29/09/2022 - 9:04
O Banco Central (BC) repetiu no Relatório Trimestral de Inflação (RTI) as estimativas de inflação para anos de 2022 a 2024 no cenário de referência, divulgadas no comunicado e na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) deste mês. A projeção para o IPCA deste ano é de 5,8% para este ano, enquanto em 2023 é de 4,6% e, em 2024, de 2,8%.
O cenário de referência utiliza juros conforme o Relatório de Mercado Focus e o câmbio atualizado de acordo com a Paridade do Poder de Compra (PPC). Além disso, considera que o preço do barril de petróleo deve seguir aproximadamente a curva futura nos próximos seis meses, subindo 2% ao ano na sequência. Para a bandeira tarifária de energia, a hipótese considerada é verde no fim deste ano e amarela no final de 2023 e 2024.
A estimativa para 2022 encontra-se acima da margem de tolerância da meta (3,50%, com 1,50 ponto porcentual de banda), enquanto, para 2023, está próxima do teto (4,75%). Para 2024, a meta é de 3,00%, com margem de 1,5 ponto (taxa de 1,75% a 4,75%).
No Boletim Focus, as medianas do Boletim Focus estavam em torno de 5,88% para 2022, 5,01% para 2023 e 3,50% para 2024.
Teto da meta
O BC também que, em seu cenário de referência, a probabilidade de a inflação de 2023 ficar acima do teto da meta, de 4,75%, está em 46%, conforme o RTI.
Já a probabilidade de a inflação ficar abaixo do piso da meta em 2023, de 1,75%, é de 2%. O centro da meta é de 3,25%. Em relação a 2022, a probabilidade de estouro do teto de 5,00% da meta é de 93%, indicando alta chance de novo descumprimento do mandato principal do BC, após 2021. Já a possibilidade de estouro do piso de 2,00% da meta é zero, segundo o BC. O centro da meta é de 3,50%.
Em 2024, a probabilidade de rompimento do teto de 4,50% da meta é de 11%, enquanto a possibilidade de estouro do piso de 1,50% da meta é um pouco maior, de 17%. O alvo central é de 3,00%.
O horizonte relevante do Comitê de Política Monetária (Copom) atualmente considera os anos-calendário de 2023 e, em menor grau, de 2024. Mas, devido aos efeitos das desonerações tributárias sobre os combustíveis e as dúvidas quanto à duração dessa política, o BC preferiu dar ênfase ao horizonte de 12 meses terminados no primeiro trimestre de 2024.
O BC ainda fez os cálculos para um horizonte mais longo, de 2025. Nesse caso, a probabilidade de estouro do teto da meta, de 4,50%, é de 11% e, do piso, de 1,50%, é de 17%. O centro da meta é de 3,00%.
Surpresa no trimestre
O Banco Central destacou no Relatório Trimestral de Inflação que o resultado do IPCA no trimestre finalizado em agosto surpreendeu para baixo em relação às suas projeções, algo que não ocorria há dois anos, desde o RTI de setembro de 2020.
Segundo o BC, o IPCA se revelou 2,37 ponto porcentual mais baixo do que o antecipado pelo Copom em seu cenário de referência e também ficou aquém das estimativas do mercado. A autarquia explicou que no cenário do Comitê de Política Monetária apresentado no RTI de junho não foram considerados os efeitos das medidas que vieram a reduzir os impostos sobre combustíveis, energia e comunicação, como a limitação do ICMS nesses itens.
“Estima-se que os efeitos já sentidos até agosto expliquem a maior parte da discrepância entre esse cenário e o que veio a se concretizar. Combustíveis e energia exerceram, por larga margem, as principais contribuições para o desvio da projeção”, explicou.
O BC também considerou que foi relevante o recuo nos preços de petróleo. Em sentido contrário, surpreenderam para cima os resultados relacionados com os preços de alimentos, principalmente de laticínios, e os preços de serviços.
“A surpresa em serviços concentrou-se no componente subjacente – com destaque para alimentação fora do domicílio e aluguel -, o que pode estar relacionado à surpresa com o desempenho recente da atividade econômica”, avaliou o BC no RTI.