11/12/2015 - 16:24
O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de citros, sendo o maior em laranjas, participando em cerca de 50% da produção de suco e 85% do mercado mundial, exportando 98% do que produz. A presença nessa cadeia produtiva movimenta US$ 14,6 bilhões ao ano e gera aproximadamente 350 mil empregos no País.
De acordo com o estudo “O retrato da citricultura brasileira”, da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (Citrus BR), de cada cinco copos de suco de laranja consumidos no mundo, três são produzidos nas fábricas brasileiras. Nos Estados Unidos, maior consumidor de suco de laranja do mundo, com 38% do total, a queda de consumo foi de 11,5% em cinco anos. Em dez anos, a queda foi de 24%.
Flórida e São Paulo detêm 81% da produção mundial de suco. Só o Estado de São Paulo possui 53% do total. Nas últimas 15 safras, a produção mundial de suco caiu 13%. As perdas também estão na produtividade. Pragas e doenças foram responsáveis pela erradicação de 40 milhões de árvores nesta década. A mortalidade saltou de 4% para preocupantes 7,5%. Essas doenças foram responsáveis por perdas de quase 80 milhões de caixas por ano.
Uma das preocupações mais sérias do setor é o greening, que avança com extrema rapidez. Principal doença que afeta a citricultura no estado de São Paulo, o greening ou Huanglongbing/HLB é causado pelo psilídeo Diaphorina citri, inseto vetor das bactérias que causam a doença. Ele vive em plantas da família Rutaceae, principalmente em murta e citros e está em ampla disseminação no parque citrícola, sendo a maior ameaça aos pomares do País, por afetar todas as variedades podendo, assim, torná-los inviáveis economicamente se medidas de controle não forem tomadas.
A HLB está presente nos continentes africano, americano e asiático. No Brasil, foi detectada pela primeira vez em 2004, no Estado de São Paulo, e sua proliferação é acompanhada por mapeamentos do Fundecitrus. Eles mostram o alto potencial de disseminação da doença em São Paulo com grande risco de dispersão para outras áreas, principalmente nas áreas Central e Sul do estado, com índices de infestações até 2012 de 73%.
Entre os danos causados pelo HLB em São Paulo está a devastação de 18 milhões de árvores até 2012. Somado a isso, 7% dos pomares do estado possuem sintomas da doença, não consideradas as plantas assintomáticas com o inóculo. O potencial de dano aumenta ainda mais com a possibilidade de propagação da doença para pomares vizinhos. Os danos da praga tornam-se ainda maiores quando considera-se o custo com a redução da produtividade e necessidade de controle e longevidade dos pomares, o que pode inviabilizar a atividade econômica. No Brasil, a HLB já está presente em regiões produtoras de Minas Gerais e Paraná.
Pela sua velocidade de propagação muito alta, a greening é a doença mais temida entre os citricultores. A forma atual de identificação da doença são inspeções visuais para detecção de árvores sintomáticas e aplicação intensiva de inseticidas para controle do vetor. Logo que identificadas, as árvores sintomáticas são arrancadas em uma tentativa de diminuir a proliferação.
O método, no entanto, não é eficiente. De acordo com o Fundecitrus, as inspeções visuais possuem falhas que levam a um erro aproximado de 30% a 60%. Sendo assim, em torno da metade dos pés sintomáticos são mantidos na propriedade por inspeções feitas incorretamente.
Outro fator de complicação é que, normalmente, quando os primeiros sintomas são identificados visualmente, a árvore em questão já está contaminada há muito tempo, meses. O período de incubação estimado é de 6 a 36 meses. Neste período, a planta ainda não apresenta sintomas, ou são poucos expressivos, mas já com a doença permanece no pomar, tornando-se um proliferador invisível do HLB.
Estudos do Fundecitrus indicam que para cada árvore sintomática no campo existam outras duas assintomáticas. Esta estimativa, aliada ao inseto alado como vetor, é responsável por propagar a doença rapidamente. O cenário fica ainda mais grave quando se faz estimativas de propagação da doença tomando como base a propagação dos últimos anos.
A Embrapa Instrumentação tem desenvolvido pesquisas visando disponibilizar aos produtores um sistema economicamente viável para diagnóstico precoce do HLB, que elimine a subjetividade e ineficácia das inspeções visuais e permitindo um diagnóstico da doença com ao menos seis meses de antecedência da fase sintomática.
O objetivo é desenvolver um sistema para o diagnóstico do Citrus Greening que viabilize medidas em larga escala e a elaboração de mapas de infestação para auxiliar os produtores no controle efetivo da doença. Este método de diagnóstico aliado a políticas públicas que incentivem a erradicação de plantas infectadas podem levar a doença a níveis toleráveis e controlados.
De acordo com a Embrapa, a geração de insetos resistentes aos agroquímicos utilizados ainda é um fator impeditivo ao efetivo controle ou combate do HLB. No curto prazo, uma estratégia de controle da HLB combina o uso de mudas sadias, redução do inóculo (erradicação de plantas doentes) e redução da transmissão pelo vetor. Outra estratégia é a utilização do recém-lançado inseticida Mustang 350 EC, produzido pela FMC Agricultural Solutions com foco no psilídeo.
O produto está aprovado na lista PIC Citros (Programa de Produção Integrada dos Citros, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento [MAPA]) e possui maior efeito de choque e intervalo de segurança de três dias. Outros benefícios são a maior penetração pela cutícula e tarso das lagartas e outros insetos e pragas, com baixa lavagem pela chuva e sem fitotoxicidade. A dose de uso recomendada do produto é de 5 a 10ml a cada 100 litros de água.