26/06/2021 - 12:45
Envolvido na investigação sobre a compra da Covaxin, o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR), foi autor de uma emenda parlamentar que facilitou a compra dos imunizantes e ameaçou, em entrevista ao Estadão, “enquadrar” a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para acelerar o aval às vacinas. À época, ele disse que a diretoria da agência estava “fora da casinha” e em seguida articulou a aprovação da medida provisória que abriu as portas para a entrada mais rápida de vacinas estrangeiras. As declarações abriram uma crise no governo.
O deputado bolsonarista Luís Miranda (DEM-DF) relatou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid nesta sexta-feira, dia 25, que, ao denunciar possível corrupção na aquisição dessa vacina, ouviu do presidente como resposta que era “rolo de um deputado”. Depois da insistência dos senadores em saber quem era o parlamentar, Luís Miranda declinou o nome de Barros.
“Foi o Ricardo Barros que o presidente falou. Foi o Ricardo Barros. Eu queria ter dito desde o primeiro momento, mas vocês não sabem o que eu vou passar”, afirmou Luís Miranda. “Que presidente é esse que tem medo de pressão de quem está fazendo o errado? De quem desvia dinheiro público de gente morrendo por causa dessa p… de covid.”
Barros negou ser o deputado citado pelo presidente. “Não participei de nenhuma negociação em relação à compra das vacinas Covaxin. Não sou esse parlamentar citado. A investigação provará isso”, escreveu o líder do governo, no Twitter.
Engenheiro e empresário, Ricardo Barros foi prefeito de Maringá (PR), sua cidade natal, e é casado com a ex-governadora do Paraná Cida Borghetti, nomeada recentemente pelo presidente Bolsonaro como conselheira de Itaipu Binacional. Ele foi eleita vice-governadora na chapa do ex-governador Beto Richa (PSDB).
Deputado federal desde 1995, Ricardo Barros foi companheiro de bancada de Bolsonaro no PP e vice-presidente e tesoureiro do partido, um dos principais do Centrão. Antes, foi filiado ao PFL, atual DEM.
Antes de servir a Bolsonaro no Congresso, também representou os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, como líder; Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos como vice-líder. Em 2016, foi nomeado ministro da Saúde pelo então presidente Michel Temer, em acordo com o Centrão, depois de apoiar o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Como ministro, Barros teve uma relação conflituosa com a Anvisa. Em 2019, o Ministério Público Federal moveu ação contra Barros por causa de um contrato de cerca de R$ 20 milhões fechado na gestão dele, mas cujos medicamentos não foram entregues porque a Anvisa barrou a importação. A compra era para remédios de alto custo que nunca chegaram às mãos de pacientes de doenças raras. A empresa fornecedora era a Global Gestão em Saúde, sócia da Precisa Medicamentos, que representa o laboratório indiano Bharat Biotech, fabricante da Covaxin, no País. Ambas têm como sócio o empresário Francisco Maximiano, alvo da CPI.
Ricardo Barros foi delatado como destinatário de supostas propinas pagas por empreiteiras na forma de doações de campanha. O caso é investigado na Operação Lava Jato. Ele sempre negou irregularidades. No Congresso, foi um crítico do ex-juiz Sergio Moro e da Força Tarefa do Ministério Público Federal. E também relatou a Lei de Abuso de Autoridade.
Ao Estadão, ele também defendeu a alteração na lei de improbidade administrativa para permitir a contratação de parentes no serviço público, o nepotismo. No início do mês, em nova crítica ao Judiciário, disse que se aproxima o momento em que os demais poderes vão deixar de cumprir determinações da Justiça.
“O Judiciário vai ter que se acomodar nesse avançar nas prerrogativas do Executivo e Legislativo. Vai chegar uma hora em que vamos dizer que simplesmente não vamos cumprir mais”, disse Barros. “Vocês cuidam dos seus que eu cuido do nosso, não dá mais simplesmente para cumprir as decisões, porque elas não têm nenhum fundamento.”