11/11/2022 - 19:49
João Amoedo, que declarou voto no ex-presidente no segundo turno, é um dos críticos
Representantes de segmentos políticos que apoiaram a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticaram o discurso do petista anteontem em que ele critica dar prioridade “a tal estabilidade fiscal” em detrimento aos problemas sociais. A fala do presidente eleito derrubou a Bolsa e fez o dólar disparar na quinta-feira, 10.
“O discurso caiu mal não só para o mercado, mas também entre aqueles que acharam que a frente ampla, que foi essencial para a vitória dele no segundo turno, valeria também para o governo. Lula dava sinais positivos na transição, mas fez um discurso desnecessário. Foi um passo mal dado”, disse o presidente do Cidadania, Roberto Freire. O dirigente reiterou, porém, que mantém apoio ao governo Lula.
Fundador do Novo, o empresário João Amoedo, que declarou voto em Lula no segundo turno, seguiu na mesma linha. “Achei ruim e desnecessário ele fazer esse discurso na largada. Lula precisa sair do palanque. Mas ainda é prematuro dizer como será o governo dele. A transição trouxe coisas boas e ruins. Mas o mercado está volátil demais”, disse Amoedo.
Para o tucano José Aníbal, o contraponto exposto for Lula entre teto de gastos e gastos sociais não é válido. “É possível trabalhar nas duas frentes”, disse.
Apoiador de Lula desde do primeiro turno, o ex-chanceler tucano Aloysio Nunes Ferreira discorda. “Estão fazendo uma tempestade em copo d’água. Até os neoliberais de carteirinha sabem que Lula cuidou do superávit quando era presidente”, afirmou.
Em sua fala na sede do governo de transição na quinta, Lula afirmou: “Por que as pessoas são levadas a sofrerem por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal desse País? Por que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gastos, que é preciso fazer superávit, que é preciso fazer teto de gastos? Por que as mesmas pessoas que discutem teto de gastos com seriedade não discutem a questão social neste País?”, questionou, em discurso no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Como mostrou o Estadão, ganhou força na equipe de transição a opção de retirar as despesas do Auxílio Brasil do teto de forma permanente, o que desagradou o mercado. Para o setor financeiro, a saída que vem sendo negociada pela equipe de transição, que também teria de ser feita via PEC, pode deteriorar a trajetória de sustentabilidade da dívida pública.