantes do acordo, o enfraquecimento do TPP pode facilitar a vida dos exportadores brasileiros que buscam uma fatia maior no mercado americano. “É preciso que o Brasil aproveite essa oportunidade”, diz Ricupero. Mesmo sendo o maior mercado consumidor mundial, os Estados Unidos têm sido menos receptivos aos produtos brasileiros do que outros participantes do TPP. Em dez anos, as exportações do agronegócio para o mercado americano caíram 2,3%, recuando de US$ 6,4 bilhões em 2007 para US$ 6,25 bilhões em 2016 (leia quadro na página ao lado). No caso do Japão, segundo colocado nas compras entre os integrantes da parceria, as vendas cresceram 41,1% nesse período. A inapetência americana vem em um momento no qual o setor vem perdendo participação na balança comercial. Em 2016, o Brasil exportou US$ 185,2 bilhões, dos quais US$ 84,9 bilhões, ou 45,8% a cargo do agronegócio. Em 2007, embora fossem de US$ 58,4 bilhões, as exportações do setor agropecuário representavam 49,3% do total.
O resultado de 2016 poderia ter sido melhor. Segundo o engenheiro agrônomo André Nassar, diretor de estratégia e novos negócios do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Agroicone), o Brasil tem sido prejudicado porque, até agora, não firmou nenhum acordo comercial mais amplo. “Dependendo do caminho do governo de Trump, poderão surgir algumas brechas de mercado”, diz ele.
Uma delas pode ser a eventual dissolução definitiva do TPP. Com a presença americana, os 12 países representavam um Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de US$ 29,6 trilhões, ou 40% do PIB mundial. Em 2016, esse clube absorveu US$ 14,3 bilhões dos produtos agropecuários brasileiros, ou 16,8% das exportações no ano passado. Sem os Estados Unidos, os 11 países remanescentes – Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Cingapura, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru e Vietnã – somam US$ 11,9 trilhões, ou 16,1% do total global. Sua demanda por nossas exportações recua para US$ 8,07 bilhões, ou 9,47% do total. “Não é uma certeza que o TPP vai acabar”, diz Nassar. “Enquanto isso não acontece, é a hora de o Brasil acelerar as negociações com esses países.” Um exemplo é a China. O TPP foi criado para travar seu avanço na Ásia. Agora, a saída americana abre caminho para os negócios chineses na região e cria novas oportunidades de crescimento das vendas brasileiras.
O México também pode ser um bom mercado a ser explorado. É a 13ª maior economia mundial por PIB nominal. Segundo o Banco Mundial, em 2015 o México produziu US$ 1,1 trilhão. O país é um parceiro comercial importante dos Estados Unidos, tendo importado, naquele ano, US$ 405,3 bilhões. Mesmo assim, o México tem sido desprestigiado por Trump, que ameaça rever a participação americana de outro tratado, o Acordo Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta), que inclui o Canadá. Isso pode fazer os mexicanos procurarem estreitar seus laços comerciais com o Brasil, avalia Nassar.
“O México seria um bom destino para carnes, café e grãos brasileiros, itens já exportados pelo Brasil, mas cujas vendas poderiam ser beneficiadas pela negociação de acordos mais robustos”, diz Lígia Dutra, superintendente de Relações Internacionais da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Segundo ela, as novas tratativas deveriam avançar na retirada de barreiras não tarifárias e cotas, ou mesmo a facilitação das importações. “Só que temos de agir rápido para não perder o momento.”
Outros países do TPP, como o Japão e o Vietnã, são parceiros comerciais interessantes. Nos últimos dez anos, o PIB vietnamita cresceu 6,12% ao ano. No entanto, para esses acordos se firmarem, Ricupero diz que é necessário que o País fortaleça cada vez mais seus programas de inspeção e fiscalização fitossanitária. “Qualquer surto de doença ou praga em lavouras ou rebanhos é capaz de eliminar toda negociação, para qualquer país.”