11/07/2020 - 12:22
Transmitir informações e tirar dúvidas de forma acessível e simples. Esse é o objetivo do projeto Zap Zap das Domésticas, criado em 2018 e que chega agora em sua segunda edição. A ideia é usar o WhatsApp, aplicativo de troca de mensagens, para interagir com empregadas domésticas, apresentando e explicando seus direitos e, agora, tirando dúvidas sobre a pandemia do novo coronavírus.
O projeto foi idealizado pelo Observatório do Direito e Cidadania da Mulher, grupo formado em 2015 por pesquisadoras de diversas áreas. Mariana Fidelis, advogada e integrante do Observatório, explica que ele tem como objetivo “ampliar os canais de diálogos, com as categorias das mulheres”, entre eles os das empregadas domésticas.
Mariana destaca que 90% dos empregados domésticos são mulheres, portanto o Observatório achou importante criar um projeto voltado para essa categoria. Outro fator importante foi que em 2016 entrou em vigor as regulamentações da chamada PEC das Domésticas, que trouxe direitos trabalhistas para a categoria.
A princípio o grupo de Mariana criou um guia explicando a PEC e os novos direitos e obrigações das domésticas, mas acharam que o material ficou muito pesado e complicado. “Decidimos usar outros tipos de linguagens, como vídeos e áudios, para levar essas informações”, conta a advogada. E com isso surgiu o Zap Zap das Domésticas.
Para colocar a ideia em prática foi criado um grupo no WhatsApp aberto para qualquer empregada doméstica interessada. Na primeira fase do projeto, o grupo foi usado para compartilhar vídeos, áudios e mensagens de texto curtas explicando a PEC e também a Reforma Trabalhista, e o que mudava para essas profissionais.
“Nós falávamos sobre os efeitos no dia a dia, da rotina de trabalho e de questões como trabalho infantil, uniforme, direitos trabalhistas”, explica Mariana. A ideia era usar formas de comunicação simples e de fácil entendimento, apostando principalmente na comunicação oral, para alcançar o maior público possível.
O grupo chegou a ter 200 membros, mas o projeto foi suspenso por falta de verba. Agora, após receber um patrocínio, ele chega a sua segunda edição, voltando a trabalhar as questões trabalhistas mas também trazendo informações ligadas à pandemia do novo coronavírus. O novo grupo já possui mais de 400 integrantes.
“Existem diversas discussões sobre o trabalho doméstico: sua essencialidade, informalidade, denúncias de obrigação de continuar a trabalhar, falta de equipamentos de segurança e segurança no ambiente de trabalho”, aponta Mariana. A ideia do grupo é passar informações sobre como se cuidar e exigir direitos.
Por causa dos diversos efeitos da pandemia, o projeto acabou se expandindo e incluindo profissionais de outras áreas, em especial da saúde, que tiram dúvidas sobre o coronavírus. É produzido um vídeo por semana, divulgado no grupo junto com áudios, mensagens e figurinhas.
“É um canal aberto. Elas [as domésticas] tiram dúvidas, comentam, criticam. Elas podem denunciar algum caso, e também existem pedidos de empregos ou dúvidas sobre onde achar trabalho”, comenta Mariana.
A segunda temporada do projeto irá durar mais uma semana, mas o grupo continuará e todo o material será disponibilizado no canal no YouTube do Observatório. A ideia, segundo Mariana, é já começar uma terceira fase, com a disponibilização de uma revista que explica o processo de luta das empregadas domésticas por direitos.
“Muitas mulheres até hoje não conhecem a lei [PEC das Domésticas], e sequer conhecem a história de como foi feita a luta”, justifica Mariana.
Uma das empregadas domésticas que participa do grupo é Selma dos Santos Dias de Sousa, que mora na cidade de São Paulo. Ela entrou na primeira parte do projeto, e continuou sua participação nessa nova fase.
“Pra mim o projeto é maravilhoso. Elas enviam vídeos explicando as coisas, eu aprendi muita coisa com o projeto. Recomendo para as minhas amigas, quem trabalha comigo, você aprende muita coisa”, comenta Selma.
Ela destaca que o projeto é importante não apenas por explicar os direitos, mas também como uma forma de valorizar a profissão. “Às vezes a gente fica meio triste, não só eu como todas as domésticas, porque é um serviço pouco valorizado, então a gente perde o interesse [em questões sobre o tema]”, explica Selma.
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Graças ao grupo ela conta que conseguiu aprender sobre seus direitos e também tirar dúvidas sobre questões trabalhistas. Selma, por exemplo, não entendia direito o funcionamento do FGTS, e aprendeu sobre graças ao projeto.
“Elas falam sobre o que temos direito, o que o empregador tem direito, para mim nesse período [de pandemia] é muito, muito importante mesmo”, afirma a doméstica.
O projeto ainda está com vagas abertas para novos membros, que podem se cadastrar entrando em contato com o número (11) 993183036, enviando nome, telefone, idade e bairro onde mora.