A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, reconheceu que houve divergências na decisão de subir juros em 50 pontos-base (pb) nesta quinta-feira, 16. Em entrevista coletiva de imprensa, Lagarde informou que “três ou quatro” dirigentes não apoiaram a definição da política monetária.

Com a decisão, a taxa de refinanciamento do BCE passará de 3% a 3,50%, a de depósitos, de 2,50% a 3%, e a de empréstimos, de 3,25% a 3,75%.

Segundo a banqueira central, os dissidentes queriam mais tempo para entender o desenrolar das turbulências no setor bancário global, alimentadas pela quebra de bancos regionais americanos e as incertezas quanto ao Credit Suisse.

Apesar disso, ela explicou que “nenhuma outra opção para juros foi proposta”. “A grande maioria dos dirigentes apoiou decisão de juros de hoje”, ressaltou.

Transmissão da política monetária

Christine Lagarde explicou que a transmissão do aperto da política monetária para a economia real “parece” ter acontecido de forma rápida.

Segundo ela, o processo ocorre principalmente pela canal do crédito.

Inflação

A presidente do BCE afirmou que a inflação deve permanecer “muito alta por muito tempo” na zona do euro, o que justificou a decisão de subir juros em 50 pontos-base na reunião deste mês.

Christine Lagarde ponderou que as projeções do BCE foram finalizadas antes da emergência de turbulências nos mercados financeiros.

“Como tal, essas tensões implicam incerteza adicional em torno das avaliações de base da inflação e do crescimento”, explicou a dirigente.

Pequena melhora

A presidente do Banco Central Europeu afirmou, no entanto, que houve “melhora” na inflação na zona do euro em relação ao pico registrado no ano passado. Ponderou, contudo, que ainda há um caminho a ser percorrido para assegurar a estabilidade de preços.

Justamente por isso, ela considerou a decisão de subir juros em 50 pontos-base “robusta” e justificada pelas condições atuais “Não vamos recuar de nosso compromisso de combate a inflação”, garantiu.

Explicou que o mercado de trabalho ainda “forte” impulsiona as pressões salariais, enquanto a reabertura da China pode acelerar os preços das commodities. Segundo ela, os riscos para as perspectivas de crescimento econômico pendem para baixo.

Christine Lagarde acrescentou que, se o cenário delineado pelas projeções persistir, o BCE terá muito mais terreno a cobrir para retornar a inflação à meta de 2%.

Para ela, a ajuda fiscal a consumidores pelo encarecimento da energia deve ser temporária e direcionada.

“À medida que preços de energia caírem, é importante começar a retirar apoio a consumidores”, argumentou ela, que espera recuperação da economia nos próximos trimestres.

Liquidez

Em meio a incertezas sobre a saúde de bancos, a presidente do Banco Central Europeu assegurou que não enxerga um cenário de crise de liquidez, mas reforçou que a autoridade monetária está “pronta para agir” se o quadro geral assim exigir.

Ela acrescentou que o setor bancário está em posição mais forte do que em 2008, quando a quebra do Lehman Brothers disseminou uma crise financeira a nível mundial.

Crédito

A presidente do Banco Central Europeu alertou nesta quinta-feira que as “tensões elevadas” nos mercados financeiros podem apertar as condições de crédito e prejudicar a confiança. “Estamos monitorando de perto as atuais tensões do mercado e estamos prontos para responder conforme necessário para preservar a estabilidade de preços e a estabilidade financeira na área do euro”, afirmou.