1. BRASIL

7 MILHÕES

de toneladas de grãos é quanto o País importará da Argentina até fevereiro

2. ARGENTINA

8%

foi quanto aumentou a tarifa de exportação do país vizinho, passando de 20% para 28%

As relações comerciais entre Brasil e Argentina, que num passado recente travaram disputas épicas no mercado de produtos agrícolas, vivem um novo capítulo. A novela da vez dá conta de uma batalha envolvendo o trigo argentino e as indústrias brasileiras de moagem. Fato é que a Casa Rosada vem impondo uma série de restrições às exportações do grão. A própria tarifa de embarque do grão passou de 20% para 28%, mas a alíquota de 10% incidente sobre a farinha de trigo não sofreu mudanças. O resultado dessa equação faz a farinha de trigo brasileira ser menos competitiva porque depende do grão vizinho para fazer produzir farinha no País. O golpe sobre a indústria de moagem brasileira tornou-se ainda mais duro quando o país vizinho ampliou, no começo de dezembro, a suspensão de registros para exportação.

O caso pegou de assalto o setor, que está assustado com a hipótese de ter de comprar trigo de fora do Mercosul. Se isso acontecer, o custo de produção sofreria acréscimos importantes e os repasses ao consumidor seriam necessários. Os moinhos brasileiros ainda vivem outros problemas, como aumento no preço do frete, baixa produção nas safras brasileiras e geadas que comprometeram a produção argentina. De acordo com o presidente do Moinho Pacífico, Lawrence Pih, a conjuntura é preocupante. O país vizinho tem programado o embarque de aproximadamente 7 milhões de toneladas até fevereiro, contando os registros já emitidos. Mas, por causa dos valores dos fretes, o custo final pode não compensar.

Dos sete milhões de toneladas disponíveis, seis milhões já estão negociados. Do total, o Brasil comprou 2,5 milhões e, de acordo com Pih, não há capacidade de estoques. Considerando a produção argentina e a demanda brasileira, o País teria de importar, aproximadamente, dois milhões de toneladas fora do seu mercado tradicional. “Considerando que os gaúchos tiveram problemas com a safra e ainda exportaram 300 mil toneladas, o cenário não é bom”, lamenta. O executivo projeta para os meses de maio e junho um aperto na oferta. “Isso é antes de começar a safra do próximo ano”, analisa.

Recentemente o governo argentino aumentou as taxas de exportação, com o objetivo de reter os produtos em casa. Agora ele quer convencer os parceiros de Mercosul, inclusive o Brasil, a seguir o mesmo exemplo. Por quê? Segundo o Secretário de Relações Internacionais do Agronegócio, Célio Porto, o pedido soa mais como brincadeira de mau gosto. “Não há a menor hipótese de seguir esse caminho”, diz. Porto acrescenta que as altas cotações internacionais têm sido responsáveis pelo bom desempenho da agropecuária a partir de 2007.

Aumentar as taxas de exportações significaria penalizar duplamente o produtor. “O agricultor brasileiro perdeu rendimento com o câmbio apreciado do real frente ao dólar; se partimos para esse caminho é o mesmo que querer quebrar nossos produtores”, avalia. Enquanto esse embate não acaba, o governo brasileiro aproveitará para discutir outras questões, como a entrada de produtos manufaturados na terra dos hermanos. Brasília reivindica a facilitação de diversos produtos, de calçados a geladeiras. A “briga” por causa do trigo é apenas mais uma de tantas outras que já aconteceram, entre elas a do açúcar e do frango, que protagonizaram batalhas num passado recente.

Enquanto isso, a indústria da moagem reza por safras mais gordas e o fim da redução de oferta.

Por Ibiapaba Netto