06/08/2025 - 15:21
Mesmo com alguns setores poupados, os pescados não escaparam do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Com isso, todos os produtos da piscicultura nacional que chegarem aos EUA passarão a pagar uma tarifa de 50% a partir desta quarta-feira, 6. Dada a relevância do mercado americano para as exportações do setor, entidades questionam o governo brasileiro pedindo soluções concretas e imediatas.
A IstoÉ Dinheiro procurou o Ministério da Pesca e da Aquicultura (MPA) e o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) para um comentário sobre eventuais medidas de socorro ao setor e aguarda retorno.
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Em 2024, 90% dos pescados exportados pelo Brasil (majoritariamente tilápia), tiveram os Estados Unidos como destino. Em receita o valor se aproxima de 53 milhões de dólares. Peru (4%), China (2%) e Canadá (2%) foram os outros destinos.
Esses números preocupam o setor que não vê outros caminhos para as exportações nacionais.
Após se reunir com representantes do Governo Federal na segunda-feira, 4, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), Eduardo Lobo, se queixou da falta de medidas que resolvam a situação dos piscicultores brasileiros: “Tínhamos muita expectativa, mas foi um pouco frustrante.”
“Mais uma vez repetimos as mesmas coisas, fizemos novamente as mesmas demandas, mas parece que o governo ainda não entendeu a urgência que nós temos. O tempo não é de 60 dias, 90 dias, 6 meses. O nosso tempo é uma semana. Nós estamos em plena safra. Vários tipos de pescados estão sendo capturados nesse momento com o intuito de exportação para o mercado americano”, disse Lobo.
A estimativa é que o tempo médio de transporte marítimo até os EUA seja de 18 a 20 dias, por isso a preocupação do setor com possíveis mercadorias excedentes que levem a prejuízos.
Demanda por linha de crédito
O presidente da Abipesca disse ainda que a principal necessidade do setor são novas de linhas de crédito, sobretudo para os pequenos produtores.
“É importante que o governo entenda a nossa urgência. Nós não vamos ficar de braços cruzados em relação a mercado, mas a gente precisa de um socorro. Porque enviamos mais de 60% das exportações para o mercado americano e com essa taxa o produto brasileiro ficou totalmente fora de competitividade”, explica.
Exportadores recebem tarifaço com indignação
A Bello Alimentos, empresa produtora e exportadora de tilápias sediada no Mato Grosso do Sul, disse em nota enviada à Dinheiro Rural que recebeu a notícia da tarifa de 50% imposta por Trump com “preocupação e indignação”. Mais de 30% da produção mensal da empresa tem os Estados Unidos como destino.
“A aplicação dessa tarifa compromete de forma imediata a viabilidade dessas exportações. Essa situação gera um excedente de produção que impacta não apenas a empresa, mas toda a rede de integrados, fornecedores e parceiros, que dependem diretamente da continuidade do fluxo de vendas para manter suas atividades”, diz a nota.

Segundo a empresa, as tarifas podem levar a desligamentos “inevitáveis” se a situação se prolongar, devido à queda significativa nas vendas e nos pedidos, que por sua vez impactará o faturamento.
Haddad entrega hoje plano contra efeitos do tarifaço
O ministro da fazenda Haddad informou nesta quarta-feira, 06, que o plano com medidas de concessão de crédito para as empresas mais impactadas pelo tarifaço; e aumento das compras governamentais.
“Ele está pronto. Ontem nós procuramos entender a encomenda do presidente em relação ao detalhamento. Dissemos para ele que a questão empresa por empresa não precisa evidentemente ser tratada em lei. Pode ser objeto de regulamentação. Provavelmente o ato do presidente será uma medida provisória, para entrar em vigor imediatamente”, acrescentou
Veja a nota na íntegra da BELLO ALIMENTOS:
“A BELLO ALIMENTOS LTDA, produtora de tilápias sediada no estado do Mato Grosso do Sul, manifesta extrema preocupação e indignação diante da recente decisão do governo dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre as importações de pescado brasileiro. Esta medida é um duro golpe para o setor aquícola nacional e ameaça diretamente a sustentabilidade de nossas operações.
Atualmente, mais de 30% da nossa produção mensal é destinada ao mercado norte- americano, e a aplicação dessa tarifa compromete de forma imediata a viabilidade dessas exportações. Essa situação gera um excedente de produção que impacta não apenas a empresa, mas toda a rede de integrados, fornecedores e parceiros, que dependem diretamente da continuidade do fluxo de vendas para manter suas atividades.
A decisão impõe riscos reais e urgentes:
- Excedente de tilápias e prejuízos aos integrados: a redução das exportações resultará em acúmulo de peixe vivo, impossibilitando o escoamento adequado da produção, pressionando a capacidade de alojamento e colocando em risco a renda dos produtores integrados.
- Comprometimento de empregos: com a queda significativa nos pedidos e a redução do faturamento, haverá impactos diretos na manutenção dos postos de trabalho, podendo levar a desligamentos inevitáveis se a situação se prolongar.
- Quebra da competitividade brasileira: a tarifa cria um cenário de desvantagem frente a outros países exportadores, colocando em xeque anos de investimentos em qualidade, tecnologia e expansão internacional do setor.
Estamos mobilizados junto a associações do setor e autoridades brasileiras para buscar uma solução urgente. No entanto, é importante destacar que, sem medidas imediatas que restabeleçam a competitividade do pescado brasileiro nos Estados Unidos, toda a cadeia produtiva poderá sofrer consequências irreversíveis, com perdas econômicas, sociais e ambientais significativas.
A Bello Alimentos reafirma seu compromisso com os colaboradores, integrados e parceiros, mas alerta que a manutenção dessa tarifa por prazo prolongado trará efeitos devastadores para o setor aquícola nacional, exigindo ação firme e célere do governo e dos órgãos competentes.”
Exportações seguem
Em resposta a Dinheiro Rural, a Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR) disse que até as tarifas começarem a entrar em vigor, as embarcações de filé fresco de tilápia seguem normalmente por via aérea. “Nós continuamos conversando com os parceiros americano para inclusão da tilápia, mas acreditamos ser fundamental o início das negociações do presidente Lula com o presidente Trump”, disse.
*Estagiário sob supervisão