Uma situação chamou a atenção dos participantes da edição 2023 do programa Big Brother Brasil, da TV Globo. Durante uma conversa na academia da casa, o biomédico Ricardo percebeu na mão de Marvvila um “dedo extra”. A condição se chama polidactilia e é considerada pelos médicos uma alteração congênita comum, ou seja, ocorre desde o nascimento, e que normalmente não dificulta a vida do portador.

“Eu não sei como é o nome, só sei que é um dedo pendurado”, revelou a participante na noite desta terça-feira, 7. “Temos eu, a minha mãe, meu irmão, a irmã da minha mãe, os sete filhos da irmã da minha mãe, que são meus primos, e os filhos dos meus primos”, contou.

A condição pode ter causas genéticas, assim como má-formação durante a gestação ou estar associada a outras questões, como a síndrome de Down e a Síndrome de Turner. “Essa particularidade é bem comum, cerca de 1 a cada 500 pessoas nascem com polidactilia. Também é mais frequente em pessoas negras e cerca de 70% dos pacientes têm nos dois lados das mãos”, especifica o ortopedista membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e especializado em cirurgia da mão, Marcelo Araf.

O dedo extra costuma ser diagnosticado pelo próprio obstetra durante o parto ou em ultrassons.

O ortopedista pediátrico Fábio Silveira Matos, membro da Câmara Técnica de Ortopedia do Conselho Regional de Medicina da Bahia (CREMEB), conta que a maioria dos pacientes prefere fazer a cirurgia quando criança. “Depois da fase da pré-adolescência e adolescência, a gente tem a questão do bullying da escola. Além disso, a presença de dedos extranumerais pode atrapalhar a digitação em aparelhos eletrônicos e dificulta o uso de luvas, na prática de esportes”, explica.

Caso o paciente opte por fazer a cirurgia mais tarde ou até não fazê-la, também não é problema. “A maior dificuldade talvez seja dela se readaptar a usar uma mão ‘normal'”, resume.

Polidactilia é comum?

A polidactilia pode acontecer tanto nas duas mãos quanto nos dois pés, assim como pode acontecer nos dois membros de uma vez ou em apenas um específico. Marvvila possui a condição mais comum, polidactilia pós-axial, onde o surgimento é depois do dedo mindinho. “Geralmente é um dedo acessório não do lado do polegar, mas do lado oposto. Nisso, pode ser que tenha articulação e parte óssea, mas o mais comum é só uma ‘pelezinha’, com uma artéria pequena, e o dedo fica como se fosse um apêndice, sem poder mexer e pouca sensibilidade”, exemplica Araf.

Quais os riscos da cirurgia para retirar o dedo extra?

O procedimento é considerado simples e com risco quase inexistente. O problema é a anestesia, que requer maiores cuidados, especialmente se o paciente tiver menos de um ano de vida. Por isso, é sempre necessário exames de sangue para checar a saúde do pododáctilo antes da intervenção, além de radiografia para confirmar a presença de osso.

Caso o ‘dedo extra’ esteja ao lado do polegar, em qualquer um dos membros, é chamada de polidactilia pré-axial. “Essa com o polegar, que chamamos de polegar duplicado congênito, é uma polidactilia muito particular, mais complicada”, diz o especialista em mãos.

Há ainda a polidactilia central, muito rara, quando os dedos extras surgem no meio dos dedos regulares do pé.

Existe tratamento para a polidactilia?

Silveira explica que não há tratamento, apenas o cirúrgico, se o paciente o desejar. A cirurgia é feita tanto gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) quanto pela rede particular. O preço pode variar a depender da dificuldade: existem os pododáctilos simples, onde o dedo está preso apenas pela pele, e também casos mais complexos, quando o dedo possui osso formado.

“Você pode ter uma polidactinia que existe uma implicação do metacarpo ou de metatarso, então preciso cortar e separar o osso, necessitando uma anestesia geral”, diferencia.