Depois de terminar o primeiro turno da disputa presidencial de 2018 em terceiro lugar, com 12,4% dos votos válidos, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) começou a construir a sua candidatura. Com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) preso e a direita reunida em torno de Jair Bolsonaro (PL), o pedetista acreditava que teria dali a quatro anos, na sua quarta tentativa, a melhor chance de chegar ao Palácio do Planalto.

Quando decidiu embarcar para Paris em plena campanha do segundo turno, Ciro se ressentia do fato de o PT ter escolhido Fernando Haddad (PT) como o “substituto” de Lula em vez de apoiá-lo. O PT, em sua análise, não queria de fato vencer em 2018, mas marcar posição.

Quatro anos depois, Ciro, de 64 anos, chega ao fim da campanha isolado politicamente, com seu partido dividido, sem a retaguarda de apoiadores históricos e rompido até com a família no Ceará. A entrada do ex-presidente Lula na disputa estruturou uma polarização consistente e implodiu as pontes que o candidato e seu marqueteiro João Santana esperavam criar com o eleitorado antibolsonarista.

Emparedado entre o atual e o ex-presidente, Ciro foi subindo gradativamente o tom dos ataques ao PT e a Lula e tentou ainda seduzir seguidores de Bolsonaro. Em entrevista ao podcast Monark Talks, o candidato do PDT disse que sua participação nas eleições enfrenta os interesses de um “deep state” (“Estado profundo”). Essa expressão foi uma das marcas dos discursos de campanha do ex-presidente republicano dos Estados Unidos Donald Trump.

Para os adeptos da tese, o “Estado profundo” seria composto pela elite política, econômica e financeira que se une para derrotar qualquer um que tente mudar o sistema vigente. “Com o campo da esquerda tomado, Ciro foi buscar o espólio bolsonarista, mas não foi bem-sucedido. Ele deu um cavalo de pau e passou a defender um nacionalismo que nada tem a ver com o novo desenvolvimentismo. Ciro buscou uma agenda de direita como nicho de sobrevivência”, disse o cientista político Vitor Marchetti, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC).

Candidato ao Senado em São Paulo pelo PDT, o ex-ministro Aldo Rebelo lembrou que em 2018 a polarização entre Haddad e Bolsonaro se deu apenas na reta final. “Desta vez, a eleição já nasceu polarizada e sobrou um espaço contido para a terceira via. Nem o (João) Doria, que era governador de São Paulo, sobreviveu”, afirmou.

DISPUTAS

Ex-prefeito de Fortaleza e ex-governador do Ceará, Ciro disputou sua primeira eleição presidencial em 1998, quando recebeu 11% dos votos válidos. Em 2002, chegou aos 12% e apoiou Lula no segundo turno contra o ex-ministro tucano José Serra. Após ser ministro de Lula, rompeu com o PT em busca de uma raia própria na política. Ficou em terceiro lugar em 2018, novamente com 12% dos votos válidos e, agora, os institutos de pesquisas apontam que ele pode receber metade dos votos que teve quatro anos atrás – Ciro já avisou que, se perder mais uma vez, esta será a sua última campanha para presidente.

O sinal mais evidente do isolamento de Ciro foi o quadro político no Ceará, seu reduto eleitoral. Após brigar com sua família, o seu candidato local, Roberto Cláudio, do PDT, corre o risco de ficar fora do segundo turno, que deve ser disputado entre Elmano de Freitas (PT), candidato de Lula, e Capitão Wagner (União Brasil), nome avalizado por Bolsonaro.

Há, entre pedetistas de diversos Estados, um clima de desânimo e preocupação com o futuro do partido. Os relatos são de que, na prática, a sigla não está engajada na campanha presidencial do ex-ministro. Ao longo da campanha, inclusive, Ciro perdeu para Lula o apoio de quadros históricos do trabalhismo e de artistas.

O cantor Caetano Veloso foi um deles. Na sabatina Estadão/FAAP, Ciro não poupou palavras para criticar a mudança de lado – e posição – de Caetano que, segundo ele, está com “a vida ganha”. “Quem está preocupado com o dia seguinte é quem não tem plano de saúde, é quem não tem como pagar mensalidade escolar, é quem está submetido ao terrorismo das facções criminosas nas periferias”, afirmou Ciro.

BRIZOLISMO

O movimento que mais abalou os pedetistas ligados à campanha presidencial, no entanto, foi a declaração do deputado federal Leonel Brizola Neto. “Em momentos cruciais da história, Brizola sabia que precisava apoiar quem tinha compromisso com o povo e mais chance de vencer. Foi assim em 1989, em 1994, em 2002. Vamos eleger Lula no primeiro turno”, conclamou o parlamentar em um ato no Rio.

“A base do PDT está dividida e isso afeta as campanhas proporcionais”, disse ao Estadão o ex-ministro e candidato a deputado federal Miro Teixeira (RJ). Sobre os ataques de Ciro ao PT, o parlamentar é contido. “Ele usa as palavras que quiser. Eu não usaria essa linguagem”, afirmou.

Fiel escudeiro de Ciro na campanha em São Paulo, o sindicalista e membro da direção do PDT Antonio Neto, que também é candidato a deputado federal, rechaça que Ciro tenha feito gestos ao bolsonarismo ao longo da campanha. “Essa é uma mentira muito grande. Nós vamos em qualquer podcast. Não temos tempo de TV”, disse.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.