Uma professora foi demitida de uma escola particular em Aparecida de Goiânia, em Goiás, após postar uma foto vestindo uma camiseta com a frase “Seja Marginal, Seja Herói”, uma reprodução da obra de 1968 do artista Hélio Oiticica. A demissão ocorreu após divulgação feita pelo deputado federal Gustavo Gayer (PL). O sindicato da categoria classificou o caso como “distorção absurda”.

O Colégio Expressão não quis comentar a decisão de demitir a professora. Em nota postada na sexta-feira em sua rede social direcionada aos pais e responsáveis, afirma que “a escola não é lugar de propagar ideologias políticas, religiosas ou preconceituosas”, sem se referir diretamente ao fato.

A rescisão da profissional foi concluída nesta terça-feira, 9, uma semana depois de o caso vir à tona. De acordo com a professora, que prefere não ter seu nome divulgado, ela sempre usa camisetas de obras de artes nas aulas como forma de se aproximar dos alunos. Como as camisetas são confeccionadas por um amigo, ela costuma postar uma imagem nas redes sociais para ajudar a divulgar o trabalho dele.

Naquela terça-feira, ela postou a foto com a seguinte legenda: “É gostoso demais usar…” e o endereço do Instagram do amigo que faz as camisetas. Naquele mesmo dia, à noite, ela recebeu uma ligação de um dos donos da escola, dizendo, de acordo com o seu relato, que a foto estava “dando dor de cabeça” a ele.

Depois das postagens do deputado, a professora passou a ser xingada e ameaçada nas redes sociais. “Falavam que meu CPF tinha que ser cancelado”, conta. Ela trancou seu perfil na rede social, mas as ameaças e ataques continuaram a chegar no perfil da escola.

Na sexta-feira, quando dava aula em outra escola, a professora recebeu a ligação de um dos donos do colégio, avisando que não teria como mantê-la no colégio pois corria o risco de a escola “quebrar”, segundo o que relatou a professora.

Sindicato critica deputado

Essa não é a primeira vez que o deputado usa as redes sociais para criticar professores, segundo o presidente do Sindicato dos Professores de Goiás (Sinpro), Railton Nascimento Souza. No ano passado, ele também provocou a demissão de um professor de outra escola particular, esta de Goiânia, que trabalhou uma charge na sala de aula.

“Ele retirou a charge do contexto e falou que o professor estaria incitando os alunos contra a polícia”, conta. Souza. Segundo ele, um professor de uma outra escola da capital também foi alvo das críticas do deputado e só não foi desligado porque o sindicato evitou a demissão.

“Mas o caso dessa professora é uma distorção absurda, que encontrou eco em um setor da sociedade reacionária e mal informada”, afirma o sindicalista. A entidade entrou com uma ação na Justiça Federal do Distrito Federal para que o deputado tenha suas redes sociais excluídas, assim como o site que criou – Nossos Filhos – que, segundo Souza, incentiva o conflito de pais e alunos com professores.

O sindicato entrou também com ação indenizatória moral e material contra Gustavo Gayer na comarca de Goiânia e pretende entrar com uma ação trabalhista contra e escola que demitiu a professora por demissão discriminatória. A professora também protocolou ações contra Gustavo Gayer.

Deputado vê mandato em risco

O deputado Gustavo Gayer postou em sua rede social, na noite de terça-feira, 9, um vídeo em que comenta as ações judiciais impetradas contra ele em razão da demissão da professora. Começou dizendo que “seu mandato está em risco”.

O parlamentar reclamou que a imprensa goiana, o Sindicato dos Professores e a “toda a esquerda” saíram em defesa de um assassino de policial, enquanto ele alega que agiu em defesa da “inocência e pureza dos nossos filhos e das crianças”.

O assassino de policial seria o homem estampado na bandeira-poema de Hélio Oiticica, conhecido como Cara de Cavalo, que, em um tiroteio com a polícia, matou o detetive Milton Le Cocq, em 1964.

Na postagem, o deputado disse que não pediu a demissão da professora, mas que apenas demonstrou sua indignação e que os pais dos alunos concordaram. Acrescentou que a decisão de demitir a professora foi da escola.