O cenário do produtor rural no Brasil é desafiador em 2025: apesar de safras que podem ser recordes em soja e milho, os juros altos dificultam o acesso ao crédito e podem aumentar o endividamento destes produtores. 

A saída para isso, de acordo com André Savino, presidente da Syngenta Brasil, é o produtor conseguir produzir mais com menos, com a ajuda da tecnologia e de melhores produtos

“É preciso produzir mais por hectare. Com isso você dilui o custo fixo do produtor, que geralmente capta recurso a juros de 20% ao ano, acima da Selic. O uso da alta tecnologia é essencial para que ele dê esse salto”, explicou, reforçando que a agricultura brasileira “é uma das mais tecnológicas do mundo”.  

O setor, no entanto, ainda mostra força: a agropecuária avançou 12,2% no primeiro trimestre de 2025, sendo o principal motor para o avanço de 1,4% do PIB no período.

O executivo falou à imprensa antes do evento One Agro 2025, onde são reunidos diversos atores do agronegócio brasileiro como produtores, cooperativas e instituições financeiras para debater os desafios e oportunidades do setor. 

Impacto da política tarifária de Trump no produtor é incerto

Desde a sua campanha presidencial para voltar à Casa Branca, o presidente norte-americano Donald Trump já havia prometido uma guinada na política comercial do país, aumentando os mecanismos de proteção para a indústria dos Estados Unidos. 

As mudanças impactaram diversas áreas, mas de acordo com o presidente Global e Produção de Cultivos da Syngenta, Steven Hawkins, ainda é cedo para prever o impacto dessas mudanças no futuro da companhia. 

“É difícil prever esse impacto com precisão porque essas políticas estão mudando de hora em hora. Mas como temos presença global e uma cadeia de suprimentos distribuída pelo mundo, prevemos um impacto mínimo nos nossos negócios em 2025, também porque aprendemos lições no seu primeiro governo. Os impactos para 2026 é algo a ser observado”, apontou. 

 

Os EUA atualmente figuram como terceiro principal destino dos produtos do agronegócio brasileiro, atrás apenas de China e União Europeia, e em 2024 respondeu por 7,4% da pauta brasileira no setor, atingindo a marca de US$ 12,1 bilhões. 

No mercado norte-americano, grandes empresas do setor já estão sentindo os impactos da guerra tarifária, com atrasos na compra de tratores e defensivos agrícolas importados. 

Crise pode ser oportunidade para o Brasil

Savino aponta que países podem começar a adotar posturas mais reticentes diante da incerteza cada vez maior no cenário do comércio internacional. 

“O medo pode ser um efeito colateral de toda essa crise. No futuro, países podem adotar posturas de maior desconfiança entre eles por pensar ‘e se resolverem mexer nas tarifas novamente?’ Isso pode levar países que foram ameaçados ou afetados a se prepararem para futuras situações, reequilibrando suas relações comerciais com outros pares”, explicou. 

Nesse sentido, o executivo explica que o Brasil pode levar vantagem, já que o país pode ser visto como um parceiro comercial alternativo, confiável e com capacidade de fornecimento de alimentos.

“Somos um país com grande potencial, recursos naturais disponíveis, uma população altamente capacitada e oportunidades para capturar parte dessa oportunidade. Muitas nações podem ver o Brasil como uma oportunidade para investir ou diversificar suas matrizes comerciais, mudando relações de dependência entre China-EUA ou Europa-EUA para incluir ou fortalecer relações com o Brasil”, apontou.