Desde 2008, quando foi produzido o primeiro azeite nacional, o Brasil vem ganhando cada vez mais espaço no mercado de azeites premium e colecionando prêmios internacionais. No ranking Flos Olei de 2025, conhecida como a ‘Bíblia do Azeite’, 11 azeites brasileiros estão presentes entre os 500 melhores do mundo. 

Porém, o desafio de se produzir azeite no Brasil é grande, pelo fato de o país ser tropical e com o clima quente na maior parte do ano. A Dinheiro Rural conversou com o empresário Bob da Costa, fundador do Azeite Sabiá, sobre as dificuldades e as perspectivas da olivicultura no país.

Qual a diferença no processo?

A diferença entre a produção de um azeite extravirgem de massa e um especial passa pelas diversas fases da produção. Desde a colheita, feita de forma manual e precoce, com a azeitona longe da maturação, até a parte de transporte, armazenamento e esmagamento do fruto. 

Azeitonas precisam ser armazenadas em caminhões frigoríficos assim que são colhidas

Oliveira precisa de frio constante

As duas regiões produtoras de azeite no Brasil são o Rio Grande do Sul e a Serra da Mantiqueira (entre os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro), por conta do clima frio e da alta altitude. Costa explica que o motivo para isso é que a oliveira precisa de frio constante para florescer e dar azeitonas de qualidade. 

“Para produzir azeitonas de qualidade, a oliveira precisa passar por um período de estresse térmico. Este período é fundamental para que a árvore adormeça, sinta-se ameaçada e reaja, produzindo a flor que se transformará em fruto. Boas produções acontecem quando a árvore passa cerca de 300 horas abaixo de 12ºC”, explicou Costa. 

Velocidade no armazenamento

A azeitona é um fruto muito sensível e começa a se deteriorar assim que sai da oliveira. Para evitar que o processo de oxidação prejudique a qualidade do azeite, Costa explica que investiu em um caminhão refrigerado onde as azeitonas são colocadas assim que são colhidas. 

“A rapidez e agilidade no processamento são cruciais porque a azeitona, ao ser retirada do pé, inicia um processo de oxidação. Um desafio muito grande atualmente é ter uma agilidade muito grande entre a colheita e a extração. Atualmente, o tempo desde a árvore até o azeite pronto é de 1 hora e meia a 2 horas”, explicou o produtor.

 A colheita na região da Mantiqueira geralmente ocorre entre o final de janeiro e fevereiro. A colheita nesta região é mais tranquila em termos de quantidade, podendo levar de 10 a 15 dias.  Já no sul, começa geralmente em março, ou final de fevereiro, e se estende até abril. 

Produção nacional não atende nem 1% da demanda

Apesar do aumento da produção, o azeite brasileiro ainda é um produto de nicho para quem quer pagar um pouco mais. De acordo com a Ibraoliva, entidade que representa os produtores nacionais, a maior safra de azeite produzida no país foi em 2023, com 640 mil litros. Para se ter uma ideia, o consumo anual de azeite no país é próximo de 100 milhões de litros. 

A expectativa da entidade era de que em 2026 se chegasse a uma produção de 1 milhão de litros, mas com a frustração das duas últimas safras no Rio Grande do Sul e deste ano na Mantiqueira, os números estão bem abaixo das expectativas.

Sabiá conta com área no Rio Grande do Sul para aumentar a margem de lucro

Trabalhando com margens muito pequenas na produção em Santo Antônio do Pinhal (SP), Bob foi aconselhado por um agrônomo a expandir a sua produção para o Rio Grande do Sul, onde o clima é mais propício para a produção de azeitonas. 

Foi em 2018, então, que o empresário adquiriu uma fazenda na cidade gaúcha de Encruzilhada do Sul, com 110 hectares de área plantada, contra 17 na Mantiqueira. 

“Apesar da excelente qualidade do azeite produzido na Mantiqueira, um agrônomo me alertou que  a olivicultura ali seria mais um ‘hobby’, por conta das condições climáticas, já que por chove muito no momento do desenvolvimento da flor e da polinização. Foi aí que a gente adquiriu a fazenda no Rio Grande do Sul, para ter mais escala de produção e sofrer menos com o clima”, afirmou. 

Para garantir uma produção de 30 mil litros na próxima safra, Costa afirma que a companhia vai produzir também em um pomar ao lado da fazenda na cidade gaúcha, de 70 hectares. Toda a produção será tocada pela Sabiá. 

Outros números da produção nacional

  • A área plantada com oliveiras no Brasil é de aproximadamente 10.000 hectares, com maior concentração no Rio Grande do Sul (6.200) e na Serra da Mantiqueira (3.000); 
  • O município com maior área plantada é Encruzilhada do Sul/RS, com mais de 1.000 hectares;
  • O número de produtores estimado é de 550 (340 no Rio Grande do Sul e 200 na Mantiqueira); 
  • Os azeites são produzidos em 70 lagares;
  • Produção no Rio Grande do Sul em 2024 foi de 193.150 litros e na Mantiqueira de 150.000 litros; 
  • Este ano os números do Rio Grande do Sul (totalização ainda não foi encerrada) devem ficar abaixo de 190.000 litros e na Mantiqueira ficou em 50.000 litros, ou seja, 24% do volume que se esperava para 2026.