Pastores candidatos no ciclo eleitoral deste ano impulsionam anúncios no Facebook e no Instagram para manifestar apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL), a figuras proeminentes do bolsonarismo e criticar a esquerda. Cálculo do Estadão aponta que ao menos sete nomes gastaram, juntos, aproximadamente R$ 17,3 mil com diversas publicidades nos últimos 90 dias.

Deste total, alguns anúncios reproduzem pauta ideológica do presidente e fazem um palanque virtual à sua reeleição. Há conteúdos que receberam investimentos para criticar o feminismo, o aborto e fazer ironias contra a população LGBT.

O vereador de Recife pastor Júnior Tércio (Podemos) gastou R$ 4,6 mil nos últimos 90 dias com publicidades. Entre os posts, há material que exalta a primeira-dama Michelle Bolsonaro, chamando-a de “mulher doce” e “feminina”. O pastor também diz nesses conteúdos que feministas “só maculam a imagem das brasileiras” e que não entendem “como é que tem crente que vota no PT”.

Em outra publicação, o pastor diz que a ex-vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL), “sempre defendeu bandido” e “não representa as mulheres de Recife” por ter sido casada com “uma pessoa do mesmo sexo”, enquanto, segundo ele, a maioria das mulheres recifenses “ainda são casadas com pessoas de outro sexo”.

A parlamentar e o motorista Anderson Gomes foram assassinados em 2018, e crime até hoje não foi solucionado. “Mulher negra e lésbica, é tudo que a esquerda gosta”, disse o pastor, em sessão da Câmara Municipal de Recife, em vídeo impulsionado sobre o assunto. Na ocasião, ele discutia o uso do nome da ex-vereadora em projeto de lei de combate à violência contra mulheres.

“Marielle sempre defendeu bandido. Esse tipo de canonização tem que acabar”, completou. Num outro vídeo impulsionado, com a legenda “como irritar uma feminista”, Tércio elogia a primeira-dama Michelle e a descreve como uma mulher “que não raspa o sovaco e as pernas”. Ele também divulga conteúdos em que posa ao lado do presidente como publicidade.

A cantora Anitta é um dos alvos das publicações impulsionadas pelo pastor Cleiton Collins, da Assembleia de Deus. O candidato do Progressistas à reeleição para a Assembleia Legislativa de Pernambuco é o que mais gastou até agora em anúncios no Facebook, com cerca de R$ 9,3 mil investidos. Ele apoia o candidato do União Brasil ao governo do Estado, Miguel Coelho.

Em uma dessas publicações, Cleiton sobrepõe um vídeo em que Anitta pediu apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para facilitar a legalização das drogas no País com imagens de pessoas em situação de risco por conta do uso destas substâncias.

Em outro post impulsionado, o deputado divulga uma imagem da série de animação “Jurassic World: Acampamento Jurássico”, da Netflix, em que duas meninas se beijam. “Essas empresas cinematográficas que estão ganhando dinheiro à custa de fazer nossas crianças serem erotizadas”, afirma o deputado. Sobre Bolsonaro, o parlamentar patrocinou uma publicação sobre a aprovação do piso da enfermagem.

Candidato a deputado estadual por São Paulo, o pastor André Bueno (PL) por sua, vez, veicula um vídeo com a imagem de Bolsonaro ao lado e diz que é contra o aborto e a favor da vida. Nas eleições de 2018, ele foi candidato pelo PSB. Nos últimos três meses, Bueno gastou R$ 1,4 mil reais com publicidade.

Vereador pela cidade de Uberaba (MG), o pastor Eloisio Santos (PTB) pagou por diversos anúncios em apoio a Bolsonaro em seu perfil. O primeiro, no dia 31 de março, foi quando a Câmara Municipal aprovou um projeto de resolução que concede a medalha Major Eustáquio, maior honraria do legislativo da cidade, ao presidente.

Em abril, o vereador celebrou a graça cedida pelo chefe do Executivo ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) e mobilizou o município para receber Bolsonaro na cerimônia de entrega da medalha.

“Só um alerta para a turminha do arco-íris, se vocês aparecerem lá, serão engolidos pelo mar verde e amarelo, porque a nossa bandeira jamais será vermelha”, disse, em referência à população LGBT. Em maio, ele publicou selfies que a sua filha tirou ao lado do presidente e do filho Renan Bolsonaro. Segundo dados do Facebook, foram gastos R$500 para o patrocínio dos conteúdos.

Vereador da cidade de Curitiba e candidato a deputado estadual pelo Paraná, o pastor Marciano Alves (Solidariedade) impulsionou um vídeo com Bolsonaro, em que ele saúda todo o ministério das Igrejas Visão Missionária, ao qual o parlamentar faz parte.

Em nota, o pastor afirmou que apoia o presidente Bolsonaro por que ele defende bandeiras em comum – “as que visam proteger a família cristã”. “Não podemos mais aceitar a superada premissa de que política e religião não se misturam”, afirmou. “O principal motivo de impulsionar o conteúdo é justamente este e também o de propagar conhecimento e informação a todos.”

Vereador pela cidade de São Paulo, e candidato a deputado federal, o missionário José Olímpio (PL) divulgou um vídeo também com a imagem de Bolsonaro ao lado e fala contra o aborto. “Desrespeitar a vida é desrespeitar a Deus”. Em 2020, nas eleições municipais, o missionário posou ao lado de Bolsonaro e gravou vídeo ao lado do pastor Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus.

Candidata a deputada estadual pelo Paraná, a pastora Patrícia gastou R$ 1 mil para impulsionar uma foto que tirou com a ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves (Republicanos) e com o vereador de Belo Horizonte bolsonarista Nikolas Ferreira (PL).

Esquerda

Lideranças religiosas da esquerda também investiram para dar palanque a candidatos. O candidato a deputado federal e pastor Henrique Vieira (PSOL) foi o segundo que mais gastou na plataforma, com R$ 5 mil investidos.

Anúncios pagos pelo PSOL impulsionaram vídeos de apoio à pré-candidatura de Vieira gravados pelos atores Bruno Gagliasso e Wagner Moura e pelo padre Júlio Lancellotti. Também divulgam um evento em que participou com a vereadora de São Paulo Erika Hilton (PSOL).

A plataforma de anúncios do Meta permite que anunciantes selecionem públicos de regiões específicas para serem atingidos, por isso, as cifras são reduzidas se comparadas com candidaturas nacionais ou a eleições majoritárias.

Com exceção de Marciano Alves, os religiosos não responderam até a publicação desta reportagem. Questionado se as publicações ferem as diretrizes da plataforma, o Facebook não retornou.