Quem compra melão em sacolões, feiras e supermercados já esbarrou com produtos embalados com uma “redinha”. O pacote, no entanto, não está relacionado com necessidades de armazenamento da fruta, e sim com a criação de marca de uma das empresas líderes no mercado da fruta: a Itaueira, responsável pelo melão Rei.

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Com um faturamento de R$ 481,5 milhões em 2024, a Itaueira tem o melão como seu carro chefe, responsável por cerca de 80% das receitas. As frutas do Melão Rei contam com sistema de rastreabilidade por QR Code e, caso não estejam doces, geram direito a uma nova fruta.

A redinha tornou-se a forma para o consumidor diferenciar a marca das demais produtoras de fruta nos supermercados, porém seu uso na construção de marca começou de forma acidental. Em 2021, menos de dois anos após o início da comercialização do melão da empresa, uma de suas primeiras safras gerou melões muito pequenos. Para competir com os exemplares de três ou quatro quilos, a empresa comercializava três melões dentro de uma rede.

Primeira safra de Melão Rei na redinha
Primeira safra de Melão Rei na redinha

“Nós tivemos um problema de produção que a fruta ficou pequena”, explica o diretor presidente da Itaueira, Tom Prado. “Quando acabou o estoque do melão pequeno, nós voltamos a vender sem redinha. Só que aí o consumidor pedia no mercado: ‘Eu não quero um melão comum não, eu quero aquele da redinha.”

A embalagem tornou-se assim parte da construção de marca. Quando outros produtores adotaram o acessório, a Melão Rei passou a adotar ainda outros critérios de diferenciação na sua apresentação: a etiqueta e uma fita com o texto “Rei”.

Como garantir um melão doce

A Itaueira conta com um departamento de pesquisa que trabalha em constante contato com universidades brasileiras e estrangeiras, além de colaboradores como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). “Você tem que ter solo adequado, água adequada, clima adequado, manejo adequado, seleção de variedades adequadas, o uso dos fertilizantes adequados e no momento certo, na quantidade certa…”, enumera Tom Prado.

Um dos exemplos de melhorias tecnológicas da empresa foi o desenvolvimento de 3 mil colmeias para realizar a polinização nas plantações a partir de uma pesquisa iniciada em 2004. “Nós verificamos que as colmeias que nós arrendávamos tinham população de abelha inferior ao ideal. Então nós começamos um trabalho para aprender a fazer uma colmeia robusta, para ter uma polinização boa em todas as áreas”, explica. Como resultado, a empresa ainda inaugurou uma marca de mel em 2019.

Os irmãos José Luís Prado (esq.), Tom Prado (centro) e Caito Prado (dir.), diretores da Itaueira
Os irmãos José Luís Prado (esq.), Tom Prado (centro) e Caito Prado (dir.), diretores da Itaueira. Crédito: Divulgação

A garantia do melão doce, no entanto, ainda é fruto de um processo de seleção. A empresa seleciona amostragem dos melões de uma determinada plantação, e apenas comercializa pela marca Rei se houver certeza da qualidade. Caso uma safra seja classificada como intermediária, o melão é vendido por outra marca do grupo: Cepi. Se a qualidade estiver ainda mais baixa, há uma terceira marca mais barata no grupo: Gaia.

Hoje, o melão é produzido em fazendas, na Bahia, Ceará e Piauí, garantindo colheita o ano inteiro, com diferentes safras e, assim, maiores possibilidades de acerto na qualidade.

“Quando a gente acha que o produto não tem capacidade de ser marcado como nenhuma marca nossa, a gente não vende com marca. A gente oferece pro mercado a granel. As pessoas compram às vezes para alimentação do gado”, explica o diretor comercial da Itaueira, Caito Prado. Hoje, o melão é produzido em fazendas no Ceará, Piauí e Bahia.

Construção de marca

A combinação entre pesquisa de qualidade e construção de marca é realizada pela Itaueira desde sua criação, na década de 1990, quando implementou o sistema de bandejinhas transportadas em caixas abertas para vender caju plantado no nordeste na região Sudeste.

Caixas de Caju da Itaueira na década de 1990
Caixas de Caju da Itaueira na década de 1990. Crédito: Divulgação

O caju ficou para trás conforme o melão cresceu. Hoje, a outra aposta da Itaueira está na melancia, que responde por cerca de 5% de faturamento. O fruto é comercializado com a marca Magali, licenciada da Maurício de Souza Produções. O uso do nome da personagem no lugar da marca Rei também teve início acidental. “Fizemos uma edição e, do mesmo jeito que o pessoal chegou procurando pelo melão da redinha, eles começaram a procurar pela melancia da Magali. Era o mesmo produto, a marca era diferente”, explica Caito Prado.

A empresa mantém ainda outras produções. Há o já citado mel, camarão, pimentão, uvas e sucos concentrados feitos com caju e acerola de produtores terceirizados. Com variações ano a ano, eles respondem juntos pelos 15% restantes do negócio da empresa.

Com estrutura familiar — o conselho da empresa conta com os fundadores, Carlos Prado e José Roberto Prado, pai e o tio dos irmãos Prado — a empresa não vislumbra um IPO. No momento, celebra a retomada de suas exportações após anos de baixa produção devido a problemas climáticos em uma fazenda no Ceará. Neste ano, a produção total da empresa foi de 72 mil toneladas de melão e 10 mil de melancia.

“A gente não tem pretensão de crescer de forma muito acelerada. A gente cresce à medida que a gente consegue manter o padrão de qualidade e que existe demanda no mercado pros nossos produtos. Então, em vez da gente empurrar a venda, a gente procura puxar a produção”, diz Tom Prado.

Seleção de melões da Itaueira
Seleção de melões da Itaueira. Crédito: Divulgação