09/11/2015 - 13:02
Até agora o agronegócio está sendo poupado dos efeitos mais perversos da crise. Puro mérito do próprio agronegócio, cujo dinamismo e força de ação interna e externa fazem do setor um protagonista estratégico do país, espécie de fiador da nossa economia, neste momento. Mas como é que o produtor rural está enxergando essa presença próxima da crise? Fomos então prosear por aí com o homem do campo, para ver um pouco as suas visões.
O dólar está ajudando a compensar internamente os preços dos grãos, neutralizando eventuais recuos internacionais. Mas o agricultor, quando fizer a colheita em 2016 e começar a preparar o próximo plantio, bem que poderá deixar uns 15 a 20% desses ganhos para as indústrias de fertilizantes, agroquímicos e sementes. É uma das coisas que se diz pelo campo, nas rodas de prosa.
Provavelmente, nada que seja tão dolorido assim, devido ao bom momento que a agropecuária experimentou nos últimos quatro a cinco anos, seja em clima, seja em preços. Representará, claro, um avanço de custos, mas é uma queda no padrão recente de receita do produtor que ainda tende a não ser sentida de forma acentuada.
Fala-se também pelos campos que a próxima safra de milho cai. Lá pelos lados do Oeste catarinense, calculam o recuo em uns 15 a 20%, por exemplo. Mas sobre a safrinha ninguém põe a mão no fogo e o pessoal do campo é, como sempre, precavido: “Qualquer palavra a respeito, podemos estar errando feio”.
Para a soja os palpites falam em uma safra 10, 15 ou 20% maior. O pessoal do Sul parece no momento o mais animado com a oleaginosa, talvez estimulado pela perspectiva do “El Niño”, que pode trazer bastante chuva nos próximos dois anos, na região, o que é sempre ótimo para milho e soja.
Já a produção animal deve continuar sem sobressaltos, atenta a eventuais contrações do mercado interno (a queda da ordem de 3% no consumo das famílias, no trimestre, pode afetar na demanda alimentar), mas com o alento do mercado externo, onde de um modo geral o cenário é positivo para as carnes brasileiras.
Em investimento a coisas não param, mas tendem a colocar um pé no freio. A maior cooperativa de Santa Catarina, por exemplo, vinha investindo cerca de R$ 100 milhões por ano, algo em torno de 4,5% do faturamento bruto. Este ano, já apertou o cinto e, para 2016, a perspectiva é de menor alavancagem de recursos para investimentos. Informalmente, comenta-se que não passará de 50% da média dos últimos anos.
Esse certo esfriamento nos negócios espalha-se para outras áreas. Regionalmente, por exemplo, já se fala em queda de 40 a 50% nas vendas de máquinas e implementos, e a esperança de alguma recuperação talvez só em 2017. Todo mundo também está de olho nos índices de inadimplência, que em alguns lugares diz-se que caminha para o patamar de 3%, mas até o momento está gerenciável. O nó da questão é ficar atento para 2016e 2017, quando os efeitos restritivos atuais da economia podem mudar esse quadro para pior.
Na cidade, parece que vivemos um momento de incerteza radical. Mas no campo diria que o sentimento é de confiança ressabiada. Acredita-se no próprio taco, mas com um pé atrás, pois os desmandos de governança macroeconômica às vezes são gigantes. Mas o produtor sabe que, para manter sua atividade em pé, com equilíbrio, é preciso avançar, movimentar-se. Como na bicicleta, em que, parados, caímos ao chão. Fonte: Ascom