O PSDB encerra amanhã quase três décadas de poder em São Paulo sem uma liderança paulista forte e cada vez mais distante das decisões nacionais. A vitória de Tarcísio de Freitas (Republicanos) não apenas pôs fim à era tucana como deixou o partido refém de alianças para se manter influente no Estado que lhe deu sete vitórias eleitorais consecutivas, desde Mário Covas.

Após obter 18,4% dos votos válidos em sua tentativa de reeleição, o futuro do atual governador, Rodrigo Garcia, é incerto. Filiado ao PSDB apenas para disputar o pleito, o tucano que fez sua vida política no antigo DEM tem dito que fica, mas sem a garantia de liderar qualquer processo de reestruturação – o plano é deixar o País em 2023 para estudar.

Ao apoiar o presidente Jair Bolsonaro no pleito nacional, Garcia expôs os recorrentes rachas tucanos, antecipou a saída de João Doria da sigla, que já havia perdido Geraldo Alckmin (eleito vice-presidente da República pelo PSB), e não conseguiu eleger José Serra como deputado federal. Sem os chamados cabeças brancas, os tucanos de São Paulo têm hoje na senadora Mara Gabrilli sua principal representante. Mas até ela pensa em deixar a sigla.

Divisões

“Vejo como obscuro o futuro do partido. Nem mesmo eu tenho certeza se fico. O PSDB desrespeita os próprios tucanos, que não são ouvidos. Essa eleição foi muito injusta, vi muita gente perdendo a calma. E, nós, na eleição presidencial, não tivemos apoio”, disse ela, em referência à sua candidatura a vice na chapa de Simone Tebet (MDB). “O que mais desanima no PSDB são as disputas internas. É muita vaidade. Não está favorável seguir no partido. Estou pensando, avaliando possibilidades e o quanto vale a pena ficar.”

As vaidades citadas por Mara se revelaram em lutas fratricidas que ajudaram a reduzir o peso do partido nos últimos anos, na avaliação da professora de Ciência Política Tathiana Chicarino, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp). O racha se acentuou com a eleição de Doria, em 2018, colado na imagem do então candidato ao Planalto Jair Bolsonaro.

Naquele ano, a eleição já foi a mais apertada, com o ex-prefeito saindo-se vitorioso sobre Márcio França (PSB) com uma diferença de 741 mil votos. Depois, o avanço da direita mais radical acabou por diminuir a sigla especialmente em São Paulo, que fez só três deputados federais. “Com a perda do governo, o partido fica ainda mais fragilizado”, disse Tathiana.

Para o cientista político Bruno Silva, a perda do Estado reduz automaticamente a relevância do PSDB. “Estar à frente de São Paulo conferia importante peso político à sigla, oferecendo-lhe condições de produzir lideranças nacionais.”

Segundo o presidente estadual do PSDB, Marco Vinholi, o partido pretende, agora, resgatar suas raízes. O plano, disse, é estar mais próximo do “pulsar das ruas”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.