11/07/2020 - 12:30
Concentrado em casa, o brasileiro mudou alguns hábitos de consumo, resultando em um crescimento sem precedentes de algumas categorias. E, entre as bebidas alcoólicas, a mais beneficiada foi a de vinhos e espumantes, cujas vendas cresceram 12% entre janeiro e maio de 2020, na comparação com o mesmo período de 2019 – um desempenho que surpreendeu até mesmo especialistas na área e empresários do setor.
A notícia foi especialmente boa para o produto nacional, que viu uma expansão nas vendas de 15%, acima da média geral, enquanto os importados, impactados pela alta do dólar, tiveram um avanço mais discreto, de 5%. O crescimento veio na esteira de uma ampliação do consumo per capita: depois de uma década chegando próximo a 2 litros por ano, o País superou essa marca pela primeira vez em 2019.
Apesar de vinhos e espumantes serem um produto que o brasileiro aspira a consumir, a contração da renda dos últimos anos limita o valor que os consumidores podem gastar com o produto. Segundo Felipe Gualtaroça, presidente da Ideal Consulting, empresa que acompanha o mercado de vinhos no País, 80% das vendas estão concentradas em garrafas de até R$ 70 – o chamando segmento de “entrada”.
Ainda assim, o resultado positivo é surpreendente, uma vez que um dos principais canais de distribuição do vinho – os restaurantes – tiveram a atividade reduzida quase a zero. Gualtaroça explica que o crescimento se deu em dois canais: o varejo tradicional e o e-commerce. “Um dos fatores que colaboraram para o aumento do consumo foi a maior visibilidade que os supermercados deram ao vinho. Isso faz o consumidor pensar: talvez eu possa experimentar.”
Internet
Outro veio de aproximação entre o consumidor e o mundo do vinho são os clubes da internet. O maior deles, o Wine.com.br, fechou o mês de junho com 170 mil associados, um crescimento de 20% em 12 meses. Segundo o presidente do Wine, Marcelo D’Arienzo, a empresa espera manter esse ritmo de crescimento ao longo do ano, apesar das incertezas da economia. A companhia deve faturar R$ 430 milhões em 2020.
D’Arienzo admite que não foi capaz de prever o resultado de 2020. “No dia 15 de março, quando a gente tomou a decisão de adotar o home office, estávamos apreensivos. Havia uma corrida aos supermercados para itens de primeira necessidade. E a gente pensou: como é que vai ficar o vinho?”, lembra. No entanto, à medida que os consumidores começaram a se acomodar a uma vida confinada, a bebida logo foi subindo na lista de prioridades.
À medida que a gravidade dos efeitos na pandemia foi ficando mais evidente, o setor passou a enfrentar outro problema: a disparada no preço dos importados. É uma questão que afeta diretamente os grandes e-commerces e clubes de vinho, que basicamente trabalham com rótulos estrangeiros.
“Aí entra o relacionamento que a gente tem com as vinícolas. É necessário a compra de grandes volumes para o negócio ficar em pé”, diz o executivo.
O porte da maior parte das vinícolas brasileiras é um fator que ainda impede a venda do produto nacional pelos grandes e-commerces. Segundo D’Arienzo, isso ocorre por duas razões: a produção relativamente pequena, que na maioria dos casos não passa das centenas de milhares de garrafas, e a tentativa de muitos dos empresários de posicionar o vinho local em patamares mais altos de preço.
O predomínio da produção mais artesanal é uma realidade da vinicultura em todo o mundo. No entanto, para negócios baseados em volume, como o da Wine, porte é fundamental. “Meu cliente não pode encontrar o produto mais barato em outro local – e isso exige que a vinícola esteja disposta a fazer promoção”, explica, lembrando que já trabalha com alguns parceiros nacionais, como Salton e Chandon.
Dificuldades
As vinícolas de pequeno e médio porte, que estão fora dos principais sites e das grandes redes de supermercados, demoraram para recuperar as vendas depois do início da pandemia. É o caso da gaúcha Pizzato, que produz cerca de 300 mil garrafas por ano e tem a maior parte de suas vendas em restaurantes e empórios gourmet.
Segundo Jane Pizzato, uma das proprietárias, a situação só começou a se acomodar depois de abril. Foi o suficiente para a empresa poder voltar a perseguir para 2020 a média anual de expansão de 10% na produção alcançada ao longo da última década. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.