SÉRGIO BUENO: do mercado financeiro para os campos de Tocantins

O problema está, literalmente, posto à mesa: faltam alimentos nos pratos de inúmeras nações mundo afora. Como há excesso de demanda, os preços dispararam e a oferta não acompanhou o ritmo. É por isso que nunca se falou tanto em fome global como nos últimos meses. Bom, mas se existe uma crise, há também uma grande oportunidade. E é ela que atrai cada vez mais investidores – brasileiros ou não – para um dos negócios mais promissores dos próximos anos: a boa e velha agricultura. Quer um exemplo? A história do financista paulista Sérgio Bueno, um ex-corretor da BM&F que há trinta anos atua no mercado de capitais, é a prova disso. Ele acaba de constituir a Agropecuária Rio Galhão, que pretende explorar 40 mil hectares no plantio de soja e milho e no Estado de Tocantins. Na primeira fase, já foram abertos 2,5 mil hectares, em parceria com o grupo inglês ARG Britania e outros sócios nacionais. “Já investimos R$ 11,9 milhões, mas iremos muito mais longe”, adianta Bueno à DINHEIRO RURAL. “Essa é a hora para entrar com tudo no agronegócio.”

O exemplo de Bueno é interessante por várias razões. Primeiro, mostra que executivos do mercado financeiro, acostumados a lidar com as mais variadas opções de investimento, apostam cada vez mais no agronegócio. Segundo, porque ele chega com parceiros internacionais. E terceiro, porque ele decidiu investir numa nova fronteira. Suas terras estão localizadas numa região que já vem sendo conhecida como “Mapito”, por unir as áreas verdes dos Estados do Maranhão, Piauí e Tocantins. Para os mais entusiasmados, seria o equivalente ao “Meio-Oeste americano”.

Os motivos que levaram Bueno à agricultura e não a partir para um outro tipo de investimento são consistentes. Na conta do financista, em quatro anos, ele terá de volta todo o dinheiro investido. “Isso trabalhando com uma perspectiva quase conservadora”, explica. Outro ponto positivo, segundo ele, está no incremento patrimonial. Suas terras, quando adquiridas por sua família, 20 anos atrás, custavam em valores de hoje algo em torno de dois sacos de soja o hectare. “Hoje já valem pelo menos 50”, diz. Em quatro anos, custarão mais de 300 sacos de soja o hectare. Um incremento patrimonial de 500% em quatro anos, fora o retorno financeiro. “Que outro investimento abre essa possibilidade hoje?”, questiona.

“OS PREÇOS DAS TERRAS NO BRASIL COMPENSAM A FALTA DE INFRA-ESTRUTURA, POR ISSO ESTAMOS PRODUZINDO AQUI”

STEVE LISTON: CEO do Grupo United, com Scot Shanks, gerente, à direita

A idéia de comprar as terras, na verdade, foi do pai de Bueno, Fernando Bueno. Fazendeiro em São Paulo, possui há mais de 30 anos know-how com a cana. “Comprei isso aqui há mais de 20 anos, sempre acreditei que estas terras, antes tão baratas, um dia seriam um diferencial no Brasil”, conta. Coisa de visionário, ou sorte na escolha, não se sabe. Fato é que ele está pronto para levar, se preciso for, o etanol para o cerrado. “Estamos pesquisando a produção de mais de 90 variedades em parceria com o CTC”, explica. Se o etanol virar uma commodity um dia, estaremos prontos para produzir alimentos e energias, tudo aqui no Mapito”, brinca.

Mas é preciso dizer a verdade: os Buenos estão no lugar certo. Segundo dados da AgraFNP Consultoria, empresa que realiza uma pesquisa permanente de preços de terra, trata- se de uma das mais promissoras fronteiras agrícolas do País, por abrigar terras agricultáveis a bons preços e regime de chuvas bem distribuídas, ou seja, os ingredientes necessários para fazer uma boa agricultura.

Se depender dos Estados envolvidos no desenvolvimento agrícola no coração do Brasil, essa explosão está apenas começando. “A cada dia chegam novos investimentos, de gente querendo as melhores porções de terra”, diz o presidente da Federação Agrícola do Piauí, Carlos Augusto Melo Carneiro da Cunha. “E olha que temos seis milhões de hectares disponíveis”, avalia. No Maranhão, a situação não é diferente, conforme comenta José Coelho Nilton de Souza, presidente da Federação Agrícola daquele Estado. “Realmente, o momento está propício para a agricultura e temos visto uma grande procura por terras em nosso Estado”, diz. Já no Tocantins, segundo o analista Landino José Dutkievicz, dono da Plasteca, consultoria agricola que atua na região, há uma corrida por bons projetos. “Tenho recebido pedidos de grandes grupos interessados em encontrar boas terras no Mapito e onde se vá há histórias de gente nova e com muito dinheiro chegando na agricultura”, avalia.

