10/04/2018 - 11:32
Desde que o clima entrou para a agenda geopolítica mundial, dois consensos foram construídos ao longo de inúmeras conferências e estudos sobre o assunto: o primeiro é que é preciso que todos colaborem para mitigar mudanças climáticas. O segundo é que essa mitigação depende de uma redução no desmatamento mundial. No setor privado, essa agenda gerou inúmeros compromissos públicos entre traders, indústrias processadoras, multinacionais, varejistas e financiadores. A implantação desses compromissos pretende desvincular o desmatamento das cadeias de valor de commodities.Concordando-se ou não com as premissas, esse é um problema comercial com o qual o Brasil precisa lidar. Somos grandes produtores de commodities e grandes detentores de ativos florestais.
Mas, cumprir essas promessas é uma tarefa complexa. Commodities são, por definição, produtos que não precisam de diferenciação para serem comercializados. Como garantir então um produto sustentável? Alguns setores adotaram a certificação como saída. Outras iniciativas apoiaram-se em mesas-redondas para definir princípios e critérios de um produto sustentável. Outras ainda apelaram a sanções simplesmente excluindo produtores com desmatamento recente da cadeia de fornecimento, como é a moratória da soja ou os acordos dos frigoríficos na Amazônia.
Em artigo recente na Nature Climate Change, um time de especialistas no assunto analisa a efetividade das iniciativas de cadeia sobre o desmatamento global, e conclui que esse impacto ainda é largamente insuficiente para reduzir o desmatamento como um todo, embora essas iniciativas possam ter impacto no comportamento de produtores e no desmatamento associado à cadeia de valor alvo.
Os motivos são vários. As sanções, por natureza, excludentes, geram vazamentos e causam impactos ainda não muito bem compreendidos. As certificações são complexas, têm custo alto e demoram a ganhar escala. Parte do desmatamento está fora do escopo das cadeias de valor, especialmente se relacionado às atividades ilegais. E não há como as iniciativas do setor privado terem efeito se não forem combinadas com políticas públicas que as complementem em seus objetivos.
Trabalhar a redução do risco socioambiental de forma jurisdicional é hoje a melhor resposta aos desafios que temos pela frente. Em vez de trabalharmos para garantir que um produto seja sustentável, trabalhamos para que uma paisagem inteira de um município, de um Estado ou de um país seja sustentável, independentemente de quais cadeias produtivas se inserem nesta paisagem.
E se de fato o mundo busca sustentabilidade em suas cadeias de suprimento, o Código Florestal pode ser o grande diferencial para o agronegócio brasileiro. Não estamos mais exportando apenas commodities, mas commodities atreladas à restauração de áreas, a mais de 60% de ativos ambientais conservados e à redução de emissões. Ao unir os esforços públicos e privados em ações estratégicas voltadas à criação de mecanismos de financiamento, à regularização fundiária e ambiental, ao acesso a mercados e à produção e difusão de tecnologia e de boas práticas para grandes e pequenos produtores, criamos um leque de oportunidades para os atores presentes na paisagem rural. Incluindo aí, garantir a transição de um ambiente de baixo risco para os setores privados, tanto de fornecimento como de investimento, contribuindo para a alavancagem de novos negócios na jurisdição e a ampliação de mercados para o agronegócio.