05/09/2022 - 19:06
Um incêndio com indícios de atentado destruiu a sede de um instituto de pesquisa da Reserva Natural Nascentes do Rio Açungui, em Campo Largo, cidade a 30 km de Curitiba, no último dia 23. O local, uma área particular de 19 milhões de metros quadrados, é uma das últimas remanescentes com floresta de araucária no Paraná e abriga a nascente do Rio Ribeira, que corre para São Paulo e abastece mais de 5 milhões de habitantes no Estado. Cerca de um mês antes, os proprietários da reserva haviam denunciado a presença de madeireiros clandestinos na região.
A reserva particular fica dentro dos limites da Área de Proteção Ambiental da Escarpa Devoniana, que ocupa uma área de 392 mil hectares em 12 municípios por onde se espalham cânions, cachoeiras, estepes e campos. A região é o lar de, ao menos, menos 92 espécies de mamíferos, 337 de aves, 60 de répteis, 51 de anfíbios, e 92 de peixes, o que dá a dimensão do risco que as atividades ilegais representam para a fauna e flora locais.
De acordo com o investigador-superintendente da delegacia de Campo Largo, Clóvis Pinheiro, tudo indica que no caso do incêndio houve uma ação de criminosos. A casa foi incendiada e há indícios do uso de combustível, possivelmente querosene.
“Há muitos vestígios de que arrombaram a porta da frente, incendiaram parte da casa e só não incendiaram toda porque havia uma caixa d’água plástica na parte central que derreteu e impediu que pegasse fogo em tudo”, afirma o policial civil.
Segundo o presidente da fundação responsável pela manutenção da Reserva Natural Nascentes do Rio Açungui, Carlos Alberto Tavares Ferreira, na casa incendiada funcionava um centro de apoio e pesquisa, de 350 metros quadrados, que podia receber e hospedar cientistas. Na hora do incêndio, durante a noite, não havia ninguém no local, mas parte da história da reserva e material de pesquisa se perderam.
O prejuízo é de mais de R$ 1,5 milhão. “A insegurança aqui é grande. Havia quatro pessoas em uma casa ao lado na hora do incêndio”, afirma.
Para ele, trata-se de uma represália de madeireiros ilegais denunciados por ele. Além disso, há cerca de dois meses um grupo de grileiros tentou invadir a área da reserva. Eles chegaram a anunciar a venda de terras do local em redes sociais.
“É uma área que tem bastante demanda por terra e o instituto faz a preservação. Teve essa tentativa de invasão e estelionato com a venda de áreas do local e ele (Ferreira) apontou uma pessoa que estaria envolvida. Ela já foi intimada”, diz o policial civil.
O presidente da fundação teme que a situação se repita e diz que a região vem sendo alvo de ação de especuladores e criminosos. “Não estamos na Amazônia, estamos a 50 km de Curitiba, mas às vezes podemos estar ainda mais inseguros”, afirma Ferreira. “Estamos no meio da Mata Atlântica, onde vivem 70% da população do País.”