A Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul) promoveu no  último dia 25 o Dia de Campo “Pecuária Natural”, na fazenda Baía Grande, no Pantanal de Rio Verde (MS), do pecuarista Higino Hernandes, dentro da programação técnica da 76ª Expogrande. A pista de pouso da fazenda recebeu 36 aviões e um helicóptero. A fazenda recebeu também cerca de 45 veículos, totalizando a  participação de 400 produtores rurais, o que comprova o interesse dos pecuaristas da região em conhecer um sistema de cria que já tornou-se um modelo para toda a Planície pantaneira.

Para Francisco Maia, presidente da Acrissul, o desafio agora é garantir qualidade na produção, já que a pecuária brasileira já é considerada a maior do mundo. Maia aproveitou o evento para enaltecer a pecuária como atividade econômica rentável e sustentável. “É preciso que o pecuarista incentive seus filhos a dar continuidade na atividade, mostrando que é possível ter renda com a criação de gado, bastando para isso buscar conhecimentos e investir com criatividade”, afirmou Maia, ao chamar o proprietário da fazenda, Higino Hernandes , de “o Romário da pecuária brasileira”, numa referência ao craque brasileiro.

Durante o dia de campo os visitantes puderam fazer um tour pela propriedade, conhecendo o sistema que envolve cruzamentos utilizando-se as raças pardo-suíça, brahman, tabapuã, guzerá e nelore. Segundo Higino os bezerros são mantidos o tempo todo até a desmama ao pé da vaca, recebendo suplemento no cocho (creep feeding), o tempo todo no período entre 120 e 480 dias de sua vida, que é a fase de maior ganho de peso do bezerro devido à sua alta performance na conversão alimentar.

Durante esse período Higino mantém o bezerro juntamente com a mãe, a pasto, o que ele chama de “ambiência”. Tudo isso, segundo ele, num manejo simples, garantindo o bem-estar dos animais e dentro da um sistema sustentável, vai permitir que os animais sejam desmamados aos 10 meses com peso variando entre 370 e 420 kg – “é praticamente um boi, que pode ser rapidamente terminado em cocho aos 14 meses com 20 arrobas”.

O “pulo do gato” Segundo a experiência de Higino, ele implantou um sistema de suplementação dos bezerros que começa a partir dos 120 dias de vida do animal, ministrando 200 gramas por dia de creep, que vai aumentando mês a mês – 300 gramas/dia no segundo mês; 400 gr no terceiro; 500 gr no quarto mês; 800 gr no quinto, e finalmente 1.000 gramas por dia no sexto mês. Durante todo esse período o
bezerro vai consumir 96 quilos de creep feeding. “Esse é o pulo do gato”, ensina Higino. Segundo ele, essa é a fase em que o bezerro converte mais alimento em massa, quando ele ganha mais peso.

Os bezerros são pesados aos 120 dias de vida, para seleção. Nessa etapa a fazenda aproveita o manejo para vermifugar a bezerrada e aplicar as vacinas contra febre aftosa e carbúnculo e as fêmeas já recebem também a vacina contra brucelose.

Antes disso, na maternidade, os bezerros são vermifugados e brincados com o número da mãe e são apartados de acordo com o sexo. A mochação ocorre entre o 30º e o 40º dia de vida do animal, com ferro quente e pasta bactericida e também recebem um carimbo a ferro quente com o mês e ano de nascimento.

Monta natural Higino mantém na fazenda 50 touros zebuínos e 50 touros da raça pardo-suíça. Todo o trabalho de reprodução é feita com monta natural, durante os 4 meses da Primavera, entre setembro a dezembro, com índice de prenhez próximo dos 100%.

Segundo o proprietário da fazenda, Higino Hernandes, o trabalho desenvolvido por ele, visa antecipar o período de terminação de bezerros para 14 meses. O que chama atenção é que a prática é feita em pleno Pantanal, em braquiária humidícola, num bioma preservado e sustentável, onde a pecuária convive harmonicamente com a natureza há 250 anos.

Higino é pecuarista desde 1996 e possui uma propriedade de 3,3 mil hectares, dos quais 2,6 mil são destinados ao sistema, aplicado em quase 3 mil animais do rebanho. “Analiso muito o mercado internacional, principalmente o americano. Uma produção assim representa a pecuária do futuro, tamanha a eficiência devido à terminação rápida”, explica ele.

Ainda de acordo com o pecuarista, o Brasil tem uma porcentagem de desfrute de bezerros de apenas 25% de todo o rebanho destinado para o abate, enquanto que nos Estados Unidos chega a quase 100%. “É preciso despertar essa mentalidade nos produtores para elevarmos esse índice”, aponta.

Em quase oito anos de aplicação dessa prática, o criador pode perceber um aumento de 30% na eficiência da propriedade e, consequentemente, do lucro. “A maior dificuldade que enfrentamos foi adequar  as matrizes, selecionar os animais para o trabalho. Isso levou tempo, mas mesmo assim a duração da produção é fantástica, onde temos uma terminação de bezerros com 14 meses, precedida de uma desmama prolongada até os 10 meses, com animais pesando em média 350 kg e que podem chegar a 420”, enfatiza.

Para alcançar tais números o pecuarista complementa a dieta dos bezerros com material protéico elaborado por ele até a época de chegada das águas. A partir daí, a vacada e as novilhas comem apenas sal mineral e capim, inclusive as que estão gestantes. Os machos também seguem com essa dieta até chegarem a 430 Kg, quando voltam a receberem o complemento até a engorda. Além de produtores rurais pantaneiros, participaram do evento lideranças ruralistas ligadas à Acrissul, à Famasul, ao Senar, empresários de vários setores da cadeia do agronegócio, inclusive representante do Grupo JBS e políticos ligados à gestão agropecuária do Estado.

Durante o evento o Núcleo de Criadores de Cavalo Pantaneiro de Mato Grosso do Sul aproveitou para reivindicar ao secretário de Produção, Paulo Engels, presente ao dia de campo, a isenção de ICMS sobre a comercialização do cavalo pantaneiro, que já foi inclusive declarado como patrimônio cultural de MS.