Quando se trata de mercado futuro, quase todo mundo tem um palpite, mas poucas pessoas entendem como funciona de fato. O hedge é um dos “palavrões” deste mercado e significa cerco, defesa. É uma ferramenta para o agricultor reduzir os riscos e focar em sua cultura. Em outras palavras, o produtor compra ou vende um contrato de um determinado produto para manter uma certa margem de lucro e proteger-se das variações bruscas dos preços. “Ele já tem o risco do negócio dele, a idéia é que ele faça um derivativo para poder concentrar-se só na sua atividade principal”, diz Jordão Resende, analista financeiro da consultoria ABM Consulting.

José Francisco Pereira, diretor-geral da Fazenda Monte Alegre, é um exemplo de cafeicultor que faz uso desta ferramenta. “Quando vendemos o café, fixamos o preço em dólar para entrega e recebimento futuro. Fazemos o hedge da cotação desse dólar para não correr o risco cambial”, explica. Dessa forma, Pereira se protege de uma eventual queda no preço da moeda americana. Caso na data de vencimento do contrato o valor do dólar estiver abaixo do estipulado, a perda será compensada pelo ganho financeiro na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). (Ver gráfico ao lado). Exemplo hipotético: o produtor Y sabe que daqui a três meses precisará comprar insumos cotados em dólar. Por seus cálculos, chegou à conclusão de que o dólar a R$ 1,70 viabilizaria sua compra. Mas receia que possa haver uma oscilação cambial e resolve fazer um hedge de câmbio. Então

faz um contrato de compra fixando o dólar em R$ 1,70 e, daqui a três meses, compra o dólar no preço que estabeleceu. “Se o dólar aumentar, ele não terá desvantagem. Se abaixar, deixará de ganhar mais. De qualquer forma, ele elimina as duas possibilidades: vantagem e desvantagem”, explica Resende.

Antes de entrar no mercado futuro, o agricultor deve fazer uma avaliação de seu negócio. “A primeira questão que precisa responder é quanto tem de capital para bancar os ajustes diários”, diz Pedro Valentim Marques, professor de mercados futuros da Esalq – USP Piracicaba. Funciona assim: se o produtor fixou o dólar a R$ 1,70 e naquele dia a cotação caiu, ele vai receber a diferença; se a cotação aumentar, ele paga a diferença. No entanto, o professor lembra da situação de endividamento do agricultor, que muitas vezes os deixa sem outra opção a não ser optar pela venda antecipada e garantir o custeio da produção. Mas, para aquele que tem um certo capital, o hedge é uma ótima ferramenta para garantir o lucro mínimo, mesmo porque, se as circunstâncias não estiverem favoráveis, o produtor pode liquidar o contrato e sair da bolsa. “Imagina como é dar crédito a um setor em que a renda esperada pode desaparecer por conta do clima”, diz José Carlos Vaz, diretor de agronegócio do Banco do Brasil, referindo-se à agricultura. Por isso, o Banco do Brasil tem dado preferência a conceder crédito de custeio rural a produtores que fazem proteção contra o risco de queda de preço no mercado de derivativos. O primeiro passo para aplicar neste mercado é escolher uma corretora idônea.

Mas é preciso cautela: operações financeiras podem levar a prejuízos. Um exemplo disso foi a perda de US$ 760 milhões da Sadia. A empresa apostou na tendência de queda do dólar. Fez um hedge de venda fixando o dólar no patamar de R$ 1,8 e foi surpreendida pela alta repentina da moeda americana. “Tecnicamente a operação foi correta, ninguém esperava a alta. O erro foi o contrato ter sido feito por um período muito grande, de um ano, em vez de seis meses”, explica Marques. No entanto, para quem tiver prudência o hegde pode ser um aliado a seu favor.

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