Volks-Tractor: encomendado por Adolf Hitler, os estilosos tratores projetados por Ferdinand Porsche ajudaram a recostruir a Alemanha após a Segunda Guerra Mundial

Você já se imaginou acelerando um Porsche em meio a uma lavoura de trigo? Pois saiba que essa era uma atividade muito comum entre os produtores rurais europeus dos anos 1950 e 1960, época em que a montadora fundada por Ferdinand Porsche ainda era mais conhecida por seus tratores do que pelos superesportivos. Hoje vistas apenas como peças de colecionador, essas máquinas cheias de estilo foram de extrema importância para os agricultores alemães após a Segunda Guerra Mundial. Talvez por isso, um exemplar bem conservado dessa relíquia vale muitos milhares de euros.

Mas a história destas máquinas teve início pouco antes da Segunda Grande Guerra, em 1937, quando Adolf Hitler encomendou às montadoras locais o que chamava de “Volks-Tractor”, ou trator do povo, visando fomentar a agricultura na região. Hitler queria uma máquina robusta, simples de operar e, principalmente, com preço acessível. Empresário de visão, Ferdinand Porsche logo se interessou pelo negócio, chegou até a fazer alguns protótipos, mas, com o início da guerra, viu seus planos rurais congelarem por quase duas décadas.

Cayenne: utilitário esportivo lançado em 2009 é o primeiro veículo movido a diesel produzido pela Porsche em 45 anos

O primeiro trator Porsche saiu da linha de montagem em Friedrichshafen – na mesma fábrica em que eram fabricados os Zepellin – apenas em 1956, e foi um sucesso imediato de vendas. Oferecido em quatro versões, Junior (14 cv), Standard (25 cv), Super (38 cv) e Master (50 cv), vendeu mais de dez mil exemplares apenas no primeiro ano. Com as vendas a todo vapor, novos modelos foram lançados nos anos seguintes, mas a produção teve que ser interrompida em 1963 para que a fábrica passasse a produzir somente motores para tanques de guerra. Era o fim da linha para os tratores Porsche.

Ao todo, cerca de 125 mil máquinas foram vendidas entre 1956 e 1963 na Europa e nos Estados Unidos, algumas em funcionamento até hoje. Mas a grande maioria, como não poderia deixar de ser, está nas mãos de colecionadores, que veem nele um ícone do design. Com toda razão, afinal, os tratores Porsche não se pareciam em nada com as máquinas agrícolas da época. Segundo especialistas, seu design teria sido inspirado no Fusca, outro sucesso de vendas saído da prancheta de Ferdinand Porsche.

Mas os tratores Porsche não eram apenas bonitos. Fabricados com o que havia de mais avançado em tecnologia, eram modernos e funcionais. Uma das principais novidades trazidas pelo modelo foi o câmbio automático. Segundo os engenheiros responsáveis pelo projeto, os agricultores de então não eram capazes de manejar os implementos com eficiência enquanto trocavam as marchas. Para facilitar ainda mais a vida dos operadores, as máquinas tinham tração nas quatro rodas, equipamento até então exclusivo dos veículos militares.

Outro diferencial dos tratores Porsche era o motor movido a óleo diesel, refrigerado a ar, muito mais eficiente e durável que os propulsores a gasolina utilizados pelas máquinas agrícolas da época. Curiosamente, não tiveram vida longa. Mesmo tendo uma boa aceitação entre os produtores, os motores diesel foram abandonados pela montadora logo após o fim da produção dos tratores, em 1963.

Mesmo não fabricando mais tratores, a montadora retomou o projeto de um motor a diesel, porém, num carro de passeio. Após 45 anos fabricando apenas veículos movidos a gasolina, a fábrica alemã apresentou em março, no Salão do Automóvel de Genebra, uma nova versão da Cayenne. O que poderia soar como uma volta ao passado da marca, na verdade é um tiro em direção ao futuro. Com 240 cavalos de potência, o veículo promete acabar com a fama de poluidor do meio ambiente, emitindo apenas 244 gramas de CO2 por quilômetro rodado.

Assim como nos anos 1950, a Porsche quer mais uma vez revolucionar o mercado com um veículo a diesel. Quem sabe, daqui há 50 anos, os colecionadores dos estilosos tratores Porsche não adicionem algumas Cayenne às suas frotas. É esperar para ver…