Uma pesquisa em andamento na Embrapa Agrossilvipastoril e em outros quatro municípios de Mato Grosso e Rondônia está testando diferentes técnicas de recomposição de reserva legal e avaliando o aspecto ecológico, agronômico e econômico da restauração. O trabalho teve início há quatro anos com a instalação da primeira área experimental.

São avaliadas técnicas de plantio de mudas, semeadura direta, semeadura a lanço e regeneração natural. Além disso, no plantio de mudas, há áreas com utilização apenas de espécies nativas e outras com uso de espécies exóticas, como o eucalipto e o mogno-africano, como forma de geração de renda para custeio da restauração.

O primeiro experimento foi instalado em 2011 uma área de Cerrado, em Canarana (MT). No fim de 2012 outro experimento foi montado na Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT), em área de transição entre os biomas Cerrado e Amazônia. Em 2013 foi a vez do município de Guarantã do Norte, na Amazônia mato-grossense, receber um experimento e em 2014 outra área foi montada em Campo Novo do Parecis (MT), também no Cerrado. A última área de pesquisa acaba de ser instalada no campo experimental da Embrapa Rondônia, em Vilhena.

Em cada experimento foram utilizadas cerca de 15 espécies nativas da região, com destaque para aquelas que podem ser manejadas, gerando renda para o produtor. Nesse grupo entram espécies de uso madeireiro, frutíferas, para extração de essências, coleta de sementes e também uso na apicultura e meliponicultura. Ao todo, estão sendo avaliadas 50 espécies nativas.

De acordo com o pesquisador Ingo Isernhagen, responsável pelo trabalho, ao longo dos anos as áreas estão sendo monitoradas e algumas parcelas são conduzidas de forma a deixar as árvores com arquitetura mais favorável ao manejo. Os custos destas atividades são computados para que futuramente possam ser geradas informações sobre a viabilidade desta condução.

“Tem-se falado cada vez mais na criação de modelos econômicos de restauração. Para isso temos de investir em manejo. Não adianta fazer o que usualmente é feito: plantar e deixar os indivíduos crescerem. Se a gente quer retorno econômico, tem que ter manejos adaptativos. Tem que ir conduzindo o processo de forma a ter produtos madeireiros e não madeireiros de qualidade”, explica Ingo Isernhagen.

Resultados

Como a pesquisa envolve espécies nativas florestais e de cerrado, é natural que os resultados conclusivos demorem a ser obtidos. Entretanto, as observações preliminares já são importantes para orientar os produtores que precisam recuperar suas reservas legais.

“Quando a gente fala de vegetação nativa, especialmente árvores, a gente tem um horizonte temporal que é diferente. Não vamos ter uma resposta para ano que vem. Agora, claro que a gente está fazendo um desenho para que o produtor possa ver respostas o mais rapidamente possível”, explica Isernhagen.

Uma dos pontos já observados é que a regeneração natural passiva, técnica mais barata de recomposição, não é eficiente quando feita em áreas com histórico de agricultura tecnificada, como é o caso do campo experimental da Embrapa, em Sinop.

Isso porque o uso intensivo do solo, revolvimento das camadas superficiais, retirada de raízes, uso de herbicidas, entre outras causas minam o banco de sementes presente no solo, impossibilitando a regeneração. Além disso, mesmo que sementes nativas cheguem por dispersão, têm dificuldade em vencer a mato-competição normalmente presente, especialmente gerada por gramíneas exóticas.

“Embora praticamente não tenha custos para o produtor, ela também não tem qualquer resultado do ponto de vista ecológico. Nesses casos de áreas com histórico de agricultura, vai ser necessário intervir”, afirma Ingo.

Já nas áreas com histórico de pecuária extensiva, os resultados iniciais indicam que  a regeneração natural passiva pode ser exitosa, com a germinação do banco de sementes presente no solo e também de sementes trazidas pela fauna de fragmentos de vegetação nativa nas proximidades.

Ingo explica que com o tempo é possível que a regeneração natural tenha eficácia ecológica. Porém, o longo período necessário para o início da geração de renda na área pode tornar a técnica menos atrativa do que o plantio de mudas ou a semeadura direta, caso o objetivo seja a geração de renda.

Outra observação feita é que o controle de matocompetição e de plantas daninhas é mais fácil de ser realizado nas áreas com plantio de mudas e na semeadura direta em linha, uma vez que a o desenho do plantio facilita a entrada de máquinas.

A qualidade e a quantidade de  sementes utilizada também é outro fator que precisa ser levado em consideração, uma vez que interfere diretamente no sucesso da germinação. Essa necessidade ressalta a importância da organização das redes de coletores de sementes nativas e os estudos científicos com a qualidade dessas sementes. Várias das espécies utilizadas no experimento já floresceram e poderiam servir como fontes de sementes (caju, mutambo, mamoninha, angico, embaúba).

Próximos passos

A expectativa é que o monitoramento e as avaliações das áreas continuem nas próximas décadas. Ao fim deste ano, por exemplo, já serão retiradas as primeiras árvores de eucalipto em Canarana para venda como lenha. A coleta de sementes e frutos também já começa a ser realizada.

Todas essas atividades, bem como as tarefas de condução e manejo são acompanhadas pela equipe de economia que faz a avaliação econômica de cada parcela da pesquisa.

Paralelo a isso, no experimento de Sinop, pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) farão a caracterização da fauna que começa a habitar as áreas restauradas. Além de contribuírem com a dispersão de sementes, a presença dos animais é um indicativo ecológico da eficiência da recomposição da reserva legal. Em Sinop também há monitoramentos focados em fenologia, microbiologia, plantas daninhas, aspectos físicos e químicos do solo, dinâmica hídrica, meteorologia e, futuramente, na emissão de gases do efeito estufa, conforme cada tratamento.

Parcerias

As pesquisas sobre recomposição de reserva legal são coordenadas pela Embrapa Agrossilvipastoril, mas contam com apoio de outras Unidades da empresa, além de instituições como UFMT, Unemat, IFMT, Instituto Socioambiental, Rede de Sementes do Xingu,  prefeituras de Canarana, Guarantã do Norte e Campo Novo do Parecis, Compensados São Francisco, Flora Sinop, além de produtores rurais que cederam áreas para o desenvolvimento da pesquisa. Fonte: Ascom