SEJA NA PULVERIZAÇÃO DAS LAVOURAS, SEJA NOS ACERTOS DAS ESTRADAS, GRUPOS BRASILEIROS E ESTRANGEIROS SE ENCONTRAM NAS LAVOURAS DE SOJA E MILHO NO “MAPITO”

Mas não são apenas brasileiros que estão apostando nas fronteiras agrícolas nacionais. Em todo cerrado são comuns notícias de estrangeiros procurando terra para estabelecer os mais diversos projetos agrícolas. Exemplo é o United Group, formado por americanos que chegaram há pouco mais de três anos ao Brasil. Com 20 mil hectares comprados na região de Coaceral, rincão baiano fincado no noroeste do Estado, eles mostram empolgação. A localidade, que possui ainda sérios problemas de infra-estrutura, como a falta de energia elétrica em alguns lugares, está pouco mais de 300 quilômetros acima de Luis Eduardo Magalhães, considerada, até poucos anos atrás, a última fronteira agrícola da Bahia. “Estamos com dez mil hectares abertos, mas vamos chegar aos 20 mil em breve, talvez no próximo ano”, avalia Scot Shanks, gestor do projeto no Brasil. Segundo ele, até agora, mais de R$ 20 milhões foram despejados para fazer o projeto andar. “Encontramos algumas dificuldades porque a agricultura aqui é diferente da que fazíamos nos Estados Unidos, quase na fronteira com o Canadá”, explica.

O grupo, de acordo com Shanks, é financiado por um fundo de aposentados americanos e a intenção é crescer no Brasil. De passagem pelo País, o presidente Seteve Liston, líder do projeto, disse estar empolgado. “Realmente, a agricultura aqui impressiona e com os preços das terras tão baixos, se comparados aos Estados Unidos, fica muito difícil concorrer com o Brasil”, avalia. “Por isso vimos para cá”, brinca. No longo prazo, segundo Liston, existe a possibilidade de converter as lavouras para algodão. “Estamos percebendo que a soja tem roubado espaço das lavouras de algodão e estamos prevendo um aumento no preço da pluma, por isso queremos estar preparados para aproveitar esse momento”, comenta.

“TENHO RECEBIDO MUITAS CONSULTAS SOBRE TERRAS NA REGIÃO DO ‘MAPITO’ E NA BAHIA. SÃO GRUPOS DE DIVERSAS NACIONALIDADES INTERESSADOS EM PLANTAR”

LANDINO DUTKIEVICZ: consultor agrícola especializado na região

Para o futuro, o grupo americano não descarta aquisições de novas terras, de acordo com os representantes. Onde ele está de olho? “Aquela área de chapada, no leste do Tocantins, parece muito boa”, diz, Liston, referido-se ao Mapito. Mas, se o americano deseja comprar terras por ali, é bom se apressar. Isso porque, segundo estimativas dos três Estados envolvidos na região, há “apenas” 500 mil hectares disponíveis em terras para serem abertas no filé-mignon da região.

“O BRASIL TEM A RESPONSABILIDADE DE PRODUZIR ALIMENTOS E ENERGIA, POR ISSO APOSTO NA CANA DO CERRADO”

FERNANDO BUENO: sócio da Agrícola Rio Galhão, no Estado do Tocantins

Mas, mesmo fora da fronteira, as terras continuam valorizadas e há uma intensa movimentação de mercado. O Grupo Grendene, do empresário Alexandre Grendene, adquiriu recentemente 75 mil hectares entre São Desidério e Santa Maria da Vitória, ambas na Bahia. No Mato Grosso, chegou ao Brasil o grupo argentino El Tejar com a compra de pelo menos 20 mil hectares. A grande novidade é o surgimento de informações vindas da Ásia que apontam para uma corrida de grupos chineses em busca de terra no Brasil. E quem já chegou dá o recado: “Aqui a infra-estrutura é muito ruim, mas mesmo assim tem compensado, o mundo vai precisar de nossa produção”, diz Shanks, do United Group. Discurso de um americano que já percebeu que hoje, o bom mesmo, é ser agricultor brasileiro.

