reconhecimento: a vocação conservacionista de Sardi foi remunerada pelo governo

O produtor Ricardo Sardi na foto ao lado está realizado. Agricultor com o espírito preservacionista, ele herdou do pai a paixão pela natureza. “Mesmo numa época em que o costume era limpar o terreno e colocar fogo, meu pai não queimava. Não desmatava as capoeiras, não tirava a mata ao redor das nascentes”, conta. Dono do Sítio Quinto Território, Sardi já teve o carro incendiado por causa de sua vocação para a conservação do meio ambiente. “Ele nunca deixou entrarem em sua área de floresta para caçar e impede que desmatem as terras devolutas ao redor”, diz Robson Monteiro, gerente de recursos hídricos do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo (Iema).

Mas aos 72 anos de idade, Sardi recebeu das mãos do governador Paulo Hartung (PMDB-ES) o reconhecimento pelos serviços ambientais prestados. Ele é um dos agricultores contemplados pelo programa Produtores de Água, um projeto da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo (Seama), que usa recursos do Fundágua no pagamento de proprietários rurais que têm florestas preservadas em áreas estratégicas para a proteção de corpos hídricos.

O projeto é uma ferramenta do governo para alcançar uma das metas estabelecidas pelo Plano de Desenvolvimento 2025, que prevê o aumento da cobertura florestal do Estado de 10% para 16%. “São quase 300 mil hectares, temos que reflorestar uma área maior que a Grande Vitória”, diz Maria da Glória Brito Abaurre, secretária de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo. Inicialmente, o programa contempla apenas os produtores rurais situados na bacia do rio Benevente, que abastece 135 mil habitantes de cidades como Guarapari, Anchieta e Alfredo Chaves.

Técnicos da Seama e do Iema visitam as propriedades rurais e identificam as áreas estratégicas, aquelas situadas a 100 metros da margem do rio. Para entrar no Produtores de Água são avaliados o estado de regeneração da floresta e a topografia. “Geralmente áreas de declividade com pouco potencial para a agricultura tendem a ser interessantes do ponto de vista ambiental”, diz Monteiro.

Dinheiro Inesperado: as famílias Rangel à esq. e Sgulmaro à dir. nunca pensaram que receberiam por preservar a mata das regiões de nascentes

Pioneiro em termos de Estado, o programa Produtores de Água foi implantado pela primeira vez em Extrema, município de Minas Gerais. O dinheiro para pagamento dos agricultores capixabas vem do Fundágua, cujos recursos são provenientes de 3% dos royalties do petróleo e da compensação financeira do setor energético. Para 2010, a previsão é que a receita do fundo seja em torno de R$ 9 milhões. Até o momento, sete produtores receberam a remuneração anual pelos serviços ambientais, mas o objetivo é contemplar 60 até o fim do ano. O pagamento teto é cerca de R$ 1.030, por hectare, quando a propriedade contempla hidrologia, solo e biodiversidade.

O Produtores de Água foca apenas no primeiro aspecto, mas é uma enorme ajuda ao agricultor. “Foi uma grande vitória receber os R$ 3.640. Minha intenção é comprar adubo para o bananal e reflorestar o resto”, diz Sardi.

O dinheiro inesperado também permitiu a realização de um velho sonho de Maria das Graças, esposa de Ademir Rangel. Há tempos, ela queria trocar a geladeira, mas o orçamento não permitia. Com o pagamento, os agricultores compraram o eletrodoméstico e ainda sobrou um pouquinho para os fertilizantes.

O casal de agricultores Aloíso Sgulmaro e a esposa, Sandra Maria, de início não acreditaram no projeto. “Achei que era história, mas o dinheiro veio. Recebi R$ 3.955 que vão me ajudar a comprar adubo e reformar as lavouras”, diz o o pai de família. Além de contemplar o elo mais fraco, o projeto beneficia empresas.

Uma delas é a Companhia Espírito Santense de Saneamento, responsável pelo tratamento de água. Segundo estudos do Banco Mundial, a empresa gasta R$ 2 milhões por ano por causa da turbidez da água, causada pelo acúmulo de sedimentos. Mas com os produtores cuidando das matas ao redor dos corpos de água, a tendência é a redução do assoreamento dos rios e um menor gasto no tratamento. “O governo está colocando dinheiro para induzir este mercado de serviços ambientais, mas a ideia é que no futuro as empresas paguem por isso”, diz Maria da Glória.

“Queremos induzir o mercado de serviços ambientais”

À frente da Secretaria de Meio Ambiente do Espírito Santo, Maria da Glória Brito Abaurre comemora as iniciativas do governo que estimulam agricultores a preservar. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

DINHEIRO RURAL – Como nasceu o Produtores de Água?

Maria da Glória Brito Abaurre – O governo capixaba tem o Plano de Desenvolvimento 2025, que apontou a água e a cobertura florestal como questões que poderiam comprometer o desenvolvimento do Estado no futuro. Começamos a pensar em projetos e o Produtores de Água surgiu e tem tudo a ver com a meta de aumentar a cobertura de 10% hoje para 16% em 2025.

RURAL – E o Fundágua, como surgiu?

Maria da Glória – Quando apresentamos o Produtores de Águas para o governador Paulo Hartung, ele achou bacana e destinou 3% dos royalties do petróleo para o fundo.

RURAL – Qual o objetivo do projeto?

Maria da Glória – O governo está colocando dinheiro para induzir este mercado de serviços ambientais, mas a ideia é que no futuro as empresas paguem por isso. A empresa que trata a água gasta milhões de reais para tirar a turbidez e fornecer para a população metropolitana. Queremos mostrar a eles que, se eles pagarem aos produtores rurais para preservarem as matas, isso irá diminuir o transporte de sedimentos e eles vão gastar menos no tratametno da água.

Maria da Glória Brito Abaurre:

secretária de Meio Ambiente do ES