No mês passado foi dado mais um passo para que o Conselho dos Produtores de Laranja e das Indústrias de Suco de Laranja (Consecitrus) saia do papel. O órgão, criado em abril deste ano para regular o preço da fruta pago pela indústria ao produtor, a exemplo do que já acontece com a cana-de-açúcar, concluiu no mês passado um documento chamado Modelo Consecitrus, no qual está um levantamento de como serão compostos os custos na cadeia produtiva. Segundo Christian Lohbauer, presidente da CitrusBR, a entidade que reúne os exportadores de suco, o modelo prevê a divisão dos riscos do negócio entre a indústria e o produtor. “O modelo ajuda a programar as safras da fruta porque monitora a real demanda do mercado”, diz Lohbauer. Mas não parece que será fácil essas cotações passarem a nortear o mercado no País.

O Modelo Consecitrus foi enviado ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e, na sequência, vai para o Ministério da Agricultura (Mapa), responsável pela sua aprovação. O Cade exige que o conselho seja formado por um representante da indústria, no caso a CitrusBR, e um representante dos produtores. E aí começa a confusão.

A Federação da Agricultura e Pecuária de São Paulo (Faesp) e a Associação Brasileira dos Citriculto-res (Associtrus) não participaram da criação do Consecitrus e não aprovam o estudo enviado ao Cade. Nas duas ocasiões, quem tomou a frente para representar os agricultores foi a Sociedade Rural Brasileira (SRB), indicando para dirigir o Consecitrus o ex-secretário de Agricultura de São Paulo João Sampaio. Ou seja, para a SRB ter a maioria dos produtores representadas no Consecitrus, ela precisa da Associtrus e da Faesp.

Segundo o agrônomo Alexandre Mendonça de Barros, da consultoria MB Agro e professor da Fundação Getulio Vargas, de São Paulo, responsável pela elaboração do documento, o processo no Cade dá a oportunidade para que todos os setores, sem exceção, sejam ouvidos. “Durante a tramitação no Cade todos podem enviar sugestões”, diz Mendonça de Barros. “Mas o Modelo Consecitrus mostra como foram montadas as referências de preços e elas estão bem alinhadas com o que ocorre no setor.” Na primeira simulação de como seria balizado o preço de uma caixa de laranja de 40,8 quilos, Barros usou como referência o mês de julho. O produtor rural receberia R$ 9,64 por caixa. Com custo de produção de R$ 8,63, o lucro seria de R$ 1,01. Já os processadores de suco, com custo industrial de R$ 7,63 por caixa, teriam um lucro de R$ 2,01.

Para compor os valores de referência, o modelo também leva em conta os preços dos subprodutos da laranja, como óleos e polpa cítrica, além das cotações dos engarrafadores de suco.

Flávio Viegas, presidente da Associtrus, já declarou que não concorda com o modelo apresentado pela MB Agro. Para ele, o custo de produção dos agricultores foi subvalorizado na simulação, enquanto os custos industriais estão mais altos que os atualmente praticados. Segundo ele, para produzir uma caixa de laranja, os produtores estão gastando acima de R$ 13 por caixa. “Não adianta falar que os citricultores brasileiros não têm eficiência”, diz Viegas. “Nossos pomares são mais produtivos que os pomares americanos.” Mesmo com divergências, Sampaio acredita que dentro de três anos todos os contratos de venda de laranja à indústria serão baseados no Modelo Consecitrus. “A maioria dos produtores tem contrato de até 36 meses com as indústrias. Vencido esses contratos, a preferência será pelos filiados ao Consecitrus”, diz Sampaio. “O Mapa vai usar o bom-senso para aprovar um modelo que funcione.”