Comece um grande projeto

Conheça os investimentos necessários para a construção de 2.500 hectares, área considerada chave para o início de um projeto profissional

MAQUINÁRIOS

No trato das lavouras, é preciso uma série de equipamentos que farão desde o plantio até serviços de tratos culturais, indispensáveis no campo

MÁQUINAS

DESCRIÇÃO

CUSTO

4 colheitadeitas

médias e grandes

R$ 1,41 milhão

12 tratores A

leves, médios e pesados

R$ 1,32 milhão

6 plantadeiras

de 7 a 15 linhas

R$ 552 mil

4 pulverizadores

2000 litros

R$ 228 mil

TOTAL: R$ 3,5 MILHÕES

Mas, antes de plantar, é preciso trabalhar a terra crua, que depende de materiais específicos para este tipo de serviço pesado

MATERIAIS DE SOLO

DESCRIÇÃO

CUSTO

11 grades

pequenas e grandes

R$ 222 mil

2 subsoladores

9 hastes

R$ 32 mil

1 terraceador

22 x 26

R$ 21,5 mil

4 calcareadeiras

5500 kg

R$ 44 mil

3 adubadeiras a lanço

1600 kg

R$ 24 mil

2 plantadeiras de milho

5 linhas

R$ 18 mil

TOTAL: R$ 361,5 MIL

Nessas operações, são fundamentais alguns equipamentos que, se ausentes, podem inviabilizar todo um projeto bem planejado

MATERIAIS DE APOIO

ESPECIFICAÇÃO

CUSTO

3 reboques B

15000 kg

R$ 120 mil

2 guinchos

PAD 1700

R$ 36 mil

2 carretas d’água

6000 lts

R$ 13 mil

1 plana de arrasto

Stara

R$ 13,5 mil

2 embolsadoras

NSG 9400

R$ 46 mil

1 rosca de grãos

Unicar

R$ 8 mil

2 máquinas sementes

MTS 60

R$ 16 mil

TOTAL: R$ 252,5 MIL

Carros e caminhões não são artigos de luxo e sim ferramentas indispensáveis à logística de um grande empreendimento…

TIPO

ESPECIFICAÇÃO

CUSTO

3 caminhonetes

——–

R$ 210 mil

1 caminhão-pipa

10 mil lts

R$ 50 mil

2 caminhões

serviço

R$ 250 mil

TOTAL: R$ 510 MIL

Com todo material em mãos, o novo produtor pode começar a trabalhar sua área, nos diferentes serviços para que a terra produza…

SERVIÇOS

CUSTO POR HECTARE

CUSTO TOTAL

Abertura de área

R$ 30

R$ 75 mil

Enleiramento

R$50

R$125 mil

Topografia

R$ 5

R$ 12,5 mil

Calcário

R$ 344

R$ 860 mil

Distribuição/Calcário

R$ 68

R$ 170 mil

Incorporações

R$ 135

R$ 337 mil

Catação

R$ 50

R$ 125 mil

Gesso agrícola

R$ 40

R$ 100 mil

Distribuição/gesso

R$ 20

R$ 50 mil

Nivelamento

R$ 42

R$ 106,2 mil

TOTAL DE SERVIÇOS: R$ 1.961.250,00

Ainda assim, com as lavouras funcionando, é preciso uma infraestrutura física para abrigar maquinários e pessoas na fazenda…

ESTRUTRA

DESCRIÇÃO

CUSTO

Barracões C

oficina e insumos

R$ 600 mil

Poço artesiano 8 mil lts/hora

R$ 65 mil

Caixa d’água 20 mil litros

R$ 65 mil

Moega/Limpeza/ Silos pulmão

R$ 350 mil

Alojamento para 30 pessoas

R$ 100 mil

Duas casas, 2 escritórios e cantina

R$ 200 mil

Balança rodoviária para 100 toneladas D

R$ 150 mil

Embarcador de máquinas

R$ 10 mil

Infra-estrutura básica (cercas, etc.)

R$ 30 mil

Lavador e rampa para limpeza de máquinas

R$ 15 mil

Sistema de comunicação interno (rádios)

R$ 15 mil

TOTAL: R$ 1,54 milhão

Como todo negócio, é preciso ter um capital de giro até que tudo seja efetivamente implantado e comece a dar retorno…

Custo operacional: R$ 3,75 milhões

Despesas administrativas: R$ 375 mil

INVESTIMENTO TOTAL: R$ 11,8 milhões