30/06/2022 - 9:30
São Paulo, 30 – O presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Caio Carvalho, afirmou que os recursos destinados ao crédito rural dentro do Plano Safra 2022/23, de R$ 340,88 bilhões, foram o montante “possível”, diante da atual conjuntura de restrição de recursos. “(O novo Plano Safra) Deve fortalecer pequenos e médios produtores do País”, continuou. “Se se levar em conta a subida de custos, acaba uma coisa engolindo a outra. De todo modo, se fez uma correção importante, com juros controlados.”
Para Carvalho, o novo Plano estimula o setor privado, que trabalha com juros livres, a buscar alternativas que não sejam o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura (Pronaf) e o Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp). “Leva os grandes agricultores a buscarem mecanismos privados para financiamento, o que é importante, porque não pressiona a concentração de recursos para quem mais pode”, observou.
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Para o Pronaf, serão destinados R$ 53,61 bilhões, incremento de 36% em comparação com o montante ofertado na safra 2021/22. As taxas de juros serão de 5% ao ano (para produção de alimentos e produtos da sociobiodiversidade) e de 6% ao ano para os demais produtos, ante taxas de 3% e 4,5% ao ano no ciclo 2021/22. Já para o Pronamp, o montante será de R$ 43,75 bilhões, 28% acima do valor da safra anterior, com juros de 8% ao ano – ante taxas de 5,5% e 6,5% ao ano no ciclo prévio.
Para os demais produtores e cooperativas, o total ofertado chegará a R$ 243,4 bilhões, com taxas de 12% ao ano – ante taxas de 7,5% a 8,5% em 2021/22. Nesta safra, produtores rurais poderão optar pela contratação de financiamentos para investimentos a taxas de juros pós-fixadas. O presidente da Abag avaliou, no entanto, que “ninguém gosta de juros altos, mas é o que está aí”.
Dentro do esperado
Os recursos destinados ao crédito rural do Plano Safra 2022/23, de R$ 340,8 bilhões, vieram dentro do esperado, com destaque para o incremento dos valores para o Programa de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC), cujo montante cresceu 23%, para R$ 6,19 bilhões. A avaliação é do sócio-diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres. “Gostaríamos que viesse maior, mas foi o possível”, disse. Ele acrescentou que os juros do Plano cresceram “agressivamente” em comparação com os últimos 12 meses. “Mas, de qualquer maneira, estão abaixo dos juros do mercado hoje.”
No caso do Plano ABC, Torres avaliou que o incremento vem, justamente, para atender a uma demanda global e melhorar os indicadores na pecuária. “Seja por meio da reforma de pastagem, ou mesmo com a substituição de pastagem por agricultura. O Plano ABC foi lançado há alguns anos e deve crescer ainda mais nos próximos”, garantiu. Se for considerado o Índice Geral de Preços/Disponibilidade Interna (IGP-DI), o valor destinado ao programa cresceu 25%, observou Torres. “Então foi um ajuste real, não foi estupendo, mas real. O que é bom.”
Por meio da Letra de Crédito Imobiliário (LCI), da Letra de Crédito Agropecuário (LCA) e da Cédula de Produto Rural (CPR), o governo está indicando o aumento da participação do setor financeiro-privado, em detrimento do setor financeiro-público, na observação de Torres, que vê uma tendência do governo em “jogar a bronca para o setor privado”.
Em relação ao crédito subsidiado, ele destacou a queda de 10 pontos porcentuais, enquanto os valores para equalização de juros diminuíram. “Vem dentro da política do Ministério da Economia. A gente (setor agropecuário) precisaria ter mais crédito com juros adequados ao mercado, em função de todos os fatores, como clima, guerra, e questões sanitárias, por exemplo”, disse. Na avaliação do diretor da Scot, o movimento levaria o Brasil a “aproveitar oportunidades” e se consolidar como “grande produtor de alimentos no mundo”. Para ele, seriam necessários mais recursos para se chegar a uma safra de 300 milhões de toneladas de grãos produzidos no País ao ano. “Com duas safras consecutivas, a gente ameniza a fome global”, garantiu.