09/06/2014 - 15:17
Enquanto os candidatos à Presidência acenam para o agronegócio e seguem numa corrida para conquistar os votos dos produtores brasileiros, o setor está cada vez mais organizado e engajado com a política nacional. Entidades estão definindo uma pauta de reivindicações para fazer o setor avançar e ainda prometem cobrar do futuro governo um posicionamento claro que favoreça o segmento, independentemente de quem for o grande escolhido nas eleições de outubro. “A primeira coisa a se fazer é priorizar, de fato, o agronegócio”, diz Luiz Carlos Corrêa, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). “Esperamos um presidente com uma visão prospectiva que nos traga visibilidade e previsibilidade.”
Segundo Corrêa, para isso é preciso provocar uma mudança cultural. “O Brasil ainda não entendeu que é um grande player global do agronegócio”, afirma. “Queremos políticas mais claras, objetivas, e estratégias de longo prazo.” Para o presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Almir Dalpasquale, que tomou posse do cargo no mês passado, o País avançou muito pouco no quesito infraestrutura. Por isso, essa questão continuará no rol das providências mais urgentes a serem tomadas, principalmente os investimentos nos portos. “Precisamos de um governo para destravar a logística, capaz de fazer com que os projetos saiam do papel.”
Outro tema caro ao setor é o seguro rural, na opinião do presidente da Sociedade Rural Brasileira, Gustavo Diniz Junqueira. “É muito pouco destinar cerca de R$ 700 milhões para o seguro rural, isso não corresponde a um setor que representa um terço do PIB brasileiro.” O presidente-executivo da Abramilho, o exministro da Agricultura Alysson Paulinelli, concorda: “Sem financiamento bem-feito e seguro rural, a agricultura não avança”. Paulinelli também reclamou da alta contínua nos preços dos alimentos nos últimos anos, creditando o problema à conjuntura política. “O Brasil é um dos países que mais tributam o consumo in natura no mundo”, diz. “Temos de acabar com a tributação excessiva.” Os dirigentes rurais também reclamam da legislação trabalhista, citando como exemplo as ações do Ministério Público do Trabalho, que responsabilizam a indústria da laranja por toda a mão de obra empregada no campo. “Há cobranças infundadas que só geram um aumento de custo para a citricultura”, diz Corrêa, da Abag. Para Junqueira, da SRB, falta compreender a dinâmica do setor. “Se você tem uma janela de plantio de 20 dias, precisa de pessoas dedicadas para não perder esse prazo. Depois pode haver uma compensação com folgas”, diz. “Só não devemos criar regras que não condizem com o agronegócio.” Junqueira lembra, ainda, que o Brasil carece de segurança jurídica, ao citar a política de demarcação das terras indígenas. “Essa questão não pode ser manipulada, precisa ser debatida seriamente no Congresso Nacional”, afirma.
Outro ponto defendido pelos representantes das entidades do campo é a desburocratização dos processos que envolvem o registro de produtos para a agricultura e a pecuária. Eles também estão de olho nos temas que envolvem o avanço da tecnologia e o uso de máquinas agrícolas. Para Corrêa, esse é o único caminho que garantirá o aumento da produtividade, citando como exemplo as tecnologias voltadas para a integração lavoura-pecuáriafloresta. “Esse é o conceito que deve mover o Brasil para o futuro”, afirma. Nesse caso, a expectativa é de que o novo governo favoreça esse avanço, dando apoio principalmente ao trabalho das cooperativas. “O cooperativismo é a grande força que viabiliza a difusão de tecnologias e o crescimento dos pequenos e médios produtores”, diz.
Ainda segundo Corrêa, a tendência é de que o agronegócio se articule cada vez mais na defesa de seus interesses. A Abag está desenvolvendo um plano político para o setor, que será discutido com todos os candidatos à Presidência e apresentado durante o congresso da entidade, previsto para setembro, às vésperas do primeiro turno das eleições. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), comandada pela senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), é outra que está se mexendo. Por meio de sua assessoria, a entidade informou que também vai elaborar um documento oficial com as principais demandas do setor, que será entregue ao próximo presidente. Ou presidenta.