27/05/2020 - 14:17
A Procuradoria-Geral da República recebeu, nesta terça-feira, 26, um pedido do PSOL para investigar a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) e outros membros do governo de Jair Bolsonaro pelo suposto vazamento ilegal de informações de operações sigilosas da Polícia Federal.
O pedido de investigação foi feito no dia em que a PF realizou a Operação Placebo, que teve como foco o desvio de recursos na área de saúde no Estado do Rio de Janeiro. Os mandados de busca e apreensão tiveram, entre seus alvos, o governador Wilson Witzel (PSC).
No dia 25 de maio, portanto na véspera da operação, a deputada governista teria dado sinais, em entrevista uma rádio gaúcha, de que teria informações privilegiadas que davam conta de que governadores seriam alvos da PF.
“A gente já teve algumas operações da Polícia Federal que estavam ali, na agulha, para sair, mas não saíam. E a gente deve ter nos próximos meses o que gente vai chamar talvez de covidão, ou de… Não sei qual vai ser o nome que eles vão dar, mas já tem alguns governadores sendo investigados pela Polícia Federal”, disse Zambelli, na ocasião.
O pedido de investigação foi protocolado pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP) e direcionado ao gabinete do procurador-geral Augusto Aras, que agora vai avaliar se a representação terá prosseguimento.
Segundo o documento protocolado, a declaração de Zambelli foi dada num contexto de “conflito aberto” entre o presidente da República e governadores, especialmente os do Rio de Janeiro e de São Paulo. “Restou evidente que a parlamentar está tendo acesso indevido a informações sigilosas sobre operações da Polícia Federal e as está utilizando para a disputa política travada pelo Presidente da República contra seus adversários”, diz trecho do documento, ao qual o Estadão teve acesso.
Na representação, o PSOL pede ainda que PGR investigue a violação do sigilo de processos judiciais por parte de outros membros do governo próximos de Bolsonaro. Na avaliação do partido, esses vazamentos serviriam para atender interesses políticos do presidente da República, o que, segundo a Constituição, afronta o princípio da moralidade e da impessoalidade.
“Há no meio político e na sociedade grande preocupação com a possibilidade de que a Polícia Federal converta-se em uma verdadeira polícia política, ou seja, aquela que protege os crimes dos aliados e parentes do governante e persegue seus adversários políticos”, conclui a ação.