Quanto produz um hectare de soja no Brasil? Segundo o Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), a resposta tradicional de três mil quilos por hectare, ou 50 sacos de 60 quilos como média do País, nos últimos anos, pode estar com os dias contados. O Cesb reuniu em Cuiabá (MT), entre os dias 11 e 14 de junho, mais de 600 produtores de todo o País, para o 6º Congresso Brasileiro de Soja. A pauta principal do evento mato-grossense foi a apresentação das experiências dos ganhadores do prêmio Desafio Nacional de Máxima Produtividade, um concurso lançado pelo comitê na safra 2008/2009 para monitorar no campo como se comporta a produção da oleaginosa. Alguns dos vencedores da edição deste ano chegaram a volumes de produção de soja superiores a 100 sacos por hectare. A produção é duas vezes superior à média nacional da safra 2011/2012, de 44,1 sacos por hectare, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em seu nono levantamento apresentado no início de junho.

 

 

 

Nilson Caldas, diretor de marketing do Cesb e da Basf, em São Paulo, diz que o desafio tem atraído os produtores porque prova que é possível produzir mais e melhor. “O que mostramos não é a produção de um campo experimental, mas sim o que ocorre nas propriedades”, diz. Para participar do desafio de produção proposto pelo Cesb, o agricultor precisa determinar na sua lavoura uma área de plantio entre cinco e dez hectares. Essa área passa a ser monitorada pelos técnicos do Cesb que visitam as propriedades e depois acompanham a colheita do grão. Participaram da edição deste ano 1.314 agricultores, de 407 municípios, em 14 Estados. “Na primeira edição do desafio foram apenas 140 agricultores”, diz Caldas. A produtividade das fazendas também cresceu. Do primeiro desafio, lançado pelo Cesb na safra 2008/2009, para o atual, o crescimento médio da produtividade das cinco fazendas top foi de 24%. Esse grupo de elite passou da média de 81,4 sacos por hectare para os atuais 101,1 sacos por hectare.

O Cesb nasceu da reunião de 16 pesquisadores de diversas áreas ligadas ao agronegócio. Em 2009, eles registraram a entidade como uma organização de interesse público (Ocisp) e ganharam o apoio de quatro grandes empresas: Basf, Syngenta, Monsanto, da área de produção de sementes e defensivos, e a Totvs, especializada em tecnologia da informação. Também conseguiram o apoio de 13 instituições, entre elas a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Associação Brasileira de Produtores de Soja e a Associação Brasileira de Sementes e Mudas. Para o presidente do Cesb, Orlando Martins, da Consultoria SNP, de  Dourados (MS), é preciso uma revisão nos modelos atuais de produção. “Se processos agrícolas forem organizados é possível melhorar os níveis de produtividade da soja”, diz Martins.

 

 

Os pesquisadores da entidade propõem dez passos para ajustar a produção de uma fazenda (veja quadro). “Não há segredo”, diz Caldas. “Hoje, há tecnologia suficiente para aumentar a produtividade das lavouras.” Para ele, a estabilidade económica tem motivado investimentos em inteligência competitiva e o País poderia saltar da média histórica de três mil quilos de soja por hectare para a faixa de 4,5 mil a cinco mil quilos, ou seja, ir para a casa de 80 sacos por hectare. “O que o produtor precisa é usar a tecnologia no momento adequado e da maneira correta”, afirma. “Ele pode, por exemplo, jogar adubo fora, desperdiçar sementes, ou fazer o contrário e nem perceber.”

Nilson Caldas: “Não mostramos algo experimental, mas sim o que ocorre de verdade nas propriedades”

 

Na região Sul, o vencedor foi o agricultor Ely de Azambuja Germano Neto, que também conquistou o segundo lugar em nível nacional. Ele produz soja na fazenda Mutuca, em Arapoti, no Paraná, polo produtor de grãos a 230 quilômetros de Curitiba. Na área separada para participar do desafio Germano Neto colheu 103,1 sacos de soja por hectare. “Não somos mágicos, não fazemos truque, fazemos apenas o certo”, diz Germano Neto.

Germano Neto: “Não somos mágicos, não fazemos truque, fazemos apenas o certo”

 

Agrônomo formado em 1983, Germano administra a fazenda da família, de 2,5 mil hectares de área de cultivo. A soja ocupa 1,7 mil hectares na safra, em sistema de plantio direto. Germano Neto diz que reservou para participar do desafio uma área de terra excelente. “É uma área de solo com muita palha e fiz um monitoramento fino, não deixando faltar nenhum nutriente que pudesse prejudicar o desenvolvimento da planta.” Na fazenda, há áreas abertas para a agricultura que vão de 18 a 30 anos, nas quais é utilizado o plantio direto. “O solo da área em que ganhei o desafio tem uma estrutura excelente”, diz. “Para mim, o solo é a boca da minha lavoura. Posso até deixar de investir em máquinas, mas no solo, jamais.”

Reunião Cesb

 

O investimento da fazenda Mutuca tem dado frutos. A produtividade média da soja é 75 sacos por hectare. A média de colheita na região é 60 sacos. No fim de junho, o preço da soja na região era de R$ 60 a saca. Caldas diz que o próximo passo do desafio de produtividade será incorporar o monitoramento do custo de produção, como faz Germano Neto. “Vamos casar a tecnologia sustentável com o seu custo”, diz Caldas. Além de Germano Neto, foram premiados produtores das regiões Sudeste, Centro-Oeste e do Norte/Nordeste, de onde saiu a maior produtividade por hectare. No município de Correntina, no oeste da Bahia, o agricultor Demétrio Guimarães Parreira fez 108,7 sacos por hectare em área não irrigada. Todos ganharam uma viagem técnica aos Estados Unidos.