19/07/2022 - 17:17
A Polícia Federal fez uma operação nesta terça-feira, 19, contra um grupo suspeito de cooptar funcionários do Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo, para o tráfico internacional de drogas. Foram detidos suspeitos de integrar a célula de quadrilha vinculada ao Primeiro Comando da Capital (PCC), conforme investigação da PF. Os criminosos chegaram a passar carregamentos de cocaína pelo raio-x de bagagens e até pelo alambrado que dava acesso às pistas do terminal. .
A maior parte dos 23 investigados trabalhava infiltrada entre funcionários de empresas terceirizadas do aeroporto, o que os permitiu descobrir brechas de segurança e diversificar as estratégias de tráfico de drogas. Ao todo, 15 foram presos e oito estão foragidos – entre eles, os dois chefes do esquema.
“Existiam diversas formas de a droga entrar no caso dessa investigação específica”, disse ao Estadão o delegado da Polícia Federal Fabrizio Galli, chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes. Como exemplo, ele cita situações em que os carregamentos passaram pelo check-in, mas foram descobertos por funcionários de companhias aéreas. “(Os criminosos) Eram terceirizados que, após o fechamento do check-in, de alguma forma, tentavam introduzir as bagagens.”
Em alguns casos, explicou Galli, essas tentativas foram bem sucedidas, até pelo conhecimento que integrantes da quadrilha adquiriram sobre o funcionamento do aeroporto. “Houve episódios em que a droga foi passada pelo alambrado. Havia funcionários – tratoristas e outros funcionários que prestavam serviços – que aguardavam em local impróprio, onde normalmente não deveriam estar, para receber essa droga.”
As investigações da PF sobre a célula específica tiveram início em abril do ano passado. Desde então, foram feitas nove ações e apreendidos 887,5 kg de cocaína. Dos 23 suspeitos, 18 trabalhavam (ou chegaram a trabalhar em algum momento) em empresas que prestam serviço ao Aeroporto de Guarulhos, três faziam apoio logístico à quadrilha e outros dois comandavam o esquema. A PF não divulgou os nomes das empresas terceirizadas que tinham empregados entre os suspeitos.
“Os dois principais alvos, que são os responsáveis pela cooptação, são faccionados pelo PCC”, disse o delegado. Os investigadores, no entanto, não chegaram a capturá-los. “Um deles não se encontrava no endereço e é dado como foragido, embora as equipes da Polícia Federal ainda estejam atrás dele. E o outro se encontra no exterior, razão pela qual foi feito um pedido de prisão internacional decretado pela Justiça do Brasil e feita a difusão vermelha via Interpol”, disse o delegado.
As investigações, acrescentou ele, prosseguem. “Existem outras células que estão sendo investigadas pela Polícia Federal, e já foram feitas diversas operações no aeroporto para que essas células sejam eliminadas”, disse Galli. Segundo ele, o crime organizado traz a droga de países vizinhos, como Bolívia e Paraguai, e depois organiza a entrega para países normalmente da Europa, quando entram as células como a que foi presa nesta terça.
“Como o Brasil é uma rota de escoamento de drogas, e (a quadrilha) utilizava, nesse caso específico, uma rota aérea, foi feito esse trabalho”, explicou o delegado. Como destinos já mapeados, ele cita cidades como Frankfurt, na Alemanha), Lisboa, em Portugal, e Amsterdã, na Holanda.
Mudança no perfil
Conforme Galli, a PF vem se intensificando ações dentro do aeroporto ao longo dos últimos três anos para acompanhar novas estratégias do crime organizado. “Sabemos que houve mudança no perfil. Havia muita apreensão de drogas das chamadas “mulas”, o tráfico “formiguinha”, e elas continuam existindo. Mas conseguimos identificar diversas células dentro do Aeroporto de Guarulhos fazendo o tráfico de drogas, principalmente com escoamento via carga aérea.”
As investigações, continua, têm início com apreensões pontuais no aeroporto. A partir delas, são feitas vigilâncias, levantamentos e solicitações de medidas judiciais para acompanhamento de possíveis alvos pela PF. Esse foi o caminho que possibilitou a operação desta terça.
Os presos, informou Galli, foram cooptados pelos crime organizado de diferentes modos. “Havia funcionários específicos que foram contratados já para fazer a atividade. E existiam outros funcionários que, no decorrer da prestação de serviço, eram cooptados para desempenhar as atividades dentro da organização criminosa”, disse.
“Eles eram de várias empresas terceirizadas, não tinha uma especificação. Aparentemente (as empresas) não suspeitavam. A gente vai fazer uma comunicação a elas, de que os funcionários foram presos, mas em princípio elas não estiveram envolvidas”, acrescentou.
Os policiais federais cumpriram mandados expedidos pela 5ª Vara da Justiça Federal em Guarulhos. Além dos 23 mandados de prisão preventiva, foram 24 de busca e apreensão. Além de Guarulhos, as medidas ocorreram também na capital paulista, em Sorocaba e em Praia Grande. E também em Portugal, onde um dos mandantes estaria. Os investigados serão indiciados pelos crimes de tráfico internacional de drogas e associação para o tráfico, cujas penas variam de 10 a 25 anos de prisão.
Procurada, a GRU, concessionária responsável pelo aeroporto, disse que informações sobre a operação serão repassadas pela Polícia Federal. A operação ganhou o nome de Bulk, em alusão a um dos compartimentos de carga de aeronaves comerciais de longo curso: o bulk cargo, que fica no porão, perto da parte traseira da aeronave.