A taxa de desemprego no País recuou na passagem do terceiro para o quarto trimestre de 2022 graças a uma redução na procura por trabalho, e não por uma geração de vagas, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A taxa de desocupação caiu de 8,7% no trimestre terminado em setembro para 7,9% no trimestre encerrado em dezembro, a menor desde o trimestre terminado em fevereiro de 2015, quando era de 7,5%.

“Essa retração da taxa está mais relacionada a uma redução na procura por trabalho, até porque a ocupação ficou estável”, ressaltou Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento no IBGE.

Contrariando uma tendência sazonal, o quarto trimestre de 2022 não foi marcado por uma geração de vagas de atividades como o comércio e serviços pessoais, que incluem aqueles prestados às famílias, como salão de beleza e academia.

“É a primeira vez que não houve um crescimento da população ocupada no comércio desde 2015. Esse quarto trimestre, de fato, pode ser considerado relativamente atípico para o comércio”, disse Beringuy.

A coordenadora do IBGE menciona que pode haver diferentes fatores por trás do fenômeno, como endividamento elevado, redução no consumo das famílias, menor acesso ao crédito, além do desempenho da Black Friday, a realização extraordinária da Copa do Mundo no fim do ano e uma expectativa mais morna dos comerciantes sobre as vendas.

“Endividamento das famílias, acesso ao crédito, isso pode afetar sim”, disse ela. “O que a gente tem de concreto é que o comércio não foi fator que contribuiu para o crescimento do trabalho no quarto trimestre.”

A série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012, mostrou que foi a primeira vez que um quarto trimestre não mostrou expansão da ocupação no comércio.

“De fato, em termos de absorção de trabalhadores, foi o pior quarto trimestre do comércio”, confirmou Beringuy.

Na passagem do terceiro para o quarto trimestre de 2022, o comércio demitiu 45 mil trabalhadores, enquanto o segmento de outros serviços dispensou 59 mil pessoas.”Outros serviços, que são fundamentalmente serviços prestados às famílias, também não aumentaram a ocupação no quarto trimestre de 2022″, constatou a coordenadora do IBGE.

Contato: daniela.amorim@estadao.com