O PIONEIRO: Pedro Lacerda, da Coocrijapan, abate 180 jacarés/dia

Reza a lenda não ser muito adequado ficar distraído perto desses bichos, certamente mais bravos e perigosos que outros animais de criação. Contudo, a verdade é que a criação de jacarés no Pantanal Mato-Grossense está se tornando um negócio da China. A história é tão promissora que está atraindo ex-pecuaristas da região, como Osmar Monteiro, que vendeu todo o seu gado no Pará e entrou de cabeça na nova atividade. Investiu pesado, cerca de R$ 500 mil, em uma propriedade toda adaptada e conta com 17 mil jacarés em cativeiro. Os animais, que chegaram a um custo quase zero, serão vendidos em cerca de dois anos, gerando um lucro expressivo ao criador. Só com a pele, deve faturar cerca de R$ 70 por jacaré. Ou seja, mais de R$ 1,1 milhão. A carne, antes um subproduto, também será vendida. O criador ainda não sabe quanto vai ganhar com o novo alimento que começa a ganhar status de iguaria. “Deve aumentar bem o faturamento.

Mas só a venda do couro já é suficiente para pagar o investimento”, afirma.

Mal começou, Monteiro já está expandindo o negócio. Nos próximos meses a fazenda ganhará um novo viveiro para aumentar a capacidade e, num futuro próximo, um curtume para tratar o couro e agregar valor aos produtos também será construído. Investimento: R$ 620 mil. “Vamos tratar duas mil peles por mês, mas não vai atender nem a demanda interna”, diz.

Assim como outros criadores da região, Monteiro utiliza o frigorífico construído pela Coocrijapan – Cooperativa dos Criadores de Jacaré do Pantanal, comandada por Pedro Lacerda, para abater seus animais. O local, com capacidade para abater até 180 jacarés por dia, trabalha de uma forma praticamente artesanal, tudo para não danificar o couro.

Já Ernani Segatto, que trabalha com a venda de couro de jacaré desde 1992, abateu cerca de 20 mil animais no ano passado e exportou tudo para a China e Estados Unidos. “É um mercado garantido. Eles compram nossa matéria-prima para fazer artigos de luxo”, conta ele, que acaba de fechar um contrato de US$ 1 milhão com os chineses pela venda de 30 mil couraças até 2010.

CADEIA COMPLETA: Monteiro, que antes trabalhava só com a venda do couro de jacaré, agora deve aumentar seu faturamento com a distribuição da carne, processada no frigorífico da Coocrijapan

É LEGAL? – Uma vez por ano, grupos de fazendeiros percorrem o Pantanal em busca de ovos de jacarés. Andam milhares de quilômetros atrás dos ninhos e, quando encontram, retiram parte dos filhotes e os transferem para suas propriedades. Lá, os animais são confinados aos milhares em tanques apropriados, protegidos do sol, e recebem comida à vontade. Depois de dois anos, são abatidos, trazendo grandes lucros aos criadores. Parece contraditório, mas toda esta operação é autorizada pelo Ibama. Mesmo que pareça confuso, há uma boa explicação.

Principal símbolo do Pantanal, o jacaré estava até pouco tempo atrás na lista de animais em risco de extinção. O problema nunca existiu de fato, mas a precaução fez com que o número de animais explodisse nos últimos anos. Hoje, o excesso de jacarés é até um problema para os pantaneiros, por isso, o Ibama passou a liberar alguns fazendeiros da região para trabalhar com a criação comercial do réptil. No início, apenas o couro interessava, mas agora, depois de muitos estudos, a carne também foi certificada. Com o SIF em mãos, os produtores agora querem difundir a carne de jacaré Brasil afora.

A atividade teve início há pouco mais de uma década, época em que os criadores só queriam saber do couro, muito valorizado no mercado internacional. A carne, tida como subproduto, era distribuída – e muitas vezes doada – dentro de Mato Grosso. A virada se deu após a chegada do Sebrae, que organizou os produtores e mostrou o potencial da carne de jacaré, mais nutritiva e menos calórica que as carnes de boi, frango e porco, as mais consumidas no Brasil. Hoje, existem mais de 250 mil jacarés em cativeiro no Estado, num negócio que só tende a crescer.