28/02/2018 - 15:47
Durante vários meses, pesquisadores fizeram um levantamento epidemiológico em granjas em Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, estados que concentram a maior produção da suinocultura no Brasil. O objetivo foi identificar as condições atuais de biosseguridade dessas granjas. Com as informações obtidas, os cientistas elaboraram um documento com recomendações para garantir a biosseguridade em criações de suínos para abate. Os especialistas esperam que o texto sirva como subsídio na elaboração de uma normativa específica para esse tipo de criação.
“A adoção de algumas medidas, como a cerca periférica de isolamento e a troca de roupa e calçados antes de entrar na unidade produtiva, ajuda a manter a saúde dos animais e mitigar riscos de contaminação e disseminação de agentes infecciosos, medidas fundamentais no controle de enfermidades e obtenção de alimento seguro para os humanos”, enfatizou o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves (SC) Nélson Morés, que participou do trabalho de pesquisa.
“O objetivo foi abordar aspectos relevantes das granjas que produzem para abate e subsidiar o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento na elaboração de uma regulamentação oficial, além de servir de suporte para empresas e produtores melhorarem a qualidade sanitária de seus plantéis”, comentou Morés. De acordo com o pesquisador, atualmente apenas granjas de suínos que produzem, vendem ou distribuem animais destinados à reprodução ou centrais de coleta, venda ou distribuição de sêmen possuem normativa oficial com critérios específicos de biosseguridade.
Mercado em crescimento
A suinocultura é uma das atividades essenciais na produção e exportação de proteína animal. A evolução dessa cadeia tem sido constante, tanto em escala como em unidades produtivas instaladas em diversas regiões do País. Esse aumento gera preocupação ao setor de garantir a sanidade dos rebanhos para manter a produção e atender às demandas de mercado externo e interno. Para os cientistas, a biosseguridade é o pilar mais importante da cadeia produtiva.
Medidas de biosseguridade em granjas têm como foco mitigar os riscos de contaminação de rebanhos e a disseminação de doenças. Para isso, conhecer o local e as condições das granjas é importante. “A sobrevivência de agentes causadores e transmissores [de doenças] depende muito de condições ambientais, como luz e ressecamento, da movimentação de suínos entre diferentes rebanhos e de como cada propriedade interage com outros elos da cadeia”, destaca Morés.
Esse trabalho também compõe o arcabouço que a Embrapa Suínos e Aves está reunindo para definir e apontar as rotas tecnológicas para a destinação de animais mortos. “A investigação da situação das granjas, identificando como estão em termos de adoção de medidas de biosseguridade, é importante para que possamos reforçar cada vez mais ações que protejam nossos rebanhos”, comenta Morés.
Mais de 100 questionários aplicados
O levantamento foi realizado com aplicação de um questionário naquelas propriedades que incluíram granjas de Ciclo Completo (CC), Unidades Produtoras de Leitões Desmamados (UPD), Unidades Produtoras de Leitões Descrechados (UPL), Crechários (CR), Unidades de Desmame ao Abate (UDA) e Unidades de Terminação (UT). Foram avaliados 126 questionários, que abordaram os principais aspectos de biosseguridade, como cerca de isolamento, escritório e vestiário, embarcadouro, transporte de alimentos para a granja, fábrica de ração ou depósito, outra atividade além da suinocultura, câmara de compostagem para restos de parto ou animais mortos.
Após o levantamento, a Embrapa elaborou uma proposta e a validou por meio de um painel técnico composto por especialistas no tema, incluindo pesquisadores, professores universitários, associações de produtores, defesa sanitária estadual e programa nacional de sanidade suína do Mapa. “Consideramos duas situações distintas, sendo uma para granjas novas e outra para unidades já em funcionamento, especialmente em razão de alguns itens envolverem estruturas já construídas”, explica o pesquisador.
Cerca de isolamento
Os critérios apontados são os mais relevantes ligados diretamente à mitigação de riscos para melhorar a proteção das granjas quanto à entrada e disseminação de agentes infecciosos. São basicamente 16 critérios específicos, além da sugestão de outras medidas importantes, como, por exemplo, cuidados necessários na aquisição de animais de reposição em CC, UPD e UPL e com movimento e mistura de leitões de diferentes origens em CR, UDA e UT.
Entre os itens elencados pela Embrapa está a cerca de isolamento, ou seja, uma barreira física que impeça que pessoas estranhas, veículos e animais como cães, gatos, javalis, galinhas, bovinos, entre outros, entrem no estabelecimento e estejam em contato com os suínos.
Cuidados de higienização na entrada
Outra atenção é com o escritório, que deve ficar próximo à cerca de isolamento, com a área suja voltada para a parte externa da cerca, e a área limpa voltada para o interior. É considerada área suja o local destinado às pessoas que chegam à granja, seja no transporte de animais e insumos, seja visitantes, funcionários e proprietários antes de entrar na unidade produtiva. Já a área limpa é a parte interna da granja de produção. O acesso de funcionários, proprietários e visitantes ao interior da unidade produtiva só poderá ser feito após os procedimentos de troca de roupa e calçados e lavagens das mãos. Na área limpa do escritório, devem ser armazenados documentos, remédios, sêmen e material de escritório.
Visitantes devem observar vazio sanitário
A visita à unidade produtora é outro critério a que os proprietários de granjas devem estar atentos. A recomendação é que os visitantes estejam em vazio sanitário por no mínimo 24 horas. Ou seja, não podem ter contato com suínos de outra UP, abatedouro ou laboratório que trabalha com agente infeccioso antes de entrar na granja. E a entrada deles deve ocorrer pelo vestiário, com troca de roupa e calçado de uso exclusivo no interior da granja.
Além disso, no documento da Embrapa constam as recomendações para transporte e armazenamento de rações e insumos, refeitório e lavanderia, localização do embarcadouro/desembarcadouro, câmara de compostagem e depósito para animais mortos.
Veículos que movimentam ração não podem transportar animais
O armazenamento de rações e insumos deve estar em local apropriado, porém o transporte é essencial. “Veículos utilizados para transporte de ração ou de insumos não podem ser utilizados em outras atividades, como o transporte de animais ou de material biológico”, enfatiza Morés.
O local para tratamento de dejetos precisa ficar fora da cerca de isolamento, para que o manejo possa ser feito sem acesso à unidade produtiva. O controle de roedores e insetos é outro aspecto de biosseguridade que deve ser atendido pelas granjas, com documentação dos procedimentos utilizados. Estão incluídos ainda o fornecimento de água de beber aos animais, a guarda de registros e documentos e as orientações sobre os riscos sanitários na movimentação e mistura de leitões de diferentes origens.
Além desses critérios mínimos apontados pela Embrapa, enfatiza-se que também fazem parte das medidas de controle de doenças a lavagem e sanitização das instalações, a restrição de visitas, o vazio sanitário entre cada lote, o programa de vacinações, o isolamento e tratamento de animais que adoecem. “Todas essas práticas devem ser combinadas com o fluxo de animais entre as várias fases de produção e com as práticas de manejo, bem-estar animal, capacitação dos operários, utilização de sistema de gestão da qualidade e com uso de Boas Práticas de Produção no manejo diário dos animais”, frisa o pesquisador.