O deputado federal eleito Lindbergh Farias (PT-RJ) disse nesta quarta-feira, 30, que o governo eleito não vai “terceirizar a operação política” do Executivo para o Congresso Nacional. O PT já formalizou o apoio para a reeleição de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara, mas pretende ter seu próprio articulador político e uma base forte de partidos para liderar suas pautas na casa.

“O Lira, no governo Bolsonaro, era uma espécie de primeiro-ministro. Era o presidente da Câmara e o grande operador político na Câmara dos interesses do Bolsonaro. Com a gente, vai ser diferente. Ele vai ser presidente da Câmara, mas a gente não quer terceirizar a operação política, os projetos do governo Lula para o Lira. Isso é fundamental. É o novo governo. Estamos conversando com os partidos, os que vão compor o governo”, disse Farias.

O deputado eleito confirmou que o PT quer comandar a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a principal comissão, onde todos os projetos e propostas são analisados previamente, antes de votações pelo plenário. Questionado sobre a possibilidade de a comissão ser assumida por algum parlamentar do PL, partido de Bolsonaro, Farias disse que não há essa possibilidade.

“Pode ter rodízio por dois anos no comando da CCJ, mas com outro partido da base. O Lira sabe disso. Seria chutar o pau da barraca em qualquer acordo. Você bota um presidente do PL ali, separa tudo. Não tem essa. Não dá entrar numa dessa, apoiar o Lira e ainda ter alguém do PL na CCJ”, comentou.

O parlamentar eleito disse que “é fundamental garantir esse espaço para o governo e lutar para construir uma base” que não tenha relação com o PL. “Não queremos participar de bloco com o PL. Todo governo, quando começa, monta a sua base. Queremos montar essa base com os partidos que apoiaram a gente no segundo turno, o PSD, União Brasil, MDB. Se a gente monta essa base, é o maior bloco da Câmara, é o que vamos tentar fazer.”

O deputado eleito também chamou a atenção para a necessidade de que o PT indique, logo, seus ministérios da Fazenda e da Articulação Política. “Queremos montar a base do governo na Câmara e no Senado. O operador político do governo Lula vai ser o líder do governo. Tem que ter alguém para conduzir essas negociações”, declarou.

Farias insistiu na importância da aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Bolsa Família, mas afirmou que não se trata da única solução orçamentária para o ano que vem. “Não é a PEC ou a morte. Tem outras alternativas, com consultas ao TCU (Tribunal de Contas da União) ou medida provisória de créditos extraordinários”, disse.

Ontem, a federação formada por PT-PCdoB-PV e também o PSB anunciaram que vão apoiar Lira à presidência da Câmara. Os partidos, que integraram a coligação de Lula, fizeram um pronunciamento conjunto na Câmara após reunirem as bancadas. Com 94 deputados, as legendas negociam a construção de blocos parlamentares, instrumento usado para dividir cargos na Casa, como presidências de comissões e postos na Mesa Diretora.