Com cerca de 95% do trigo do Rio Grande do Sul colhido, está praticamente confirmado o prejuízo em cerca de 58% da safra gaúcha causado pela chuva. Mesmo com os moinhos estocados, produtores do Paraná apostam em alguma recuperação nos preços, pela quebra e o câmbio que deve dificultar as importações. “Nunca torcemos para que haja quebra de safra, mas os preços agora podem ficar mais ajustados”, diz o gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Sistema Ocepar) e presidente da Câmara Setorial das Culturas de Inverno, Flávio Turra.

Qualidade

“A colheita gaúcha foi pior do que se imaginava, horrível”, conta o presidente da Comissão de Trigo da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Jardim. Das 3,1 milhões de toneladas previstas, devem restar 1,8 milhão e destas, apenas 600 ou 700 mil toneladas terão qualidade suficiente para panificação. Até o dia 20 deste mês os resultados estarão completos.

“Os leilões Pepro [Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural] ajudaram no início, mas agora o valor de equalização toma por base o preço mínimo do trigo de menor qualidade que não remunera bem. Nos reunimos semana passada em Brasília e elencamos uma série de pleitos pois os prejuízos ultrapassam R$ 1 milhão”, diz.

No Paraná, maior estado produtor da cultura, as únicas ocorrências deste tipo aconteceram de maneira localizada, ao oeste, que fez com que as a produção passasse de 4 milhões de toneladas para a média de 3,8 milhões. “Há indicação de que a safra brasileira seja reduzida para seis milhões de toneladas”, estima Turra.

Mercado

Para o período de 2014/2015, está autorizado pelo governo argentino a entrada de 1,5 milhão de toneladas do cereal, com o embarque iniciando-se a partir do próximo dia 15, e inclusive alguns contratos de importação já estão fechados. “Parte dos moinhos gosta do trigo argentino e alguns estão interessados neste mercado. Porém, a alta do dólar ajuda o produto brasileiro e os triticultores do Paraná, que não deram grandes relatos de perda na qualidade da produção, mostram retração na oferta afim de diminuir a liquidez do setor e atingir preços melhores”, explica a analista de mercado do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Rafaela Vieira. Para Turra, a expectativa do setor é que a indústria prefira o trigo paranaense, uma vez que a qualidade do cereal cultivado no norte daquele estado é superior a do país vizinho.

De acordo com o gerente da Ocepar, só no Paraná, 470 mil toneladas foram escoadas via leilão de Pepro, cerca de 60% do excedente nacional. Outros 35% eram provenientes do Rio Grande do Sul e os demais 5% de Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Para os próximos dias, a expectativa da analista do Cepea é que os preços tenham uma leve queda com a conclusão da colheita
gaúcha, após um período sem grandes alternâncias, com certa estabilidade.