10/11/2014 - 12:14
Em Costa Rica, município localizado no norte de Mato Grosso do Sul, nos últimos meses foi intenso o movimento de caminhões, tratores e colhedoras nos canaviais da Odebrecht Agroindustrial, o braço agrícola do grupo baiano Odebrecht. O tráfego de máquinas para tirar do campo a safra 2014/2015 dos mais de 40 mil hectares cultivados vinha atravessando, inclusive, as madrugadas. Mas essa não é uma realidade isolada das máquinas da unidade de Costa Rica. Ela tem sido a rotina diária nas nove usinas destinadas à produção de etanol, açúcar e energia elétrica que a empresa mantém em outras duas unidades no Estado, além de Goiás, Mato Grosso e São Paulo. No total são 400 mil hectares em produção.
“A Odebrecht está moendo 26 milhões de toneladas de cana nesta safra”, diz Luiz Paulo Sant’Anna, superintendente da unidade de Costa Rica. “Estamos crescendo a uma média superior a 10% ao ano e precisamos melhorar o desempenho em todos os setores da empresa.” Para dar conta do recado, a alta tecnologia está saindo do centro da produção, a usina propriamente dita, e indo para um setor que se transformou numa eterna pedra no sapato: a logística do transporte. “Para alavancar nosso desempenho, estamos apostando na melhoria da eficiência, do momento em que a cana é colhida até chegar ao pátio da usina”, diz Otávio Fonseca, responsável pela logística agroindustrial da Odebrecht. “Por isso, automatizamos todas as informações relativas ao transporte.” Isso foi possível com a adoção de um projeto de telemetria que começou a ser implantado há três safras. “Na atual, a telemetria definitivamente está funcionando a todo vapor”, diz Fonseca. O projeto inclui computadores de bordo com transmissão de dados, via sinal de celular ou satélite, em todas as 290 colhedoras de cana e nos 419 caminhões da frota da empresa. “Antes, não tínhamos a visão real do quanto de cana estava em trânsito, se o trabalho da equipe de colheita estava rendendo ou se um caminhão perdia muito tempo na indústria ou no campo”, diz Fonseca. “Mas essas informações são capitais para o negócio, pois sem cana para moagem a usina para.”
O projeto de telemetria, uma das ferramentas da agricultura de precisão, foi desenhado sob medida a partir das necessidades apontadas pela própria empresa, mas pode ser aplicado em qualquer tipo de negócio agrícola, como uma propriedade de produção de grãos que queira acompanhar online como está o andamento da colheita, se as máquinas estão efetivamente trabalhando, quanto está sendo transportado e qual o impacto dessas operações no negócio como um todo. “Não é só produzir que importa, mas como gerenciar a produção”, diz Fonseca. Na Odebrecht, o investimento com os computadores de bordo, as ferramentas de comunicação e o sistema de interpretação de dados foi da ordem de R$ 7 milhões, pagos em 18 meses, com a economia proporcionada. De acordo com Sant’Anna, o investimento vale a pena, porque tem reflexos diretos na produtividade. “Tivemos um salto em produtividade, de tal forma que a redução acumulada dos custos, da safra de 2011/2012 até a safra passada, ficou em 28,5%”, afirma Sant’Anna.
Nos últimos três anos, o custo da tonelada de cana, posta na usina, caiu de R$ 105 para a média de R$ 75. Segundo a empresa, esse é o valor desejável para que as unidades produtivas mantenham as margens de lucro. Mas a meta é concentrar-se ainda mais numa cana que custe abaixo desse valor. “Em algumas unidades isso é possível”, diz Fonseca. “Nesse sentido, daqui para a frente, o foco estará em detalhes da operação, que passou a se tornar ainda mais segura desde a implantação da telemetria”, afirma. É o caso dos caminhões nas estradas. Ao longo das últimas três safras, a empresa reduziu em 65% o número de acidentes, caindo de 126 para 44. De acordo com Fonseca, para um padrão normal, aceitável seria de um acidente de caminhão a cada milhão de quilômetros rodados. “Estamos avançando”, diz. “Se considerada apenas a última safra, nosso índice foi de dois acidentes por milhão de quilômetros rodados.”
A queda no número de acidentes é explicada por um programa de inteligência chamado rotograma instalado no computador de bordo do caminhão, que alerta o motorista sobre detalhes da rota, em especial a velocidade que deve desenvolver, por exemplo, numa rotatória. “Em Costa Rica conseguimos eliminar totalmente os acidentes por tombamento”, diz Fonseca. Foi justamente essa a unidade que mais rapidamente absorveu as mudanças provocadas pelo projeto de telemetria. Nela, o rendimento atual de transporte de cana está superando as 400 toneladas diárias de moagem na indústria. “Já tivemos picos de caminhões entregando cerca de 500 toneladas por dia”, afirma Fonseca.
Segundo Leandro Melo, gerente agrícola da Odebrecht, os ganhos proporcionados pelo sistema estão diretamente ligados à agilidade proporcionada à equipe de funcionários envolvidos na gestão do trabalho. Uma informação de campo, que às vezes demorava até dois dias para chegar ao escritório de uma unidade e demandava mão de obra específica para inserir essa informação no sistema, agora, pode chegar no máximo em 15 minutos. Pilhas e mais de pilhas de folhas de relatórios de produção, muitas vezes com informações imprecisas, foram substituídas por um sistema que deixa pouco espaço para erros. “Com uma gestão em tempo real da operação, há pouca chance de equívocos”, afirma Melo. “Se uma colhedora parou, sabemos na hora o motivo, pois hoje temos um verdadeiro Big Brother na empresa.” A nova dinâmica de transmissão de dados permitiu, ainda, a redução do uso de combustível. Dos 28,5% de redução geral do custo das usinas, 3% vieram com os combustíveis de máquinas e caminhões. “Com a telemetria diminuímos o tempo ocioso dos motores de colhedoras e caminhões”, diz Melo. “Se uma máquina está parada, não há motivo para que o caminhão que a acompanha esteja em funcionamento.”
O desafio atual no gerenciamento logístico do transporte, segundo Sant’Anna, é melhorar a comunicação do sistema. Para colocar a telemetria em funcionamento foi instalada em cada usina uma antena de telefonia móvel, mas isso não foi suficiente. Por isso, um segundo sistema via satélite foi adicionado, mas com ele não é possível transmitir a totalidade dos dados de campo. Por satélite, a transmissão é feita em último caso. “Pagamos por bits enviados e por eles enviamos apenas as informações realmente necessárias”, diz Sant’Anna. No dia a dia, o sistema de uma máquina ou caminhão permanece até 15 minutos procurando por um sinal de comunicação. Caso não o encontre, automaticamente os dados são compactados e enviados por satélite.
Na safra 2013/2014, a Odebrecht Agroindustrial faturou R$ 2,7 bilhões, 35% a mais em comparação com a anterior. Foram produzidos 1,5 bilhão de litros de etanol ante 1,3 bilhão da temporada 2012/2013; 525 mil toneladas de açúcar, que representaram uma alta de 36,4% sobre a safra anterior; e 2,3 mil gigawatts por hora (GWh) de energia elétrica ante 1,4 mil de 2012/2013. “Nas últimas safras não faltaram motivos para que produzíssemos menos: da falta de chuvas à falta de políticas do governo federal para o setor sucroalcooleiro”, diz Sant’Anna. “Mas, como não vamos parar, precisamos produzir cada vez melhor.”