O agronegócio brasileiro é carta importante no jogo geopolítico mundial. De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), o Brasil deverá ser o principal exportador mundial de alimentos da próxima década, peça chave para abastecer 80 milhões de pessoas que nascem na Terra a cada ano – a maioria na Ásia, América Latina e África.

Já somos 7,3 bilhões de habitantes no planeta, população que está crescendo a 0,33% ao ano, ao mesmo tempo em que a expectativa de vida das pessoas está aumentando de modo consistente, em particular no chamado “mundo desenvolvido”.

Nosso país chegou a esse protagonismo no agronegócio com base em um modelo produtivo e de negócios assentado em tecnologia intensiva e contínua expansão da produtividade – tanto na produção vegetal como animal. Nossos índices de eficiência no campo mostram isso: nos últimos 20 anos, por exemplo, a produção brasileira de grãos cresceu a uma taxa anual de 4,8%, enquanto a área plantada cresceu 2,1% e a produtividade 2,7% ao ano¹.

Olhando para a “Produtividade Total dos Fatores de Produção” (terra, capital e mão de obra), nos últimos 40 anos o Brasil cresceu 3,5% ao ano, índice que é o dobro da performance dos EUA (1,75% a.a.), no mesmo período.

Esse modelo certamente continuará sendo uma grande alavanca para o futuro do nosso agronegócio – e também para a economia do país. Mas, talvez, isso não seja o suficiente, pois hoje os desafios da produção de alimentos, fibras e bioenergia ultrapassam a dimensão quantitativa das safras e dos rebanhos.

Para quem olha para o agronegócio de amanhã, a ordem do dia inclui preservar a terra, criar novos padrões de defesa fitossanitária e biossegurança animal, adotar tecnologias compromissadas com o manejo sustentável dos recursos naturais, fomentar o uso racional e consciente dos insumos e fatores de produção.  Isso tudo sem perder eficiência.

Essa ponte com o futuro parece que o nosso agronegócio já está construindo. No passado, combinamos produtividade e sustentabilidade através do plantio direto. Hoje, essa visão de alta produção sustentável ganha espaço por meio dos sistemas ILF ou ILPF (integração de lavoura, pecuária e floresta), da biodigestão de resíduos orgânicos e da agricultura de precisão, com seus impactos positivos para maior produção por área, enfoques conservacionistas de água e solo, racionalização de insumos e custos.

No plano estratégico dos mercados – e pensando no agronegócio global — a visão essencial será investir em diferenciais competitivos e agregar valor, lembrando que nos mercados mais maduros (países desenvolvidos), em que o consumo de alimentos já é alto e o ritmo de crescimento populacional baixo, as melhores oportunidades de valor estão em inovação de produtos e mudança dos hábitos de consumo.

Ou seja, foco qualitativo diferenciado. No contraponto, os países em desenvolvimento (como os BRICS)² revelam-se mais dinâmicos em produtos com demanda alavancada pelo crescimento econômico ou por fluxos migratórios fortes do campo para as cidades, como ocorre hoje na China. É o caso de proteína animal como frango e suínos, ou grãos a eles associados. (1) Projeto Agrotendências, Ivan Wedekin – Wedekin Consultores. (2) Brasil, Rússia, India, China e África do Sul.