22/02/2021 - 13:01
A postura de Jair Bolsonaro no caso de Daniel Silveira tem a ver, no primeiro plano, com uma busca por bom relacionamento com os demais Poderes e pelo cultivo de uma base radical que pode colocá-lo em um eventual segundo turno da disputa de 2022. “Ao ficar em silêncio, ele não desagrada o setor mais fiel, como também não cria atrito com o STF”, analisa o sociólogo e cientista político Paulo Baía, da UFRJ.
Por outro lado, o jogo duplo do presidente – moderado em Brasília e apoiador de radicais nas redes – é um método por meio do qual ele não desperdiça a oportunidade de propagar sua forma de fazer política. É um estilo que exige vigilância permanente, segundo adversários, por causa dos arroubos que o acompanham desde a época nos quartéis. Na avaliação do ex-senador Cristovam Buarque, Bolsonaro tem uma preocupante “vocação autoritária”.
“O silêncio é uma ambiguidade que não merece a confiança dos democratas”, disse. “A vocação autoritária faz ele simpatizar plenamente com esse deputado. Não podemos confiar no silêncio dele”, ressaltou. “Ele está em silêncio enquanto achar que as instituições têm força.”
O silêncio de Bolsonaro agora remete a outro episódio de atrito com o Judiciário, em junho de 2020. O prédio do STF foi alvo de uma chuva de fogos de artifício lançados por grupos de apoiadores do presidente. O ato gerou apreensão em Brasília por receio de escalada da violência contra críticos do governo e das instituições. Uma manifestação de Bolsonaro desencorajando sua claque era esperada na Praça dos Três Poderes, mas não apareceu.
A falta de repreensão incomodou até mesmo auxiliares do governo que trabalham por estabilidade na relação com o Judiciário. O presidente fez ouvidos de mercador e deixou livre a militância. Quando convém, contudo, ele manobra os apoiadores e direciona a narrativa dos militantes nas redes sociais. Foram os gestos dele que transformaram os ex-ministros Sérgio Moro e Luiz Henrique Mandetta de aliados em “traidores” e “marqueteiros”, mesmo sem terem rompido ou criticado o presidente enquanto nomeados no primeiro escalão.
Em maio passado, mais uma vez, Bolsonaro deu sinal verde à brutalidade por parte de extremistas. Jornalistas foram agredidos enquanto trabalhavam na cobertura de uma manifestação pró-governo com pautas antidemocráticas e inconstitucionais, em frente ao Palácio do Planalto. O presidente jamais repreendeu publicamente os agressores, nem recomendou que os radicais respeitassem o papel da imprensa livre. Pelo contrário, reiteradamente, ele mesmo incentiva ataques. Na semana passada, em meio à crise sanitária e econômica, apareceu em uma transmissão ao vivo de Eduardo Bolsonaro defendendo o fechamento de jornais.
Eduardo é alvo de duas representações no Conselho de Ética da Câmara. Uma delas, movida pelo PSOL e pela Rede, pede a perda do mandato por entender que ele quebrou o decoro parlamentar ao sugerir um “novo AI-5”, se “a esquerda radicalizar”. A denúncia está parada há mais de um ano, em razão da suspensão dos trabalhos do colegiado, provocada pela pandemia de covid-19. As reuniões serão retomadas na próxima terça.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.